O TECELÃO DE PAISAGENS (LIVRO-MÚSICA/1986)
O SURGIMENTO DA GRAVADORA ARTE DEGENERADA E O PRIMEIRO LIVRO-MÚSICA: “O TECELÃO DE
PAISAGENS” (MARÇO DE 1986).
"The Landscape Player" (O Jogador de Paisagem"), pintura de Fergus Hall, que consta na capa da coletânea "The Young Persons' Guide To King Crimson", da banda inglesa, King Crimson. Foi essa pintura que influenciou o título do Livro-Música "O Tecelção de Paisagens", de 1986.
Após eu terminar de produzir os primeiros cinco livros da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum), mostrei os mesmos para alguns amigos. Alguns riram e acharam ridículo, outros acharam muito bom e criativo. Fora os amigos que eu já citei acima, em 1984 eu conheci mais três: Marcelo Lima, Jofre Jacó de Freitas e Cláudio Coimbra. Através do Marcelo eu conheci o Ruidevaldo, conhecido também como Culito Lopes (apelido dado em homenagem ao cantor paraense Frankito Lopes). Essas pessoas, juntamente com o Douglas e com o Heitor, tiveram uma presença constante em minha vida durante os anos que se seguiram.Páginas do Livro-Música "O Tecelão de Paisagens", de 1986. Foi o que restou da edição original.
Eu não lembro exatamente quando aconteceu, mas foi provavelmente por volta de março de 1986. Através do Marcelo e do Jofre eu conheci Carla Morrison, que estudava no Núcleo Pedagógico Integrado (N.P.I.). Todos estudavam na época no N.P.I. O N.P.I. era o melhor colégio de Belém na época. Eu já estava na Universidade. Eu lembro que aconteceu uma festa na casa da Carla. Foi nesta festa que eu descobri que ela tinha um teclado que reproduzia o som de vários instrumentos musicais (piano, órgão, flauta e outros instrumentos), e que também tudo isso poderia ser gravado no aparelho de som dela. Logo após a festa, eu apareci na casa da Carla com o intuito de gravar algumas músicas ou sons diversos, usando o teclado dela. Eu não sabia tocar piano, órgão ou flauta. Portanto, eu tinha que inventar as músicas. Não havia tempo para aprender ou para ensaiar. Todas as músicas eram compostas e gravadas na mesma hora. Eu dizia para a Carla: “Liga o deck”, e eu simplesmente começava a tocar. Eu gravei duas fitas cassetes. Após isso, eu voltei para a minha casa e comecei a montar um estúdio de gravação. Eu fui até a casa de um vizinho (que hoje mora na Califórnia, Estados Unidos) e pedi emprestado o amplificador que ele tinha na época (eu já usava captador no violão). Depois, fui até a casa do Marcelo e pedi emprestado o aparelho de som que ele tinha. Na minha casa, eu tinha mais dois gravadores. Com tudo isso em mãos, eu montei o estúdio e gravei o primeiro Livro-Música que eu fiz e produzi: “O Tecelão de Paisagens”. Eu chamei aquilo de Livro-Música porque eu quis dar mais ênfase à idéia de que aquilo não era um álbum de música e sim um livro de poesia em que a música atuava como se fosse uma espécie de trilha sonora. Dessa vez, o livro teve o formato da capa de um álbum comum (Lp, vinil). Eu fiz o modelo usando a capa do álbum Rubber Soul, do Beatles.
O Livro-Música
“O Tecelão de Paisagens” teve uma certa influência de grupos ingleses mais
recentes, como o Joy Division e o Bauhaus. Nessa época, Heitor Meneses estava
muito interessado nessas e em outras bandas inglesas mais recentes e me passava
as informações que descobria sobre elas. A primeira música do Livro-Música “O
Tecelão de Paisagens”, cujo o título é “Geração”, tem um prólogo logo no
começo. É o início da composição “Tocata e Fuga
Com a
conclusão do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, tornou-se necessário criar
uma editora musical ou gravadora. Deste modo, surgiu a Gravadora ARTE
DEGENERADA, parte integrante da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum). Eu
não lembro de onde eu tirei este nome. Provavelmente, eu tirei esta expressão
de algum livro que falava sobre o nazismo, pois “Arte Degenerada” era a
expressão que os nazistas usavam para denominar a arte moderna e a arte feita
por judeus.
hhh
O
TECELÃO
DE
PAISAGENS
MARCO ALEXANDRE
DA
COSTA ROSÁRIO
%
%ÿPOESIA, MÚSICA & PINTURA¯ %
%
Um Livro-Música da
EDITORA MORANGOS
& UVAS
(SEACULUM OBSCURUM)
*BLITZBUCH*
1986
SUMÁRIO
(PRÓLOGO)
PARTE I
GERAÇÃO
ORNAMENTO
A ILHA
NO FRÊMITO DOS
VENTOS INTERIORES
OS SETE SÁTIROS
A DANÇA DAS LUZES
ETÉREO
A
CATEDRAL DO CORAÇÃO SILENCIOSO
(PRÓLOGO)
(Tocata e Fuga
Sombras no pátio da
catedral...
