Blog do Hektor

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sexta-feira, 26 de março de 2021

AMÁLGAMA - UMA COLEÇÃO DE OBSCENIDADES (COLETÂNEA DE POEMAS ESCRITOS ENTRE 1981 E 1993, QUE NÃO ENTRARAM NOS LIVROS E LIVROS-MÚSICA DA EDITORA OGMIOS, ESCRITOS NO MESMO PERÍODO).




Marco Alexandre Rosário em 1992, no quarto da casa da Travessa do Chaco onde a Editora Ogmios foi criada em 1984 (foto acima). Branquinho, o gato branco que foi encontrado na rua em 1992, na casa da Travessa do Chaco. Fotos tiradas em Belém-PA.



AMÁLGAMA

*

Uma

Coleção

de

Obscenidades

 

MARCO ALEXANDRE

DA

COSTA ROSÁRIO

 

%POESIA%

 

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

EDITORA MORANGOS & UVAS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

*BLITZBUCH*

2002 (1981 – 1993)


*   *   


SUMÁRIO

 

VER O SOL NASCER (1981)

 

O SONHO DE JOÃO (1982)

 

O CERCO DE ZÁCRATA (Setembro de 1986)

 

OS NÁUFRAGOS (Janeiro de 1987)

 

RUDOLFH BLUES (1986)

 

MISS ENEIDA (1989)

 

SENHORA UNIVERSAL (Segunda versão para Miss Eneida – 1990)

 

MULHERES NO FIM DA TARDE (1990)

 

chegando em São Francisco, California, em 07 de fevereiro de 1966...às 21:15 (1993)

 

PENIEL (1992)

 

ÚLTIMAS VOZES NOS PORTÕES DOURADOS (1989)

 

LUTECE (1992)

 

HOMEM- CACHORRO (1992)

 

TRAZENDO TODOS PARA SÃO FRANCISCO OUTRA VEZ (1990)

 

SENHORA DOS PENSAMENTOS DISSIMULADOS (1992)

 

JULHO DE 1999 (1992)

 

CIDADE BELÉM (1992)

 

O FANTASMA NO DESERTO (1991)

 

NO CLAUSTRO DA ÁGUA (1991)

 

TEMPESTADE (1990)

 

ECOS DA RUA (1986)

 

O LOUCO (1989)

 

RAINHA DA LUZ (1992)

 

OS RELÓGIOS

(Primeira Versão - 1992)

 

OS RELÓGIOS

(Segunda Versão - 1992)

 

OS RELÓGIOS

(Terceira Versão - 1992)

 

VÁ, MAS NÃO ME DEIXE (1990)

 

O OBSERVADOR DAS ESTRELAS (1992)

 

AMÁLGAMA

 Palavras Escritas Entre 1989 & 1992

 

TRAZENDO TODOS PARA ESTRADA NOVAMENTE (1992)

 

UMA NOVA CANÇÃO DE AMOR AO ÚLTIMO VIGILANTE NO TÚMULO DO FORASTEIRO (1989)

(Eu Fico Aqui... Tu Continuas por mim – Despedida do Rapaz que envelheceu e Não Retornará Jamais)

 

*   *   * 

 

- Sabe que poucos vampiros têm a energia da imortalidade? Morrem por sua própria vontade. O mundo muda. Nós não. Aí mora a ironia que finalmente nos mata. Eu quero que você faça contato com essa época.

 

- Eu? Você não vê? Eu não tenho época. Eu estou em constante desvantagem. Sempre estive.

 

- Louis...esse é o espírito da sua época. O coração de tudo. A sua descrença na graça é a descrença de um século inteiro.

 

- Mas os vampiros no teatro?

 

- Decadentes. Inúteis. Não refletem nada. Você sim. Você reflete a decepção. Um vampiro com alma humana. Um imortal com a paixão dos mortais. Você é belo, meu amigo. Lestat deve ter chorado quando o transformou.

 

 

 

(Entrevista com o vampiro – Interview with the Vampire)

 

 

 

 

VER O SOL NASCER

(1981)

 

  

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer
Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

 

 

Ver o Sol Nascer

Vontade de Viver

Ver o Sol Morrer

Vontade de Viver

* Letra (na verdade, somente o refrão) da música Ver o Sol Nascer, do grupo paraense Lesos & Loucos. Autores: Marco Alexandre Rosário e André Sarmanho.

 


O SONHO DE JOÃO

(1982)

 

Quando a noite chega,

o delírio avança sobre a praça.

Vestidos de cetim,

Baton e rouge.

 

João acorda e penetra num novo sonho,

e pensa em seu novo amante,

e pensa em seu novo amante,

e pensa em seu novo amante,

num novo sonho.

 

Sob as luzes dos carros

ele é a atração...

beijos de loucura

na pele morena.

 

 

Ele lança um olhar para um rapaz,

uma dança de liberdade na alma,

um fogo que jamais se apaga.

 

 

 

Mendigos cantam e choram e gritam,

putas conversam e bebem cerveja.

Mas ele aguarda a sua hora.

 

Então João penetra na noite...

Então João penetra na noite...

Então João penetra na noite...

Então João penetra na noite...

Então João penetra na noite...

Então João penetra na noite...

Então João penetra na noite...

 

 

Moonshine washing lines

Moonshine washing lines

Moonshine washing lines*

 

 

 

Nunca mais haverá outra noite

Nunca mais haverá outra manhã

Nunca mais haverá outro homem

 

Vestidos de cetim,

batom e rouge,

sangue e sonhos.

 

E João dança agora pelas águas do rio,

num colchão de nuvens,

o olhar voltado para um espelho quebrado...

 

vestido com lenços de cetim para sempre...

vestido com lenços de cetim para sempre...

vestido com lenços de cetim para sempre...

vestido com lenços de cetim para sempre...

vestido com lenços de cetim para sempre...

vestido com lenços de cetim para sempre...

vestido com lenços de cetim para sempre...

 

 

Moonshine washing lines

Moonshine washing lines

Moonshine washing lines

*Poema reconstituído em 2002.




O CERCO DE ZÁCRATA

(Setembro de 1986)


 

Ria, Ria,                                Ouve-me, Estrangeiro,

Mulher!                                 Homem alheio ao Tempo

Teu Filho                              que por estas terras passa:

Morreu.                                 Unta com pó os Corpos...

Pobre Maria!                        São teus os degenerados Olhos,

Nas Margens                       Faz Presente dos Gritos de Vitória,

do                                          Lança-os ao Esquecimento,

Tâmisa                                  pois desta Terra

Sepultou                               Ninguém mais do Rei

Seu                                        se lembrará,

Filho                                      Nem da Paz

Embaixo                               haverão de Recordar.

de um

Véu

de

Bombas.

New Generation!

No War!

Lie!

 

 

 

OS NÁUFRAGOS

 (Janeiro de 1987)

  

 

Agitam-se os Navegantes

Ante a Tempestade

Motim no Tombadilho

E vai a Nau

Descendo em Espiral

 

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

 

Rompe-se em Silêncio

   o Doce Martírio

                                    Entre as Vagas

Atravessando, Cegos, Frias

                                             Paredes Flácidas

E Vão Descendo

                         Em Espiral

 

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

 

Conchas Adornam suas

                                 Fundas Covas Oculares

Cedem ao Delírio Fúnebre

                               das Fúrias Marinhas

E Tingem o Rosto Pálido

              Com Ritos Tumulares

De uma Celebração

                               Acrílica

E Vão Descendo

                      Em Espiral

 

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

 

Em Harmonia Adormeceram

Em seus Vales de Lágrimas de Cristal

De Encantos Mágicos e Murmúrios Mortais

Onde Alucinações Teceram

                               os Melhores Cantos

                                                      do Verão

Trespassados por Recordações Antigas

De Mortalhas Marítimas

Agonia                      Horror

                               e

Imensidão                      Aquática

 

 

Valsa de Corpos Irreais

Seus Lábios

Em Pedras Azuis

Em Corais

Em Ramos de Pérolas

Em Orgias de Coros

E Vão Descendo

                         Em Espiral

 

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

Ao Fundo do Oceano

 

  

 

RUDOLFH BLUES

(1986)

  

mary, que tinha sobrenome alemão,

nua & absorvida nas luzes do estúdio.

mary, que tinha sobrenome francês

& chicotes & luvas & leques nas mãos.

 

dançando nas manhãs artificiais,

corpo-mármore,

esculpido pelas mãos de um morto

com os dedos no olho-fotográfico,

retendo uma fêmea instantaneamente para o mundo.

 

& seu único desejo era ser a playmate do ano.

 

mary, que tinha sobrenome espanhol,

& seu sexo bizarro & seu sexo barra-pesada,

vive nas paredes da prisão latino-americana,

entre brancos & negros & índios.

 

mary, que tinha sobrenome sueco,

surge nos muros & nos quartos,

em pinturas pornográficas,

salvando os fugitivos nas favelas.

 

mary, que tinha sobrenome...

imaculada absolvição de instintos,

concepção à cores para a revista...

enforcada pelo cordão umbilical da playmate do ano.

 

 

 

MISS ENEIDA

(1989)

   

A noite a chamava Miss Eneida, dama de conhecimentos...

recitava poemas para cultos e ignorantes

e uma noite sonhou ter sucesso na vida,

bebidas e mulheres, pouco trabalho,

e dias para rir e não chorar.

 

ociosos senhores que estão sentados nos bancos da praça

sem dinheiro e sem lugar para descansar...

todos a sonhar com o sucesso na vida,

bebidas e mulheres, pouco trabalho,

e dias para rir e não chorar.

 

e um dia ela poderia ter sido uma atriz de rock’n’roll.

e um dia ela quis ser uma cantora popular,

domiciliada e vivendo em belém do pará.

 

feto esquecido no coração da amazônia legal,

deixou os cabelos e a barba crescerem,

e encolhendo-se, flácida e enrugada,

sumiu na selva.

