Blog do Hektor

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sábado, 27 de março de 2021

 NOVOS TEMPOS (1994-2000).


Branquinho em 2002, em Belém-PA. 


Por volta de novembro de 1992 eu saí de casa para comprar alguma coisa. Quando eu entrei na calçada da Avenida 1º de Dezembro, me deparei com uma cena inusitada. Eu vi um gato, totalmente branco, parado perto da sarjeta. Parecia que ele estava meditando e pensando se cometeria suicídio ou não, atirando-se na direção dos carros. Eu parei e o segurei e percebi que ele estava bastante subnutrido; dava para sentir seus ossos com as minhas mãos. Eu o coloquei de volta no lugar em que ele estava e segui meu caminho, pensando: se eu voltar e este gato ainda estiver aí, eu o pego e o levo para minha casa. Quando eu voltei, ele estava no mesmo lugar em que eu o havia deixado antes, olhando fixamente para os carros. Eu peguei o gato e o levei para a minha casa. Apesar dos protestos iniciais, o gato ficou em casa e eu o criei dentro do meu quarto. Ele cresceu e ficou enorme. Ele era todo branco, com pêlos longos. O nome que eu dei para ele foi Branquinho. Branquinho ficou comigo até a sua morte, ocorrida em 08 de março de 2003, em Santarém. Fotos dele foram dadas para Tom Rapp (Port Charlotte) e Meredith Monk (Nova Iorque).

 

Branquinho em 2002, em Belém-PA. 

Branquinho em 2002, em Belém-PA. 


Por volta de 1994 ou 1995, eu não lembro com precisão o ano, um amigo chamado Rui Roth, que havia passado uma temporada morando na Alemanha, disse que viu vários garotos alemães fazendo trabalhos semelhantes aos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu fiquei feliz ao saber disso, já que algumas pessoas em Belém achavam que os meus trabalhos artísticos eram loucura e perda de tempo. Nós devemos observar, mais uma vez, que Belém é uma cidade muito provinciana.

 


Em 1994 eu ingressei no Curso de Mestrado em Direito (Programa de Pós-Graduação em Direito) da Universidade Federal do Pará. Em 1996 eu decidi fazer uma pesquisa sobre tráfico internacional de drogas no Estado do Pará para concluir o Curso de Mestrado. Em fevereiro de 1999, após uma longa paralisação nos trabalhos de pesquisa, finalmente o trabalho foi concluído. Este trabalho científico teve o título de “O Narcotráfico e o Sistema Penal Federal no Estado do Pará”. Foi um trabalho muito extenso e abrangente, repleto de poemas (Arthur Rimbaud, Jim Morrison, Hesse, T. S. Eliot, etc), citações sobre as gerações Beat, Hippie, Punk, etc, e também com trechos de textos retirados da revista Playboy, do livro “Please Kill Me” (de Legs McNeil e Gillian McCain) e de outros livros menos habituais no meio jurídico do Estado do Pará. Para completar, eu incluí duas fitas cassetes com músicas de vários grupos e artistas norte-americanos e ingleses (a maioria fazia alusão às drogas): Velvet Underground, Pink Floyd, Frank Zappa, Pearls Before Swine, Beatles, Bob Dylan, Rolling Stones, The Grateful Dead, The Grateful Dead, David Peel & The Lower East Side, MC 5, The Stooges Sex Pistols, etc. Tudo isto foi utilizado na primeira parte do trabalho, que trata da questão das drogas de uma forma geral. A segunda parte é inteiramente dedicada ao tráfico internacional de drogas no Estado do Pará. Em suma, foi uma obra revolucionária. Na época, o Congresso Nacional tinha iniciado uma investigação sobre o narcotráfico no Brasil. No dia 14 de outubro de 1999 eu finalmente defendi o trabalho perante uma banca examinadora. Obtive o conceito “Excelente”.


 Primeira reportagem/Liberal 1999.