Antigos sonhos
enquanto a mulher
vestida de negro
engole a eternidade
em imaculada
insanidade
Eu a vi bebendo o
tempo
perto da Cruz
Lágrimas por si
mesma
junto ao pé da Cruz
PARTE I
GERAÇÃO
Link: poema-música "Geração", primeira música do Livro-Música "O Tecelão de Paisagens"/1986
GERAÇÃO
GERAÇÃO GERAÇÃO
Uma nova geração
nas portas da próxima salvação
GERAÇÃO
GERAÇÃO GERAÇÃO
Uma nova geração
ajoelhada perante a inevitável mutação
GERAÇÃO GERAÇÃO
GERAÇÃO
Pequena
flor-sol
Virgem
Ante o
silêncio
Das mãos do
monge
GERAÇÃO GERAÇÃO
GERAÇÃO
Uma nova geração
em uma nova expiação
GERAÇÃO GERAÇÃO
GERAÇÃO
Uma nova geração
em profunda gestação
com as mãos nas portas da salvação
Gritos infernais
Portões em chamas
Céu aberto
e a doce procissão
em volta das velas
enquanto o tempo passa por uma fresta de loucura
adormecida
GERAÇÃO GERAÇÃO
GERAÇÃO
As garotas
estão oferecendo suas entranhas e mistérios ao homem negro
enquanto o
tempo passa por uma fresta de loucura adormecida
Magnífico
cortejo!!!
Elas, agora
adormecidas em sonhos,
castram o
jovem embaixo do relicário
GERAÇÃO GERAÇÃO
GERAÇÃO
Uma nova Geração
nas portas da aflição
GERAÇÃO
GERAÇÃO GERAÇÃO
Uma nova geração
nos mistérios de uma nova gestação
ORNAMENTO
(De Todos os
Sonhos)
(Concerto Brandenburguês nº 3, em sol maior, Adagio
– J. S. Bach)
A Mulher no Jardim A Mulher no Jardim
Riu para os teus Sonhos Riu para os teus Sonhos
Convidando os teus olhos Implorando pela Derrubada
A entrarem num rio Azul de seu Castelo
A Mulher no Jardim Ela perdeu seu Reino
Riu para os teus Sonhos Ela perdeu sua Alma
A Mulher no Jardim Dama Burguesa
Riu para os teus Sonhos Sem Existência
Seios de Porcelana Barco Vazio
Mãos de Marfim No Rio da Demência
Olhos de
Safira Todos os
Sonhos
Lábios de Rubi Oriental Adormecidos
Beleza e Vazio Jazem Apodrecidos
Morte e Destruição Em Leitos de Ilusões
Para os teus Sonhos A Mulher no Jardim
Houve um Tempo em É um Rio em teus Olhos
Que
ouvias o Silêncio
Agora és
Conduzido ao Abismo
A ILHA
há uma Terra Além das Montanhas
há uma Terra Além do Oceano
há uma Ilha no Coração do Mar
Lá os homens estão mortos, Encantados por Feiticeiros
e Magos
Um homem de muitos dias Constrói um Barco
Há Castelos e Reis, Tesouros sem fim
E Ninfas para iludir Olhos humanos
Um homem de muitos dias Constrói um Barco
NO FRÊMITO DOS VENTOS INTERIORES
Eu vou caminhando sobre as
águas ao anoitecer
Pela floresta,
Milhares de espíritos
vagueiam
enquanto no rio dormem
botos e ninfas
em castelos esquecidos
antigos habitantes,
festas no círculo das flores
e pequenas borboletas
brancas
brincam na celestial
escuridão
Eu vou caminhando sobre as
águas ao anoitecer
Eu vou caminhando sobre as
águas ao anoitecer
Eu vou caminhando sobre as
águas ao anoitecer
Eu vou caminhando sobre as
águas ao anoitecer
*Poema reconstituído em 2002.