 

miss Eneida, miss Eneida,

desperte da própria morte.

miss Eneida, miss Eneida,

desperte da própria morte.

 

 

 

 

SENHORA UNIVERSAL

(Segunda versão para Miss Eneida)

(1990)

  

a noite a chamava de senhora universal, dama de conhecimentos.

lia a bíblia para índios e pobres...

uma noite sonhou ter sucesso na capital;

bebidas e mulheres, pouco trabalho,

e dias para não chorar.

 

ociosos senhores sentados nos bancos da praça

sem dinheiro e abandonados ao luar...

todos sonham também com o sucesso na capital;

bebidas e mulheres, pouco trabalho,

e dias para não chorar.

 

na caravana todos se foram e deixaram

o lugar onde nasceram,

em direção ao norte, para a capital,

do sol nunca se aproximando.

cortesã de beira de estrada,

nosso rubro desespero vieste consolar.

e um dia ela poderia ter sido uma atriz de rock’n’roll.

e um dia ela poderia ter sido uma cantora popular.

pai e mãe vivendo em belém do pará.

 

feto esquecido no útero da amazônia legal,

deixou os cabelos e barba crescerem,

e encolhendo-se, flácida e enrugada,

sumiu na selva,

arrastada para o labirinto da noite única.

 

senhora, senhora universal,

desperte da morte.

senhora, senhora universal,

desperte da morte.

 


 

 

MULHERES NO FIM DA TARDE

(1990)

  

Agarra o pau do teu homem,

é tudo o que resta do teu homem,

nem rios, nem beleza,

apenas carne e osso,

ruas e estradas,

os pés do assassino no assoalho.

agarra teu homem

como a vaca que és,

com tuas tetas arriadas e flácidas.

filhos subnutridos,

corpos sujos,

tão sujos que dão nojo

só de olhar para eles.

sujos e bonitos,

sangue brilhante nos lençóis,

esperma escorrendo na

pele clara e delicada do teu rosto.

máscara grotesca...

agarra teu homem...

agora que ele tem

o que quer e te ameaça com um riso e uma faca...

olhos que amedrontam,

mãos feias, marcadas.

 

agora que tens o teu homem,

lambe o corpo inteiro...

lambe o corpo inteiro...

lambe o corpo inteiro...

lambe o corpo inteiro...

 

 

 

chegando em São Francisco, Califórnia, em 07 de fevereiro de 1966...às 21:15

(1989)

 

ao amanhecer

   você levantou,

deixando o rosto da morte

                                                em seu travesseiro.

há algo de errado,

                               um vazio em suas visões,

ainda que o céu azul

                                      invada seus olhos cinzentos.

 

estou indo para são francisco

                   para são francisco, califórnia.

                   você não quer uma carona  

                   para ir à cidade dos sonhos?

 

 

O homem ferido pelo amor

                                                  anda pelas ruas sem direção.

realmente, a vida não vai durar muito

                                                  e você vai morrer com ela.

seria melhor, então, você fazer alguma coisa

                                                  antes que chegue a sua vez.

 

estou indo para são francisco

                   para são francisco, califórnia.

                   você não quer uma carona

                   para ir à cidade dos sonhos?

 

 

enquanto você vê a velha mulher índia

                             enxugar suas lágrimas com as pedras do chão,

muitos pássaros desejam voar

                             através do paraíso, rompendo a solidão,

e embora você não tenha perguntado meu nome,

                             eu lhe direi que Eu me chamo morte.

 

 

eu me chamo morte,

eu me chamo morte, em são francisco.

                               você não quer viajar em meus sonhos

                               para encontrar a vida através de mim?

 

 

Eu me chamo morte

                                      e estou indo para são francisco,

 

 

são francisco, califórnia, é esse o lugar

                           para viajar no verão,

e ainda que você tenha medo,

                           é melhor que o vazio que vejo em você.

 

 

Estou indo para são francisco

                    para são francisco, califórnia

                    você não quer uma carona

                    para ir à cidade dos sonhos?

 

            Sim, você quer uma carona

            para

                        escapar

                                               do

                                                           sonho

                                                                                   mortal

                                                                                                   da

                                                                                                          vidaaaaaaaa!

 

  

 

PENIEL

(1993)

  

E eu virei cantando e dançando

         e meu canto soará duro,

                            soará agonizante...

 

Num alucinante e arrogante

                            insistir pela vida,

afastando a morte,

 

e luto contigo

                     até a alvorada

e não te deixarei enquanto não me abençoares.

 

E eu virei cantando e dançando

                            e atravessarei a floresta

                                      e atravessarei o rio.

 

E eu canto para os mortos

                            que ainda respiram...

 

E eu canto para os derrotados,

   E eu canto para os vencidos,

      E eu canto para os fracos,

         E eu canto para os loucos,

            E eu canto para os amantes magoados,

 

E eu canto,

   Eu canto e danço,

                 Com flautas e harpas e tambores,

 

Enquanto arrebento sepulturas vivas,

    despertando os mortos

                               que ainda respiram...

Eu canto para os crucificados,

 

Eu canto numa terra onde as lágrimas são indefinidas.

 

 

Eu canto o amor

           para os que não

                   podem ser amados.

 

Eu canto para o órfão

                     que ainda tem

                                    uma mãe,

 

E eu canto e danço,

                    curando os ferimentos da mulher espancada,

 

E eu canto

                   para prostitutas, homossexuais e lésbicas,

 

Eu canto e danço,

                 atravessando a floresta,

                            entre feiticeiras e magos,

                                      entre espíritos,

                                               entre anjos e demônios.

   

Eu canto e danço

              em volta do grande vazio humano,

                    em volta da imensa dor humana.

 

E eu canto e danço,

meu canto soa duro,

                          soa agonizante,

 

numa alucinante e arrogante

         insistência pela vida,

 

afastando a morte.

 

Eu canto e danço na floresta

E eu canto para os mortos

que ainda respiram....

 

Canto para os derrotados,

         para os vencidos,

         para os loucos,

         para os amantes magoados.

 

E eu canto,

 

Eu canto e danço,

 

Enquanto abro sepulturas

vivas

e desperto os mortos

que ainda respiram...

 

Eu canto para os crucificados,

 

Eu canto numa terra onde as lágrimas são indefinidas,

 

Eu canto o amor

         para os que não podem ser amados,

 

Eu canto para o órfão que ainda tem mãe,

 

E eu canto e danço

                 Consolando a mulher espancada,

 

Eu canto

             para putas, bichas e sapatões.

 

Eu canto e danço

         no meio da floresta, entre feiticeiros e magos,

                                        entre espíritos,

                                        entre anjos e demônios.

 

Eu canto e danço

              em volta do grande vazio humano,

caindo sempre em espiral no abismo do ego de Deus.

 

há mãos humanas tocando as estrelas,

    há mãos humanas tocando a lua,

         há mãos humanas tocando o sol,

 

E não há ninguém que toque a terra.

 

E eu canto e danço

         sem ninguém ou com a multidão,

 

E eu canto e danço

                            para ser livre,

         mas os teus anseios de liberdade estão aprisionados.

E eu canto e danço

        para os negros e paralíticos,

 

E eu canto e danço,

        enquanto encarno minhas múltiplas faces,

 

Seja eu o bêbado, o louco, o poeta,

           o filósofo, o músico,

                             o advogado.

 

Eu canto e danço

              para o filho que nunca terei,

Eu canto e danço

              para o amor que jamais retornará...

Eu canto e danço.

 

Eu canto e danço

     para ver a vitória dos derrotados,

 

Eu canto e danço

     para ver a vitória dos vencidos,

 

Eu canto e danço

           numa terra sem nome,

Eu canto e danço

           numa terra...

Eu canto e danço

           para ser o amado que não pode ser amado.

 

Eu canto e danço

E eu luto contigo

                   para ver a alvorada em tua face,

e não te deixarei partir enquanto não me abençoares

                   para ouvires o meu canto.

 

 

  

ÚLTIMAS VOZES NOS PORTÕES DOURADOS (1989)

  

Coro: ôôôôôô!

           Salva-nos, Senhor!

           ôôôôôô!

           Salva-nos, Senhor!

       dos portões dourados

       onde vaga o rato

       e o tempo retrocede.

       dos portões de ferro

       da onde virá a ferrugem.

 

O comerciante: Anjos & Demônios

                        em meu jardim...

                        vozes comunistas atravessam

                        meus portões...

 

Um Anjo: força nos seja dada,

             pois a selvajaria

             toca a sinuosa & repelente

             pele de um verme.

 

Um Demônio: o senhor americano visitou minha casa.

                      derramarei o sol do meio-dia

                      em vossas ambições?

                      construirei templos & fábricas?

                      abrirei fendas temerárias em vossas almas...

                      há muito perdidas?

                      para consumi-las na estação sideral?

                      não tendes tanto valor para mim...

                      a energia vibratória na crosta de um verme...

                      nós domesticaremos a todos

                      quando os bons tempos vierem,

                      mas o medo que nos domina

                      será para o vosso deleite.

 

Um Fiel: muitos segredos

                                              muitas mentiras,

                                                                              muitas demolições.

A virgem encontrará seu marido ainda?

 

 

O Comerciante: Derramarei ainda minhas possessões?

                               o tumulto das máquinas...

                                                 será alguém

                                                          na porta?

                                                             num lugar?

                                                                      ainda haverá

                                                                               alguma dor?

                               Anjos e demônios

                                              em meu jardim.

 

Coro feminino: Salva-nos Senhor!

                               o demônio passou embaixo da cidade

                               e a serpente cumpre seu itinerário.

 


   

LUTECE

(1992)

  

Eu agora sou uma máquina

no desespero e na alucinação...

Amo uma mulher,

mas ninguém responde,

mas ninguém responde.

 

Eu agora caminho como uma máquina através da noite:

vejo um homem espancando, espancando,

uma mulher dentro do carro,

vejo outra mulher chorando,

despedaçada pela noite,

vejo o massacre.