Depois da defesa da dissertação, eu mostrei o trabalho para um amigo que trabalhava, na época, no jornal paraense “O Liberal”. Ele mostrou partes do trabalho para o chefe dele, e eles resolveram fazer uma reportagem sobre o meu trabalho. Eu esperava que eles publicassem apenas uma meia página, mas no dia 31 de outubro de 1999 (domingo) o jornal publicou uma reportagem de página inteira que incluía entrevistas com um Juiz Federal e com o chefe da Polícia Federal do Estado do Estado do Pará. Pela primeira vez na vida, eu era notícia no Brasil e no mundo (a reportagem foi colocada na Internet, no site do jornal, e o jornal circulava em vários Estados Brasileiros e em alguns países também). Eu estava famoso, porém sem dinheiro. Para mim aquela reportagem foi uma grande vitória. Como aluno do Curso de Mestrado, eu havia recebido durante trinta e um meses uma bolsa de estudos que hoje teria o valor de 20 mil dólares. Se eu não tivesse terminado o trabalho, eu teria que devolver todo este dinheiro ao Governo Federal. A vitória foi um alívio, mas eu continuava desempregado. Na época em eu fiz este trabalho científico, eu não tinha computador e eu tive que digitar todo o texto na casa de amigos e parentes, além de realizar, sem a ajuda de ninguém, a pesquisa de campo (análise de processos criminais sobre tráfico internacional de drogas, entrevistas com autoridades, etc). Pobre eu sempre fui, e as únicas vezes em que eu ganhei algum dinheiro decente na vida foi com a bolsa de estudos do Curso de Mestrado e depois como professor temporário da Universidade Federal do Pará. Pelo menos até aquele momento da minha vida.


 Segunda reportagem/Liberal 2001.


Em fevereiro de 2001 aconteceu um evento internacional em Belém, que teve como tema o tráfico internacional de drogas na Amazônia. Representantes das polícias francesa e do Estado de São Paulo estiveram presentes. Um Juiz Federal do Estado do Pará foi convidado, e pediu que eu lhe fornecesse os dados da minha pesquisa, sem me informar que estes dados seriam utilizados no evento. Ele fez sua palestra com base nesses dados e citou o meu nome. Um repórter do jornal “O Liberal” ouviu a palestra do Juiz e conseguiu o meu telefone. O repórter me telefonou, fez uma entrevista comigo, e mais uma vez saiu uma reportagem de página inteira no jornal “O Liberal”, dessa vez com uma chamada na página de frente (esta reportagem também foi colocada no site do jornal, na Internet). A reportagem foi publicada no dia 18 de fevereiro de 2001 (domingo). Como continuação dessa reportagem, no dia 27 de maio de 2001 (domingo), foi publicada a terceira reportagem sobre o meu trabalho, que ocupou quase toda a página, e também foi colocada no site do jornal, na Internet. Dessa vez, a reportagem abordou somente a relação entre as drogas e as artes. Até onde eu sei, jamais um trabalho científico tinha ocupado tanto espaço na imprensa do Estado do Pará.

 

 Terceira reportagem/Liberal 2001.

Como pode ser verificado, o trabalho científico “O Narcotráfico e o Sistema Penal Federal no Estado do Pará”, pela sua estrutura, foi praticamente um trabalho da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada. Podemos dizer que este trabalho científico foi o ponto de partida de um novo período da Seaculum Obscurum.

Passaram-se décadas até que países como o Uruguai e os Estados Unidos da América passassem a adotar medidas semelhantes ao que estava escrito na minha Dissertação de Mestrado, com relação ao tratamento dado ao problema das drogas ilícitas e seu comércio.


 





Fotos da Edição Especial (volumes I e II) da Dissertação de Mestrado "O Narcotráfico e o Sistema Penal Federal no Estado do Pará", doado à Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará-UNIFESSPA em 14 de abril de 2016.




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