PARTE II
OS SETE SÁTIROS
Pequeno homem
Colhendo flores no campo
E então as harpas podem ser ouvidas
De muito longe
Pequenos habitantes
Das rochas e das folhas
E flautas tocadas com delicadeza
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
E flautas tocadas com delicadeza
E a garotinha é levada para as profundezas do rio
Adormecida adormecida adormecida
E pequenos passos em pequenos lençóis de seda
E pequenos senhores em
pequenos cavalos
Ela adormeceu em suas
pequenas folhas
e os sete sátiros tecem
estranhas canções
Iluminados pelo luar
E ela sabe onde está seu
coração
Mas a escura água do rio não mostra
não mostra
não mostra
não mostra
não mostra
não mostra
o
encantado festim
E flautas tocadas com delicadeza
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros...Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros
Sátiros...Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros
Sátiros...Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros
Sátiros...Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros
Sátiros...Sátiros
Sátiros Sátiros Sátiros
Sátiros Sátiros
E flautas tocadas com delicadeza
Mas a escura água do
rio não mostra
não mostra
não mostra
não mostra
não mostra
não mostra
o
encantado festim
*Poema reconstituído em 2002.
A DANÇA DAS LUZES
O leve balé dos sapos
Teve início em algum lugar escuro
na beira do rio
Bar onde borboletas estúpidas vão buscar o néctar
E todos nós completamente felizes
Um milhão de sapos
Dançando nas luzes
Dançando nas luzes
Dançando nas luzes
Você os viu?
Um milhão de sapos
Dançando nas luzes
Dançando nas luzes
Dançando nas luzes
E uma jovem mulher branca fica nua em meus sonhos
Cabelos Negros, Cabelos Negros, Cabelos Negros
E uma jovem mulher branca fica nua em meus sonhos
Cabelos Negros, Cabelos Negros, Cabelos Negros
E uma jovem mulher branca fica nua em meus sonhos
Cabelos Negros, Cabelos Negros, Cabelos Negros
E uma jovem mulher branca fica nua em meus sonhos
Cabelos Negros, Cabelos Negros, Cabelos Negros
Imaginário rio...
Tu que iluminas
Todas as agonias do dia
acolhe um milhão de sapos
Mortos no calor do sol
Um milhão de sapos
Dançando nas luzes
Dançando nas luzes
Dançando nas luzes
*Poema reconstituído em 2002.
ETÉREO
Sobrecopa Sombria Cólera
Vaga a Geração
Ilusão Prazeres
Respira
a Fragrância Enlutada Entre os Dias
da os
Cova Secular Devaneios da
Como Mãe-Terra
Um Constróem Muralhas de sonhos
Antigo e Feroz Oculta Desejos Fúnebres no
Ancestral
Tronco oco do Conhecimento
Nossos Risos Nossas Lágrima
Resplandecem Resplandecem
Como Como
Lágrimas Incandescentes Risos Incandescentes
Abaixo Abaixo
dos dos
Raios do sol Raios do Sol
A
CATEDRAL
DO
CORAÇÃO
SILENCIOSO
Apodrecimento Féretro
da da
Existência Existência
Reino Imaculado no
de Tumulto
Lágrimas da
Tão Profundo Audiência
e Marcha
Alucinado com
e Resistência
Agonizante ao
Tapete seu
de Heresias Destino
O Homem
é
Um
Abismo
Na Catedral,
De Cristal, jaz um Coração
Envolvido num Manto Escarlate
Por Longos Dias de Esquecimento
Enquanto o mendigo toca sua gaita no átrio
& Carros passam e cães latem
MÚSICAS
MÚSICAS DO
LIVRO-MÚSICA “O TECELÃO DE PAISAGENS” (compostas, tocadas e gravadas em março
de 1986).
1. Geração – (incluindo o Prólogo - Tocata e Fuga
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: piano, órgão, violão eletrificado, bateria eletrônica e
efeitos sonoros.
2. Ornamento (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: órgão, piano e efeitos sonoros (Concerto
Brandenburguês nº 3,
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: órgão.
4. No Frêmito dos Ventos Interiores (Marco Alexandre
Rosário).
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: violão, piano e órgão e
efeitos sonoros (teclados).
5. Os Sete Sátiros (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: piano, harpa nordestina e
violão eletrificado.
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: órgão, violão eletrificado,
piano, bateria eletrônica e efeitos sonoros (teclados).
7. Etéreo
(Marco Alexandre Rosário).
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: violões eletrificados e
efeitos sonoros.
Gravado em Belém, Pará.
Instrumentos: violão, órgão, gaita e
efeitos sonoros.
EDITORA MORANGOS & UVAS
(SEACULUM OBSCURUM)
EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM)
GRAVADORA ARTE
DEGENERADA
SÉRIE BLITZBUCH
(1984 – 1993)
(2002-2011)
O TECELÃO DE PAISAGENS
1ª EDIÇÃO: Março/1986
2 exemplares.
(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)
2ª EDIÇÃO: 2005
1 exemplar.
(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)
“Tudo o que é
esquecido
permanece em
sonhos obscuros do passado...
ameaçando
sempre retornar.”
(Velvet
Goldmine)
Editora Ogmios (Seaculum
Obscurum)
Website:
www.seaculumobscurum.com
e-mail: editoraogmios@yahoo.com.br
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