A vida é dura...

é a mãe noturna.

é a mãe noturna.

 

Ela está chorando,

 

ela está chorando no motel,

ela está chorando no motel.

Que estranha mão é esta que toca seu corpo?

 

Ela não tem direção:

“Eu lhe trago cigarros e vinho.”

“Eu lhe trago roupas de cetim.”

“Eu lhe trago dinheiro.”

 


 

 

HOMEM- CACHORRO

(1992)

  

Durma em Paz! Estou aqui para proteger você.

Fique tranqüila! Ninguém entrará aqui.

Eu tenho esses músculos horríveis para assustar

qualquer um.

Tenho essas mandíbulas especiais para

morder alguém.

Se alguém entrar? Eu arranco seu abraço!

Se alguém sair? Eu arranco sua perna!

Não há motivo para você não dormir esta noite.

Você só tem que confiar em mim!!!!

 

mas não jogue muito longe o meu osso!!!!

não jogue muito longe o meu osso!!!

pois você terá que busca-lo.

 

Mulher Frágil! Manterei sua guarda!!

Mulher Vidro!!! Sou seu homem-cachorro.

 

mas não jogue muito longe o meu osso!!!!

não jogue muito longe o meu osso!!!

pois você terá que busca-lo.

 

 

 TRAZENDO TODOS PARA SÃO FRANCISCO OUTRA VEZ

(1989)

  

Eu estava na Terra do Fogo, na Patagônia,

quando vi um homem

correndo e fugindo de Wall Street.

Ele chegou perto e falou:

“Ei, rapaz! Podes me dar uma carona?

Tenho que fugir daqui. Ontem a noite pisei na lua!!

Mas hoje dei uma mancada e os índios

estão atrás de mim”.

  

Eu disse: “Ok, camarada, mas terás que arranjar um disfarce de índio!

É que Tatanka Yotanla e Tashunka Itcko

estão aí atrás, no caminhão e estamos subindo as

Américas. Mas, afinal, como te chamas?”

Ele disse: “Richard Nixon. Para onde vocês estão indo?”

Eu falei: É melhor pores teu melhor disfarce,

tua melhor máscara...

estou trazendo todos para São Francisco outra vez.

 

  

 

SENHORA DOS PENSAMENTOS DISSIMULADOS

(1992)

  

Apague a luz do seu quarto

e veja meu rosto refletido no seu espelho.

A luz do meu quarto está acesa

e você não está aqui.

Não poderá ver minhas lágrimas

e nem poderá ver que estou sangrando.

Agora seu aborto está com uma arma

apontada para sua mente.

Ele quer libertá-la de sua dor...

Sou eu, Senhora dos pensamentos dissimulados.

 

Você acha que pode destruir as promessas que fez

rasgando pequenos papeis e algo mais.

Mas suas palavras possuem energia.

Você está toda comprometida, garota.

Agora seu aborto está com uma arma

apontada para sua mente.

Ele quer libertá-la de sua dor...

Sou eu, Senhora dos pensamentos dissimulados.

 

Você não tinha que se ocultar,

mostrar o que realmente não era.

Você deveria ter falado a verdade.

Você me viu desde o começo,

mas eu não vi você.

Agora seu aborto está com uma arma

apontada para sua mente.

Ele quer libertá-la de sua dor...

Sou eu, Senhora dos pensamentos dissimulados.

 

Não sei onde você vai buscar tanta ilusão,

tanta ambição, Senhora da Perfeição.

Tão rápida em apontar os erros dos outros e

incapaz de ver todas as feridas da sua alma.

Eu sei quem você é, sei de onde veio e

para onde vai.

Você é tão preocupada com o futuro.

Mas não há futuro nenhum para você.

Olhe esta gente toda rindo e bebendo e

olhe para o outro lado da rua,

olhe bem para os milhões de famintos.



JULHO DE 1999

(1992)

  

Sol que queima a pele,

inúteis insistências e ambições.

Você se afasta e se levanta da cama

como se não fosse mais se deitar...

inúteis promessas desfeitas.

Você parte em busca de risos que

se converterão em lágrimas outra vez.

Mas eu verei você novamente em julho de 1999.

 

Eu sou daqueles milhões

que aqui estão e aqui foram colocados

para não trazer a paz,

mas para dividir a casa,

colocando o marido contra a mulher

e a filha contra a mãe.

mas, eu não usarei mais

a coroa de espinhos, nem a cruz,

nem o pão e nem o vinho

em julho de 1999.

 

Você sabe, Jesus é Satã invertido.

E na verdade, o bem e o mal

somente habitam em mentes enfraquecidas.

 

Você sabe que tudo o que você toca

se desfaz em areia.

Mas você gosta disso,

e por isso você deve se juntar aos seus,

e agora que o Anjo fechou suas asas

há uma ferida na minha coxa esquerda,

e isso significa que não poderei mais ajudar você.

Mas, na confusão e no caos,

nas lágrimas e na dor,

eu estarei em paz

em julho de 1999.



CIDADE BELÉM

(1992)

  

Há uns trinta e três anos

cheguei a esse lugar

e demorei a entender

essa estranha mulher.

Senhora das Mangueiras!

Onde foi que perdeste teus filhos?

No cio da noite?

No cio da noite?

 

Cidade Belém

Cidade Belém

os forasteiros parecem te amar.

os forasteiros parecem te amar.

mas não os teus filhos,

mas não os teus filhos.

 

Eu posso jogar tuas sementes ao vento

E sei que nada brotará;

Eu conheço teu destino

E sei quando mentes.

 

Escorre o esperma no rosto da menina virgem,

quando todos os hereges estão de joelhos no motel.

 

  

 

O FANTASMA NO DESERTO

(1992)

  

Que distância imensa,

                                 Tão longe de casa.

                                             Aqueles imbecis ao redor da sepultura,

 

                     Tão frágeis quanto o morto.

 

estou tão distante de casa,

                                 gostaria de ver você por aqui,

uma sombra que se levanta,

                                             mil sombras que se levantam

                                                                                             na poeira.

e a escuridão envolve tudo...

 

mas eu não posso ver com os teus olhos,

só posso ver com os meus.

         estais só, como eu.

                     se respiras

                                       ou não

                                       isso não tem importância.

 

essa areia imensa,

         essa imensidão aquática...

                     que direção nos indica?

 

Aqui eu sento apenas, e apenas penso no

                                             que fui, e no que fiz,

nesse tempo dilatado,

                      estagnado.

Não, não sou um número

no meio desse infinito...

eu crio poemas...

 



NO CLAUSTRO DA ÁGUA

(1991)

  

A ordem nada pode gerar.

A desordem fará a ordem futura

para descendentes de uma época em declínio,

um ciclo numa semente,

os olhos da águia sobre

a cabeça do velho-lobo.

 

ir além da onde os olhos podem tocar,

num abismo, num fogo perpétuo,

e lá dançam os anões,

refletidos no sol poente.

o que gerou a razão foi

antes a paixão,

mas não a própria razão.

as pessoas jamais serão as mesmas

num poço insignificante para a razão,

um salto gigantesco para a alma,

no meio do caos, dos delírios

e abismos,

da peste e do assassínio,

nada em vão, nada por acaso.

 

um milhão de mortos,

uma centena de guerras,

ainda é pouco.

 

a maioria das criaturas

ainda hibernam no ovo cósmico,

sem comunicação com os outros,

mesmo nos sonhos.

 

As essências estão mudando

e então fujamos da cidade.

o fogo transforma-se em água, a água em ar,

e o ar em terra

e volta ao fogo,

de onde fora gerado...

a carne gera os ossos.

 

fogo na cidade,

e fogo para o renascimento da ave,

 

a intuição sobre o nada.

 

Agora, os olhos do velho homem

viram-se para as ondas...

há golfinhos na alma do novo,

há baleias cantando,

e o velho homem

é arrastado para o oceano,

agora convertido em universo.

 

para cada renascimento,

uma dor apropriada;

para cada verão

um inverno,

     e para cada rocha

encravada no cemitério,

 

uma flor entre as árvores do

bosque.


 


 

TEMPESTADE

(1990)

 

Para Regina Lúcia


o velho egoísta está partindo,

o velho egoísta está partindo,

levando suas reminiscências infantis,

levando-as para o vento.

memórias embrutecem, lembranças apodrecem,

o velho egoísta está partindo.

 

o assassino da obscura floresta está fugindo.

o assassino da obscura floresta está fugindo.

o sangue derramado no ventre nupcial

a terra devorou.

mortos ressuscitam; vivos caminham outra vez.

o assassino da obscura floresta está fugindo.

 

mulher, vem despertar teu homem.

mulher, teu homem está morrendo.

toca-lhe o corpo,

entrega-lhe a mente

na distância, ou muito perto.

mulher, vem amar teu homem.

 

o amor vive entre nós outra vez.

o amor vive entre nós outra vez.

o impulso da vida, a sensualidade exuberante,

a casa será reconstruída entre seus próprios escombros

cavalgando entre a liberdade e o amor.

 

cavalgando entre a liberdade e o amor,

cavalgando entre a liberdade e o amor,

cavalgando entre a liberdade e o amor,

cavalgando entre a liberdade e o amor,




ECOS DA RUA

(1986)

  

O silêncio quebrou o pulsar do coração vagarosamente,

esperando

as virgens persas

vindas do leste

atravessarem a noite num cavalo branco.

 

o transe da morte

hipnotizou um anônimo rosto

em lojas comerciais abandonadas.

 

na escuridão

o assassino caminhou frio,

adormecido em seus sonhos.

 

algumas faces agonizantes,

ocultas por negras mortalhas,

cobriam o muro da igreja,

e crianças aguardavam os cantos da noite chuvosa,

todas perdidas na escuridão.

 

meus olhos

observam o espetáculo

em todas as voltas do carrossel mágico.

 

mas, a próxima manhã já desce a rua

para encontrar um cadáver sonhador,

nos ecos da rua.

 

  

 

O LOUCO

(1989)

 

o louco fugiu de casa.

o louco incendiou a escola.

o louco rasgou sua roupa.

o louco queimou seus livros e documentos.

o louco não anda ao lado de ninguém.

o louco juntou um exército para invadir a cidade.

 

não! ele não acabará como vocês...

 

o louco é a desordem divina para recriar a ordem perdida.

o louco abre vales através do inferno.

o louco destruiu as fronteiras das nações.

o louco crucificou a prostituta em seu corpo.

o louco ri dos sonhos do assassino.

o louco não está no hospício.

 

não! ele não será como vocês...

 

o louco entende o canto dos pássaros.

o louco beija a terra porque sabe que ela é sua.

o louco ama a terra, o oceano e a chuva

porque são seus e não pertencem a ninguém.

o louco está aqui,

o louco está em Deus e Deus está no louco...

 

e o louco é Deus.

 

e ele jamais acabará como vocês!!!!

 

o louco é um peregrino que

anda sobre o mar e nunca afunda.

Vês, este oceano é meu,

 

 

 

Queda infernal,

subida infernal,

                                      árvores caídas:

 

“Vês, esta terra é minha,

  e não tenho fronteiras,

e todo o meu cérebro está iluminado

pela escuridão.”

 

“O caminho imaginário não está tão longe

e o verão nos meus ossos

queima minha consciência

na cidade do pó.”

 

E ele correu para a beira do rio,

e ficou olhando o outro lado.

 

 

  

 

RAINHA DA LUZ

(1992)

 

 

(Uma Pintura

                        Sobreposta

                                               Em  Uma

                                                                       Imagem  Erótica)

 

Para Regina Lúcia

 

“A nudez da mulher é a obra de Deus.”

“A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.”

(William Blake, 1793)

 

 

 

A boca...

                        o toque dos lábios,

                                                                       suave sensualidade...

 

beijo vermelho.

 

A pele...

                        macio algodão, seda delicada...

                                                                                   alva areia,

 

cortejada pelo mar.

 

Os cabelos...

                        castanho-escuros, longos...

                                                                                   ondas sobre os ombros.

 

Os seios...

                        o desejo,

                                               a realeza,

                                                           o mais doce vinho...

                                                                                                          rubras auréolas

Os olhos...

                        o encanto, a sedução...

                                                                       cristal vivo.

 

 

O coração...

                        o afeto, a harmonia, o equilíbrio...

                                                                                               sem limites...

 

delírio desacorrentado.

 

                            a paixão, o amor, o envolver

                                      corpo sobre corpo

                                        alma sobre alma

 

c                                                       ga                                            c

o       a                                           r        m                                  a   o

r        l                                          o            o                                l    r

p       m                                        m           or                               m  p

o       a                                         s            org                              a   o

                                                    a          orga

s        s                                         g         orgas                             s   s

o       o                                          r o r g a s m                             o   o

b       b                                         ORGASMO                            b   b

r        r                                          rgasmo       r                            r   r

e        e                                          gam             g                          e   e

                                                     aso                a

c        a                                          sm                     s                     a   c

o       l                                          mo                       m                  l    o

r        m                                         o                           o                  m  r

p       a                                                                                        a   p

o                                                                                                      o

 

                                      a paixão, o amor, o envolver

                                               corpo sobre corpo

                                               alma sobre alma

 

mulher-criança,

                                    às vezes triste... às vezes alegre,

                                                                                                          louca pelo amor.

 

uma noite despertou-me,

                                               tornei-me homem.

uma tarde, eu a despertei,

                                               e ela viveu a suavidade do eterno prazer.

 

 


OS RELÓGIOS

(Primeira Versão)

(1992)

 

Relembre como as horas queimam seus sonhos

                 e como a cada manhã, após a luz,

                 retorna a escuridão.

Relembre aquele muro de delírios onde vagava

                 sua sombra...

                 ele desabou e encobriu sua mente.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

Você não teve tempo de ver o que havia por trás dele?

Você pode imaginar o que vive do outro lado?

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

Olhe, seus amigos bem sucedidos estão dançando

e se distanciando de você,

e embora você corra,

não consegue alcançá-los,

enquanto a distância fica cada vez maior

e sua voz emudece no meio da multidão.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

porquê você ainda veste as mesmas roupas de anos atrás?

roupas que você usava por dentro e por fora, em sua mente?

elas estão sujas e gastas...

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

percebendo uma verdade apenas sua,

você a confronta com o absoluto,

tentando despedaçar ou retroceder os ponteiros.

mas, eles vão sempre para a frente e

nunca para trás.

então você esconde todos os relógios de sua viagem,

desejando viver 23 anos

apenas num diaaahaahaahahahahahahahahahahaahahaahaha...

 

  

Go Away...

Go Away...

Go Away...

Go Away...

 

  

OS RELÓGIOS

(Segunda Versão)

(1992)

  

olhe como as horas queimam seus sonhos

e como a cada manhã, no fim, a escuridão retorna,

e o muro de delírios onde vagava sua sombra

desaba e encobre sua alma.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

alma e sombra, você costumava chama-las de idéia real?

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

nós temos caminhos diferentes,

mas o fim deles é sempre igual para todos,

e outra vez andamos em direção ao silêncio.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

Euseiquetudooquevocêsemprequisfoiabriraportaepartir...

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

você jamais imaginou um caminho tão longo...

você nunca pensou em olhar tão intensamente para esta vastidão...

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

assim como eu, você sempre gira ao redor

de uma verdade sua e outra maior, verdadeiramente absoluta,

e por poder tocá-las, você de vez em quando enlouquece.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

relativamente, todas as coisas se parecem

e do mesmo modo, tudo permanece diferente,

e mesmo o amor e o ódio podem ser esquecidos.

 

Aondevocêvaiescondertodososrelógiosdasuaviagem?

 

...na areia da praia?

...ou no fundo do oceano?

 

 

Go Away...

Go Away...

Go Away...

Go Away...

 

  

OS RELÓGIOS

(Terceira Versão)

(1992)

 

Percebi como as horas queimam meus sonhos

e apagam da memória os costumes e crenças antigas,

e a velha dama, em seu castelo de teias de aranha,

presta contas ao comerciante falido,

e como a cada manhã, no fim, a escuridão retorna

e o muro de delírios onde vagam as sombras

daqueles que se vão e nunca retornam

desaba e encobre suas almas.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

almas e sombras, todos costumavam chama-las de idéia real?

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

Os caminhos diferentes e os lugares de repouso,

mas o fim deles é sempre igual

a cada toque dos sinos da igreja,

e os que choram ao redor do passado

outra vez andam em direção ao silêncio.

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

Euseiquetudooqueelessemprequiseramfoiabriraportaepartir...

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

para uma região jamais imaginada...

e nunca pensaram em olhar tão intensamente para esta vastidão?

 

SORROW...

WE ARE DEAD

 

 

E assim como nós, eles sempre giravam ao redor

de uma verdade particular e outra verdadeiramente absoluta,

E por não poder tocá-las, todos enlouquecem vez por outra,

ao redor dos giros e ciclos da vida.

Relativamente, todas as coisas se parecem,

e do mesmo modo, tudo permanece diferente,

e mesmo o amor e o ódio podem ser esquecidos.

 

aondetodosescondemtodososrelógiosdassuasviagens?

 

...na areia da praia?

...ou no fundo do oceano?

 

 

Go Away...

Go Away...

Go Away...

Go Away...

 

 


VÁ EMBORA, MAS NÃO ME DEIXE

(1990)

  

Olhe, olhe para o meu rosto,

seu eu ainda tiver um rosto.

olhe através dos meus olhos,

veja as profundezas das covas vazias que ele oculta.

eu deixarei você vê-las, e só você!

mas não sinto piedade alguma da vida que eu tive.

 

leve minha vida, leve-a daqui,

eu não a quero mais.

você acha que representei bem meu papel no teatro?

eu estava lá, mas não era eu,

e pergunto a mim mesmo por onde andei

todos esses anos.

 

o teu corpo de formas vazias

já não interessa.

 

Quando a noite chega e sinto frio

ligo para um número qualquer

no telefone.

 

você gira em torno da verdade

o tempo todo, mas é incapaz de

tocá-la, e então, às vezes você enlouquece.

  

 

 

O OBSERVADOR DAS ESTRELAS

(1991)

  

Rios de lágrimas na virada do milênio.

a voz dos profetas traça progressões matemáticas.

o terror de estar vivo e as portas abertas para a eternidade.

você pode me ouvir?

anos-luz do ponto central

onde a matéria petrificou

imagens estranhas.

 

O alinhamento interplanetário não deixa dúvidas:

olhos que agora tocam o sol,

olhos que agora tocam a lua,

abismos de estrelas

no portal do pesadelo...

semens, lágrimas, risos e sangue,

este oceano é meu e de ninguém mais.

 

As luzes brilham,

vem a resposta de plutão,

Urano insano ilumina a virada com tochas,

naves cruzam o sistema,

o olhar melódico de Júpiter,

cadeiras de roda, cadeiras de roda,

você não pode mais se comunicar.

 

luzes intensas,

tensão nas artérias,

anjos cumprem as leis,

explode o motor. Rainha da Luz,

quem é que está atrás dessa mascara?

quem fala com minha voz?

  

milhares de espíritos pedem perdão:

se você pode me ouvir envie um sinal,

olhos de gelo em seu rosto.

 

milhares de espíritos pedem perdão:

se você pode me ouvir envie um sinal,

olhos de gelo em seu rosto.

 

milhares de espíritos pedem perdão:

se você pode me ouvir envie um sinal,

olhos de gelo em seu rosto.

 

  

através das estrelas

através das estrelas

através das estrelas

através das estrelas

 


  

(AMÁLGAMA)

(Palavras Escritas Entre 1989 & 1992)

   

uma casinha, um gato,

uma caixa de música,

mas o mundo gira & o mundo

é um ladrão que furta meu sonho,

arrastando-me para os tribunais, inquisições,

diante de professores, padres, policiais,

e mulheres.

 

& sempre vivi ao redor de

criaturas fúnebres, de olhos-cova...

sempre vivi num cemitério.

 

mulheres! acordem!

Soltem os cabelos invernais,

incendeiem o manicômio conjugal,

quebrem este espelho horrível,

que só vos expõem ao ridículo num asilo sideral,

& depois fujam para o Egito,

com o manto derramado sobre o corpo,

e sentem ao lado de quem vos odeia o suficiente

para vos amar.

 

o amor,

há só tristeza neste teu rosto emplumado de risos

& as plumas nem podem encobrir a tua alma vazia

no fundo de um espelho.

 

mas no mar eu sentirei fome!

sentirei foooooooommmmmeeeeeee!

Sabes o que é sentir fome?

As Ondas do mar trazem serpentes

& arrancam

os teus olhos

para que vejas.

Não toques meu corpo...

quero ir para algum lugar

onde não possa ver nenhum homem,

nenhuma árvore, nenhuma criança.

Quero estar ali, vomitando a cidade inteira

& tudo o que nela me foi ensinado,

seus prédios, seus livros, suas putas...

sou aquele que viveu dentro desta minha caverna

ocular e sem corpo...

não o conheço ainda, mas sei que ele existe.

 

Que os negros se fodam!!!

Isso mesmo,

os negros, os brancos, os amarelos

& todos juntos com o navio negreiro numa privada...

menos os poetas,

os poetas, os sacerdotes das essências das fúrias,

encobertas pelas alegrias e tristezas de formas absolutas

e no meio das máquinas.

Eles não tem cor, são invisíveis como os mortos,

mas eles tem um vício: o de sempre jogar a sua pele para que

alguma imbecil burguesa passe

por cima, sempre cortejando o desejo de um monge.

 

Uma mulher para um poeta:

Sou uma puta, ou sou uma freira.

“tenho medo da mulher,

todas as que toquei, eu quis leva-las a uma viagem

através do inferno, com última parada no paraíso...

a mulher e esse seu senso prático,

absurda imundice, essa completa falta de imaginação,

essa viva morte entre os dias.

Mas faço isso porque penso,

e se penso, é porque não existo.

Sou, digamos, uma célula cancerígena no tempo.

 

mas tu me chamas de louco.

 

não, não... sou... louco...

 

 

Aqui está o meu livro:

 

Tudo saiu de meu útero provinciano,

 

um útero já em decomposição.

 

  

o que olhas na janela, com tanta insistência:

 

Os pássaros.

 

O que tem de tão interessante nos pássaros?

 

O vôo, o vento tocando a plumagem,

o fim do sol, & o início da noite.

 

 

 

Esquece os pássaros, sonhador.

Pensa em tua mulher, em tua casa,

em teu emprego... os pássaros não dão futuro.

 

 

As mulheres apodrecem, minha casa um dia

cairá, e o emprego me envelhece.

Mas, se eu fosse como eles, estaria lá,

veria a terra como nunca outro homem viu,

e então,

escaparia das tuas mãos, não seria mais

teu servo, não seria...

 

 

mas temerias o caçador;

 

 

o caçador caça a si mesmo em

sua presa, e a águia se ri dele

na sua queda.

 

 

Teme a tempestade, louco!!! Não podes deter o

tempo.

O tempo me envelhece,

O tempo envelhece também os pássaros.

Acorda sonhador! O caminho já se curva, e a voz

já vacila, tuas pernas te farão cair na

calçada da grande avenida e terás fome...

 

Se eu tivesse um corpo coberto de penas

não temeria o teu tempo nem a tua fome,

não temeria o teu salário, nem teu mundo

giratório, nem teus vícios...

 

ouviríamos o canto do ancestral

 

embaixo das ondas

 

Acorda insano! Senão, não verás este país florescer...

os braços são necessários, as mãos constróem

arranha-céus

 

e então terás tua cidade desolada, com o teu

jardim de pedras, com flores artificiais.

tua cidade é um deserto,

um milhão de rostos escalam os edifícios.

 

Só os afogados podem

ver o futuro por baixo das ondas;

 

estaria longe dos teus modos

 

devastares a vida através da morte.

 

 

eu só tenho buscado meus

 

semelhantes na terra.

 

  

o caminho imaginário não está tão longe.

a primavera sobre os ossos

dos cidadãos do pó,

e Elifaz, Bildade e Zofar,

a caminho se apressam

e se sentam a teu lado, esperando

que fales a respeito da subida e da queda,

várzeas, palafitas incrustadas

na vida submersa do delinqüente,

e Elifaz, Bildade, e Zofar,

no caminho

e o vento e a correnteza do rio

ou na mata,

onde o assassino expressa seu rosto moreno

esculpido,

pronto para os caçadores.

 

Um caminho de luz arrasta tu e eu,

pelo campo imaginário, memória submersa,

nós partiremos para um lugar...

 

Ele estava ali, na grande avenida,

mas, quem lembrará de seus passos

na grande avenida.

 

 

lágrimas ao vento

 

& vaguei E rodei a terra

eu sou aquele que viu e ouviu desde o princípio,

conduzindo voz e silêncio ao esquecimento,

& conheço os segredos dos reis e dos súditos.

meu vestido invisível varreu as ruas de vossa cidade

& li as folhas dos jornais perdidos nas calçadas

& vim para dizer:

a vossa carne está doente

& a vossa mente enlouqueceu.

a carne apodreceu numa carne apodrecida...

vagina e pênis apodrecidos...

 

  

nas escolas e nas casas

só ensinais mentiras ao vossos filhos

dizendo a eles que há lugar no amanhã

quando sabeis que não há lugar nenhum,

nem mesmo para o amanhã.

a consciência do fim está nos escritórios e nas fábricas

construídos por vossas mãos

e quereis levar vossos filhos à escravidão

porque vos tornastes escravos

& não sabeis como alcançar a liberdade outra vez.

 

nas igrejas e nos templos

orais ocultando o rosto num gesto de piedade corrompida,

mas quando saís de lá,

ignorais o mendigo que está nu e tem fome

&, dentro de vossos carros,

amaldiçoais as mulheres da noite

enquanto vossas filhas se prostituem

em colunas sociais e em bares

& nem avisais a elas que a beleza se quebrará

quando se partir o espelho dos 60 anos

& até menos que isso.

 

 


que as lágrimas do faminto

germinem flores

em teu obsceno vestido de noiva.

 

 

 

os garotos das ruas

estão abandonados na escuridão da noite;

eles dormem em calçadas imundas.

mas eles terão seus dias de glória

quando invadirem as vossas casas,

deixando atrás uma poça de sangue.

naquele dia então tereis medo, chorando por vossos muitos erros,

mas estareis convertidos em pó

& nem a polícia que treinastes para vigiar o vosso patrimônio roubado

poderá vos salvar.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

 

a terra onde nasceste está queimando aos poucos

e todo campo está dividido por cercas

e o vermelho do sangue derramado por vós

manchou o verde das florestas.

não deixastes lugar na terra para vossos irmãos...

construis estradas e grandes edifícios,

construis armas para lutar num circo,

& dizeis que o futuro está próximo,

mas só o que vejo perto de vós é o fim.

 

 

ONE OF THESE DAYS...

 

 

até quando irá durar a vossa festa? e eu mesmo vos direi:

não por muito tempo, porque o dia da vossa assolação

já foi estabelecido por vós todos que traístes a terra:

a lama que jogais no túmulo dos que vos chamam à razão

não é suficiente para deter a vossa destruição:

eu vago rodeando a terra por séculos obscuros

e vi impérios maiores em cinzas:

o fogo que queimou o véu de Sodoma foi silenciado por mim

quando os anjos fizeram-na explodir no início da manhã:

a águia de roma caiu ferida por uma única seta,

convertida em pão e vinho.

mas eu estarei na porta da vossa cidade

quando o grande cemitério se abrir

e a afundarei no mais profundo dos oceanos.

 

 

ONE OF THESE DAYS...

 

 

Ria, garota, ria.

diga sempre adeus...

o mundo gira & gira.

mas você diz sempre adeus.

um dia você acordou

e encontrou um bilhete de sua mãe

dizendo: “para que serve um fogão?

para colocar a cabeça no forno

e ligar o gás!!!”

 

e o homem vestido como pregador

com a Bíblia na mão

sempre dizia “sim”.

 

Um bom poeta

deve ser lido...

Alguns bons poetas devem

ser lidos...

a versificação exata,

a emoção serena,

ou exaltada,

a floresta, o regional...

joga todos no lixo,

e recria tu mesmo

essa velha mulher.

 

 

 

iluminar a linguagem

sempre,

não dando importância para as coisas.

a música, som

estéril demais para

conceber uma realidade.

 

 

 

A origem de toda ligação

consiste em:

cada fantasma

humano,

cada

caminhante,

cada

mulher desconhecida

que passa por tua frente...

imprimi-lhe na mente

a tua

imagem;

esta é a MELHOR forma de AMAR.

 

 

  

este sol que ilumina,

este sol que te ilumina,

está morrendo

queimando tudo o que desejas.

 

a vida,

um baile de máscaras.

 

o sonho,

um obsceno no carnaval.

 

o palhaço...

que anteontem foi rei.

 

vida nova! Nós a possuímos.

nós aqui nos juntamos, nós ali nos dispersamos

e em todo os lugares

nós caímos.

 

como no jardim

como no jardim

 

vem o amor,

e depois o ódio.

 

e vem a paz

florescendo na guerra

 

e todos caímos juntos.

 

como no jardim

como no jardim

 

ruínas humanas,

confinadas,

cavernas oculares

elaborando ilusões,

o sol brilha

para nosso naufrágio,

 

 

como nos velhos anos

do rei.

a porta abre-se para

a via-láctea;

a velha mendiga,

com seu traje negro,

fareja nos cemitérios

a antiga vida.

 

 

 

É que os mortos, em muitas

situações, estão mais vivos que os vivos.

 

uma província do inferno...

 

a selva agitada pelo vento e pela chuva.

os dançarinos...

numa província do inferno, edificada por nós,

numa província do inferno, edificada por nós,

 

podereis ver nossas almas

em abandono neste último hotel do tempo,

último século, sem aparência ou fim...

 

mãos para cima e orações sem fim para o vento

mãos para cima e orações sem fim para o vento

mãos para cima e orações sem fim para o vento

mãos para cima e orações sem fim para o vento

 

é inútil chorar...

 

ONE OF THESE DAYS...

 

 

no Brasil e no Mundo

 

gente que morre

gente nascendo

gente que respira

 

na floresta

& na cidade

& na rodovia

 

gente na grande vida

gente na subvida

 

no fim da linha de ônibus

 

no fim do mundo

gente chorando

gente que ri

gente nas ruas

 

gente saindo

de casa

gente voltando

para casa

gente nos cemitérios

gente nos escritórios

gente nos quartéis

 

ou no quarto

ou na sala de aula

 

todos na mesma morte

 

gente matando,

gente copulando no ferro-velho

 

vindas dos úteros, de todos os cantos do universo,

nascendo para respirar,

mas não para viver.

outubro, ainda outubro!!!!

nenhuma lei que eu acredite,

nenhum buraco que eu não esconda meu medo,

nenhum homem que eu possa beijar por amor.

 

gente-suicídio – por fortuna

ou desespero.

 

gente descendo os morros

gente subindo as baixadas

para gritar “não”!!!

 

porquê elas vieram aqui respirar,

todas unidas, mas em divergência

respirando, respirando, respirando,

e depois

dizem adeus a tudo o que viram na revista.

 

gente na carruagem de ferro...

 

o que foram buscar lá dentro?

o que foram buscar lá dentro?

 

ONE OF THESE DAYS...

 

o que foram buscar lá dentro?

o que foram buscar lá dentro?

 

o que aqui não faltam são palavras para

enganar a multidão que tropeça na poeira...

 

minha vida é criação a caminho da morte.

para nós o santo ódio,

minha mente é ascensão para um vazio

 

entre a vida e a morte.

 

A morte deve ser rápida,

precisa,

objetiva,

sem missa,

sem música,

sem flores.

expulse daqui o padre,

e o pessimista.

expulse daqui o sensitivo

e o açougueiro do

necrotério.

 

rápida e precisa

e científica

morte.

 

vai, viaja até o silêncio

e ouve o que pode ser ouvido de mais

útil.

 

corra o pênis em seu rosto, lígia!

beba meu leite, senhora!!!

 

meu filho crescerá,

se tornará forte,

para roubar tua casa

e assassinar tua família.

 

 

ONE OF THESE DAYS...

 

  

 

um tempo para tudo

 

A verdade é que existe um tempo para tudo,

um tempo para nascer, um tempo para morrer,

 

Sempre e sempre um tempo,

construindo e destruindo,

gerando e matando.

 

vejo que corres pelo campo para fugir de mim,

e eu só posso rir de ti, vendo tua fuga

no horizonte, porque ao virares a esquina, lá estarei eu te esperando,

com um outro nome, num outro corpo

mudam-se os atores, mas os papéis são

 

sempre os mesmos.

 

Pênis e vagina, beijos e presentes, confissões e lágrimas,

morte e bosta, e depois é juntar a pedra para golpear um ao outro,

e um tempo para derrubar, e um tempo para

edificar, um tempo para abraçar e um tempo

para afastar de abraçar, um tempo para rir,

e um tempo para chorar, e tudo isso é

o que sua vida sempre e sempre será

 

sempre e sempre

 

sempre e sempre

 

sempre e sempre

 

sempre e sempre

 

 

pequenos fetos que tremem de frio, num útero gelado,

dentes que apodrecem, mãos e pés, braços que vacilam,

corpo que engorda, olhos enfraquecidos,

voz arrastada e vazia, corpo sem movimento

atirado em uma cadeira de rodas,

mas sempre e sempre o desejo pelo novo

que amanhã apodrecerá.

 

 

 

tu és a mulher que amei ontem...

vais ser a mulher que amarei amanhã?

como uma erra, a outra errará

onde uma acerta, a outra acertará

sempre a mesma pessoa, com outro nome apenas

num outro corpo, mas sempre a mesma pessoa.

porque somos a repetição uns dos outros, e ninguém acrescenta nada,

e todos apenas aumentam o cansaço.

 

sempre e sempre num tempo

 

cujas feições vão se deteriorando e caindo

no esquecimento, a cada segundo.

Encontrei a morte num prostíbulo

e ela veio sentar e jogar cartas comigo,

e perguntei a ela qual o sentido da vida

mas ela riu e disse que também não sabia,

e estava ali para cumprir seu papel:

encerrar minha representação.

 

casas, mansões, casas,

discos e livros, filmes,

verão e inverno, sol e lua

e sempre os mesmos delírios

e tu sempre e sempre indo de esquina

em esquina, e sempre e sempre encontrando

a mesma pessoa, com outro nome,

num outro corpo, e não te apercebes como os anos

passaram e se foram, e tu dando

voltas e voltas no mesmo quarteirão.

 

mas haverá um dia

mas haverá um dia

em que estarás velhinha junto a minha sepultura

e ouvirás espantada

os sons do meu eterno e imutável riso.

 

Ironicamente, eu parei no meio da rua

para ser atropelado,

não por um carro ou caminhão,

mas pelo cansaço e pela eterna repetição.

 

 

ONE OF THESE DAYS...

 

  

cemitério dos cães

 

sinto-me longe da estupidez humanitária,

sinto-me tão distante dos nascimentos e das mortes,

acho que plantei meus ossos no cemitério dos anjos

usando máscaras a cada dia,

criando mausoléus encrostados num

rio de papel.

 

 

eu grito e ninguém me escuta,

eu sonho e ninguém me vive,

eu quero respirar

mas...

 

bando de putas boiando nas noites

coloridas,

amaldiçoando

o mendigo cinzento

com a Bíblia na mão.

 

o juízo final só existe na ação de cada um

seja um selvagem ou um louco.

 

há baleias no oceano,

corações pulsando nos cristais salgados.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

deixem-me sair,

quero ir aonde já fui

ou

ir aonde nunca fui.

...pisar neste chão submerso

 

ONE OF THESE DAYS...

 

 

  

como tenho medo desse encontro,

desse encontro dentro de mim mesmo

com o outro que tanto me conhece,

desse olhar dentro dos próprios olhos,

não como num espelho [já que os espelhos são ilusões],

transpondo todas as almas

que viveram na minha carne,

e tu estarás longe de mim,

embora tu tenhas sido eu

e eu tenha vivido todos os teus dias

num único e estranho dia.

cuspirei nesses teus códigos,

nesses teus costumes estúpidos,

e hoje estarei livre

e ontem virei te libertar.

 

 

alucinaçãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoãoão!!!!!!!!!!!!!

 

e

a vida vale mais que

a arte,

a vida é uma arte em si mesma,

não importam as obras.

 

não deves ir à cidade esta noite...

os anjos estão esperando na porta,

não deves ir...

segue o curso do rio,

este rio antigo

de eras remotas,

que sempre corre

até o antigo oceano,

e não precisas do vestido, nem da comida.

um animal é o que és,

um animal selvagem,

vagando pelas ruas

até que o oceano regenere seus mortos.

 

 

 

uma intromissão...

 

parte de um espelho,

toda uma grandeza,

se ela existia.

eu poderia, pedaço a pedaço,

deformar as partes

num antigo todo.

 

calmo, sento-me aqui,

entre as eras,

 

mas você o quis assim.

 

fecharemos uma década,

fecharemos uma década,

fecharemos uma década,

fecharemos intermináveis décadas,

fecharemos cem anos,

com portas de ferro

com portas de aço

com portas de barro.

 

os grandes pensamentos vêem do ódio

mesclados ao delírio

deixa toda covardia, oh vós que entrais,

mas podeis trazer contigo todo

o desespero, e toda a esperança.

nem o nariz, nem a moral da mulher do Egito

mudariam o mundo.

que fazes aí, pensando em teus irmãos

oprimidos, e nos seus opressores. tens a metranca

nas mãos!!! Assassina a todos!!!!

 

Livrai-os deles mesmos!!!!

 

Escreverei o que penso ou não? Escreverei?

Fala-me, piolho humano! Tu que estás lendo meus pensamentos,

tu que acreditas na moda, nas décadas,

naqueles que se dizem jovens

e que não passam das viúvas de uma ruína.

Andas rastejando nas ruas, com essa

comida nas mãos.

 

Parece que a cada dia que passa,

eu tenho maior consciência de mim mesmo, do mundo, dos fins.

 

Marco Antônio e Cleopatra

estavam errados.

Deveriam ter fugido

e se tornado

amantes no deserto.

 

o amor não vive se morres,

o amor não vive.

 

mas a loucura não seria um excesso de lucidez que prejudica a eternidade...

 

a arte de escrever é uma mentira, mas toda mentira é uma verdade inata...

 

gatas estropiadas.

morrer um milhão de vezes e não apenas uma

e retornar sempre

para o lugar onde andamos pela primeira vez.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

ONE OF THESE DAYS...

 

ONE OF THESE DAYS...

 

 

uma seqüência para 1980

 

e esperamos muito pela nova década

os festejos, o natal,

o morto que não conseguiu alcança-la,

um velho, um jovem,

neste ou no outro lado

do mundo,

os festejos, o natal,

 

 

e já fazem seis anos que o idiota

enlaçou a corda no pescoço

(só vim a saber deste fato seis anos depois),

pendendo no teto, a lingüiça humana,

o bastardo que uma noite escreveu poesias

para levantar um sol ao seu redor.

 

 

eu fico de pé na margem,

olhando-os de longe,

o vôo de uma garça,

um boto que respira.

 

a imaginação concebe o que os olhos

chamam de belo,

mas a beleza não está no interior

e nem pode está no exterior...

o que é belo não pode ser tocado,

só os cegos podem ver a verdadeira beleza.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

e foi assim que a década se foi,

uma década de horror morno,

despedaçado e refinado

e nada de bom se fez.

enganaram o tempo apenas,

como se tivessem vida dentro de seus corpos.

abriram lojas, queimaram florestas, comeram no restaurante.

 

e os cachorros ?

eles também já foram, um em outubro e o outro

no início de dezembro,

mas o quarto ficou pronto

agora a velha tem um quarto novo.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

os cegos andam em grupos para não caírem

mãos nos ombros, uns nos outros apoiados.

se um deles falha, todos caem juntos.

eles não sabem aonde estão, nem sabem para onde vão...

a isso se dá o nome de humanidade.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

há homens diferentes, embora sejam em número reduzido...

eles possuem visão e sempre andam sozinhos.

eles podem ver além da luz do sol,

eles podem ver além das muralhas do tempo,

eles sabem aonde estão e aonde vão,

e nunca há ninguém do lado deles.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

novo vento,

novos campos,

o sol brilha,

brilha mais que o sol,

ilumina os campos verdes no interior

de todos nós.

tempo ao tempo,

e quando o inverno tiver passado

e a morte for uma prostituta esquecida no ventre da mão,

e nas lápides e no pó de quem passou,

 

nós retornaremos...

nós retornaremos...

nós retornaremos...

 

nós retornaremos...

nós retornaremos...

nós retornaremos...

 

nós retornaremos...

nós retornaremos...

nós retornaremos...

 

aos vales antigos,

aos montes luminosos,

o luar em nossos corpos,

a dança do fogo renovada.

 

sim, nós retornaremos,

imóveis e sem limites.

num estranho oceano de estrelas

 

um pássaro radiofônico veio me dizer

que andam falando que estou louco...

louco são os militares que treinam jovens para matar;

louco é quem prende e mata o ladrão

para ocultar seu próprio roubo.

 

ONE OF THESE DAYS...

 

em tua face o cansaço

será exposto embaixo

de toda lua artificial

que rodeia a avenida.

 

milhões de olhos de ninfomaníacas.

homossexuais e prostitutas

te condenam.

fui ao jardim, onde brinquei certa vez.

eu te ensinaria uma doce brincadeira,

tirar a roupa, só eu e você,

e na escuridão corto tua alma, tua força,

e sais pela floresta, para celebrar a caçada

de antigamente. não tens que temer,

não uso armas, mas se eu te encontrar,

não pertences mais a ninguém,

exceto a mim.

 

o que te contaram,

já que desceste tão fundo na vida?

como no átrio das igrejas,

repletas de serpentes

murmurando orações, o teu encanto foi perdido,

teu olhar náufrago, por trás da mentira.

 

não desceste tão fundo, amável criatura

de cabelos dourados,

pelos edifícios e avenidas,

o horror das feridas,

a tempestade de vozes

de gente morta dentro dos carros,

ou,

mendigando abrigo de porta em porta?

 

Estória absurda,

cenas embaçadas

no filme, riso celestial de um

monge,

 

teu olhar-sol, tua crença no absoluto

da vida moderna, espelhada pela razão.

 

o que te conforta neste caminho?

décadas infinitas, expandidas na memória

e no declínio de hoje,

tecnologia e paixão abortadas...

corpo sem alma.

 

nada sentes?

dor que não pode mais doer,

 

 

 

o dinheiro que pagaram

ao velho homem e ao rapaz

não serve para nada,

e juntos eles foram para um bar,

uma queda, ao lado da rodovia

e pelos copos amarelos.

o jovem ouviu do velho

a voz de algumas mulheres de carne e osso,

cheirando a concreto e poeira.

 

o aspecto simples da complexidade,

 

o aspecto complexo da simplicidade;

 

o verão e o inferno não juntam ninguém

 

quando você foi um inocente,

 

quando nós éramos pessoas simples,

 

e andando pelas ruas enlameadas,

ou, parados junto ao poste de luz da esquina...

 

nessa rua não há lugar para vagabundos.

 

pássaros do amanhecer

cobrindo a aurora,

como uma mortalha negra no ar.

o sonho de toda camponesa

é nunca envelhecer,

e os ossos nunca derreter

no forno do tempo;

o amor gera o ódio.

eu te levaria outra vez ainda

para a floresta negra.

os espelhos! os espelhos!

jovem mulher, jovem camponesa,

tu ti perdestes na floresta dos espelhos.

os pássaros na ponta dos galhos,

num fim da tarde,

e Elaine nada disso vê,

e ela fica orando pela distância,

com seus olhos dilatados pelo amor

de outra mulher.

 

 

venha para mim, meu amor...

sem sua vida eu não sou nada;

preciso de seu sangue aquecendo o pó

de que sou feito.

 

venha correndo pelo campo,

com suas orações e sua fé,

sem sua alma não há luz que me aqueça.

 

o meu tempo já retorna para a eternidade

e incerto é o meu futuro...

 

dos livros, sangue e lágrimas,

dos poemas, sangue e lágrimas,

 

mas nenhum sangue como o seu,

e nem uma lágrima como as que você

deixa cair, e elas se convertem em cristal.

 

você não sabe o que é querer morrer

e não poder...

você não sabe o que é querer viver

e não poder...

você não sabe o que é ter asas

e não poder voar...

 

venha para mim, meu amor,

deixe eu atravessar sua alma

e fazer dela uma porta para a eternidade humana.

 

vem comigo, desçamos para o coração da floresta e do fogo

sobre as águas.

meu nome tu não saberás...

há de ser sempre um mistério.

 


 

Esta noite, quando a lua cheia estiver brilhando,

tu vens comigo para as sombras da floresta.

trarás o vinho,

e em trajes brancos, a foice nas mãos,

sentados entre as pedras, o fogo fará refletir meu olhar

esta noite, envolvidos pelo luar.

beberemos o vinho, e dançaremos nas profundezas da realidade,

conclamando os espíritos,

e falaremos desconexas palavras,

mas ao amanhecer subiremos ao palácio da sabedoria

e quando vier a lua das folhas caídas

uma estranha tristeza rondará teu espírito...

choraras teus mortos

no vale do amor, agora repleto de sepulturas, muito antigas,

há muito esquecidas.

 

e quando eu te beijo,

o mundo desaparece,

o mundo desaparece.

 

se o homem que amas vier te magoar

não esqueças que se assim ele o faz

é porque assim tu mesma o ensinaste

ao despertares as sombras de teu passado.

 

desperta agora!

teu espírito envelhece, com as sombras do teu passado,

e a cada passo, mais a morte de ti se

aproxima;

o sol já se põe sobre teus olhos;

desperta, desperta,

as crianças já se riem de ti

e as feiticeiras já cantam teu nome.

 

  

o estio se aproxima

e eu queria contar apenas as

estórias da mulher que enxugava as lágrimas

com as pedras do chão.

 

 

ela é uma grande filha da puta!!!

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

 

ela é uma grande filha da puta!!!

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

 

ela é uma grande filha da puta!!!

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

 

ela é uma grande filha da puta!!!

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

 

Num desses dias...

eu vou estuprar a mente dela com um cano de revolver.

 

 

  

TRAZENDO TODOS PARA ESTRADA NOVAMENTE

(1992)

 

Que tal acordar

apavorado e assustado

num quarto estranho,

numa terra de

beira de rio que se chama morte,

como se alguém tivesse

te partido a cabeça

com um machado.

 

 

Que tal acordar

de uma ressaca

com a Bíblia na mão,

deitado sobre um tapete

de revistas pornográficas,

olhos vermelhos de álcool,

músculos doloridos

com a foto da mulher amada

recoberto de poeira,

sentindo-se um órfão.

 

 

não há mais dúvida

não há mais perguntas para responder

a não ser, irmão, que não sabemos mais quem somos nós.

 

 

ontem a noite

eu vi um hitler negro

embriagando-se no bar da esquina

após ter fugido de uma fazenda, onde estão acorrentados muitos escravos

do sul do Estado, acompanhado por uma besta,

e quando ele disse que estava ferrado

eu disse: acorda e vai ver

como o céu amanheceu cinzento,

e percebe que há crianças ao redor da tua sepultura,

cada uma apontando uma arma

para o caso de tu te levantares.

portanto,

pega as tuas coisas,

porque eu estou trazendo todos para a estrada outra vez.

 

 

  

 

UMA NOVA CANÇÃO DE AMOR AO ÚLTIMO VIGILANTE NO TÚMULO DO FORASTEIRO

(Eu Fico Aqui... Tu Continuas por mim – Despedida do Rapaz que envelheceu e Não Retornará Jamais)

(1989)

  

alguns que aqui ficaram, aqui pereceram

o forasteiro daqui partiu,

deixando um sol em cada muro noturno.

um dia ele voltará,

enquanto que alguns que aqui ficaram, aqui pereceram.

eu tenho um segredo a ti dizer,

algumas palavras que li nas paredes dos conjuntos habitacionais:

uma transformação ocorreu nas senhoras deste lugar...

elas não se lembram de seu passado.

 

uma doce chuva molha os telhados das casas

a poeira dorme submissa ao vento

um cão não encontra abrigo nas ruas da cidade

e o forasteiro daqui partiu.

 

tu sabes: ele era meio louco

e nunca deixou a velha ambição de ser um peregrino,

e ainda que te amasse

jamais poderia deixar de caminhar no princípio

e por isso ele partiu.

o amor que se foi é sempre o amor que virá,

num outro tempo, num outro homem, num outro rio.

parados na selva de sonhos,

os olhos perdem a beleza e envelhecem.

se não andas sobre mar

sempre morrerás afogada,

e de todos os sons que podem ser ouvidos

o mais belo é o silêncio

e a melhor maneira de ouvi-lo

é olhando para dentro de um outro olhar humano.

de todas as bebidas

a melhor é a água.

 

ele nunca teve piedade das mulheres que conheceu,

mas de ti ele teve, porque estavas além

das mulheres que ele conheceu,

porque ele beijou todas as mulheres que amou

ao beijar tua boca cheia de estrelas,

um beijo de irmão,

gravado na alma, nunca na carne.

 

se eu fosse você

se eu fosse você

se eu fosse você

eu aguardaria até ele retornar.

 

quando ele retornar com seus livros

e sua música...

 

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

eu aguardaria até ele retornar

 

  

 

EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/

GRAVADORA ARTE DEGENERADA

1984-1993

2002-2011

  

                                    A Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) – Gravadora Arte Degenerada foi um projeto de arte experimental, criado por Marco Alexandre da Costa Rosário, envolvendo poesia, música e pintura, o qual teve sua existência entre os anos de 1984 e 1993, e foi novamente iniciado a partir de 2002. Seu primeiro nome foi Editora Morangos & Uvas (Seaculum Obscurum), denominação esta que foi usada até 1986. Este nome foi inspirado pelo quadro tríptico O Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch, e pelo filme Morangos Silvestres (SMULTRONSTÄLLET), do diretor sueco Ingmar Bergman. Ogmios é uma antiga divindade celta, conhecida também como o Velho Calvo. Segunda a lenda, de sua língua saiam fios de ouro que enlaçavam as orelhas das pessoas e elas eram forçadas a ouvi-lo. A palavra latina Saeculum foi alterada: a letra e troca de lugar com a letra a, formando a palavra Sea (mar em inglês) culum, ou seja Seaculum Obscurum, ou o mar da obscuridade secular, que é o modo como Marco Alexandre vê sua época. Todos os livros da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) pertencem a série BLITZBUCH (livro-relâmpago). Esta junção de duas palavras alemãs é uma sátira à Blitzkrieg dos nazistas. Juntamente com a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum), em 1986 Marco Alexandre criou a Gravadora Arte Degenerada, uma experiência alternativa na área da música. A Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) teve bastante influência da música, literatura, pintura e cinema de vários países. Seus dois princípios máximos eram: a arte não se vende e a arte não tem fronteiras.

 

                                    De todas as obras realizadas pela Editora Ogmios (Seaculum Obscurum), as duas mais importantes foram os livros Iluminuras e Guirlanda de Flores Sangrentas. Estas duas obras foram completadas em 2002, pois ficaram inacabadas nos anos em que surgiram (1986 e 1987). Na verdade, alguns poucos poemas e todas as pinturas foram elaborados no ano de 2002, com o objetivo de completar estas duas obras. Depois dos últimos poemas escritos por Marco Alexandre (em 1993), a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) silenciou por muitos anos, embora alguns pedaços de poemas isolados tenham sido feitos no transcorrer dos anos. Em 1994, Marco Alexandre fez uma espécie de coletânea com as músicas que ele gravou em fitas cassete (até hoje conservadas) entre os anos de 1981 e 1988. Em 2001, Marco Alexandre conheceu, através da Internet, o músico americano Tom Rapp, líder do lendário grupo Pearls Before Swine (1967-1971) e uma das maiores influências da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum): Marco Alexandre conheceu o trabalho deste grupo em 1983, através do Lp One Nation Underground, lançado pela ESP-DISK em 1967. Tom enviou para Marco Alexandre uma cópia de seu último Cd: A Journal of the Plague Year (1999). Este encontro estimulou Marco Alexandre a recomeçar seus trabalhos na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) no ano de 2002: os textos dos livros originais foram digitados em computador; as músicas foram transferidas para CDs (a partir de março de 2005), poemas foram reconstruídos, livros inacabados foram completados, etc. O primeiro livro da nova fase foi a segunda edição do livro As Flores (de 1985), feita em fevereiro de 2002, a qual foi enviada para Tom Rapp, em Port Charlotte, Flórida, Estados Unidos da América. Tom disse o seguinte sobre o livro As Flores: “I got the book and it’s GREAT”. Tom Rapp iria recitar o poema Lírio (do livro As Flores) em seu show, no festival Terrastock V, realizado em outubro de 2002 nos Estados Unidos da América. Porém, por problemas de tempo de apresentação não foi possível realizar tal projeto. Entretanto, ele compôs uma música para o poema Lírio, que foi enviada para Marco Alexandre em novembro de 2002. Em agosto de 2002, Marco Alexandre enviou a segunda edição do livro Invocações (de 1991) para Meredith Monk e Patti Smith, em Nova Iorque, Estado de Nova Iorque, Estados Unidos da América. Meredith Monk disse sobre o livro Invocações: “I want to tell you that I did receive the book and the poems. Thank so much... I am very touched and will cherish them”. Patti Smith jamais se pronunciou a respeito do livro. Marco Alexandre voltou a fazer pinturas em 18 de setembro de 2002, quinze anos depois do último trabalho nesta área. Ele fez várias pinturas para os livros O Tecelão de Paisagens, Iluminuras e Guirlanda de Flores Sangrentas. Estes três livros são conhecidos como livros-música. Marco Alexandre também começou a elaborar novos livros de pintura (Surrealística III e IV) e um novo livro-música começou a ser elaborado em janeiro de 2003 (Winona e as Cadeiras de Rodas) e foi concluído em julho de 2005. Outro livro-música, New York – Paris, começou a ser elaborado em junho de 2004 e foi concluído em abril de 2005. Um outro grande poema deveria ter sido escrito ainda em 2003, sendo seu título  Cartas às Américas, e talvez tivesse a colaboração de Meredith Monk e de Tom Rapp. Pelo menos eles mostraram interesse em participar. Porém, o projeto não foi sequer iniciado. A obra completa da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum), ou o que restou dela, tem o seguinte título: Veio do Pó e Virou Resto Humano – Editora Ogmios – 1984 - 2011 (o título foi tirado de um verso do livro Invocações, de 1991). Exceto os poemas que foram reconstruídos e os livros que foram completados (com poemas e pinturas) em 2002, as novas edições dos trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) têm os mesmos poemas, músicas, pinturas e desenhos que foram feitos entre os anos de 1984 e 1993. Marco Alexandre jamais revisou qualquer trabalho que fez na poesia, na música e na pintura. Tudo foi composto, escrito, pintado e tocado (gravado) em estado bruto e produzido sem qualquer reparo.

 

                                    Marco Alexandre da Costa Rosário nasceu na cidade de Belém, Estado do Pará, Brasil, em 7 de fevereiro de 1966. Atualmente, Marco Alexandre vive, desde fevereiro de 2003, na cidade de Santarém, Estado do Pará, no meio da Amazônia Brasileira. Ele sempre foi um homem pobre e sempre teve muitas dificuldades para realizar os trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Entretanto, a partir de 2002, os estranhos livros que ele escreveu começaram a circular pelo mundo e, em 2005, um site foi criado na Internet para comemorar os 21 anos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) e da Gravadora Arte Degenerada.

 

                                    Estes são os trabalhos feitos por Marco Alexandre Rosário na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) – Gravadora Arte Degenerada:

 

- Poemas - (poesia/desenhos) - 1984.

 

- Um Conto Sobre a Vida de São Francisco de Assis - (conto/pintura - obra desaparecida) - 1985.

 

- Uns Dias na Infância  - (conto infantil/desenhos) – 1985.

 

- As Cores  - (poesia/pintura) – 1985.

 

- As Flores  - (poesia/pintura) – 1985.

 

-.O Tecelão de Paisagens  - (poesia/música/pintura) – março/1986.

 

- Sete Pérolas para Hollandri - (poesia) – junho/1986.

 

- Surrealística I - (pintura – Obra desaparecida) – 1986.

 

- Iluminuras - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue - (poesia/música/pintura) – outubro/1986.

 

- Guirlanda de Flores Sangrentas  - (poesia/música/pintura) – fevereiro/1987.

 

- Surrealística II  - (pintura – obra desaparecida) – 1987.

 

- América Latrina & o Gigolô Americano – (Poesia) – 1988.

 

- Invocações - (Poesia) – 1991.

 

- Amálgama – Uma Coleção de Obscenidades - (Poesia) – 1981-1992. Coletânea com vários poemas.

 

- O Último Círculo de Pedras – (poesia/música/pintura) – (coletânea, incluindo os melhores projetos musicais feitos entre 1981 e 1988) - 1994. (estão inseridas algumas músicas feitas em 2002 e 2003).

 

- Surrealística III – (Pintura) – setembro/2002.

 

- Surrealística IV – (Pintura) – setembro/2002.

 

- Canções para Marina - (poesia/música/pintura) – setembro/2003.

 

- Winona e as Cadeiras de Rodas – Compacto - (poesia/música) – outubro/2003.

 

- Winona e as Cadeiras de rodas – álbum - (poesia/música/pintura) – janeirol/2003 – julho/2005.

 

- New York–Paris – (poesia/música/pintura) – junho/2004 - abril/2005.

 

 

OBS: Texto escrito em 2002 (com acréscimos em 2005, 2008 e 2011).

 

 


EDITORA MORANGOS & UVAS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

         GRAVADORA ARTE DEGENERADA

 

SÉRIE BLITZBUCH

 

(1984 – 1993)

 

(2002-2011)

  

 

AMÁLGAMA – UMA COLEÇÃO DE OBSCEENIDADES

(POEMAS – 1981-1993/ COLETÂNEA)

 

1ª EDIÇÃO: 2002

1 exemplar.

(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)

 

 

“Tudo o que é esquecido

permanece em sonhos obscuros do passado...

ameaçando sempre retornar.”

(Velvet Goldmine)

 

  

Editora Ogmios (Seaculum Obscurum):

 

website: www.seaculumobscurum.com


e-mail: editoraogmios@yahoo.com.br


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