AMÉRICA LATRINA E O GIGOLÔ AMERICANO - LIVRO DE POEMAS DE 1988 - POESIA.
O LIVRO “AMÉRICA
LATRINA E O GIGOLÔ AMERICANO” (1988) E O INÍCIO DA DISPERSÃO (1989).
Link: Cetáceos - 1988 (Marco Alexandre Rosário/Jofre Jacob de Freitas)
OBS: "Cetáceos", de 1988, foi a última música feita por Marco Alexandre Rosário na década de 1980. Ele só voltaria a compor músicas novamente a partir de 2003. "Cetáceos" também é a primeira e única música feita em parceria com outra pessoa, no caso, o velho amigo Jofre Jacob de Freitas. "Cetáceos" foi inserida na Coletânea de músicas e poemas "O Último Círculo de Pedras"/Livro-Música, de 1993/1996.
* * *
No segundo semestre de 1987, apesar
do problema que aconteceu, eu ainda tentei levar a minha vida de maneira
equilibrada. Mas, naquela situação era impossível. Minha avó voltou para casa e
ficou do jeito que estava por 11 anos, até a sua morte: deitada na cama ou
sentada na cadeira de rodas, tendo que comer, tomar banho, urinar e evacuar com
a ajuda das pessoas. Porém, devo dizer que apesar do que tinha acontecido, ela
ficou com o rosto mais risonho.
Foi a partir
do ano de 1988 que eu comecei a beber muito. Eu já bebia cerveja e vinho antes
do problema da minha avó acontecer, mas foi depois do derrame cerebral de Olga
que eu passei a beber com mais intensidade. Eu sempre gostei de cerveja e
vinho. A casa continuava a encher de água quando chovia, e esse problema só foi
devidamente solucionado em 1994, quando o piso da casa foi elevado acima do
nível da rua.
Em termos de
música e pintura, a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte
Degenerada teve sua atividade interrompida por tempo indeterminado. A última
música que eu compus se chamou “Cetáceos”. Eu a fiz em parceira com o Jofre
Jacó de Freitas. Esta música, composta e gravada em 1988, e outra (The Wife of
Ushers Well, um poema inglês do século XV), composta e gravada por mim e Heitor
Meneses, em 1986, foram as únicas músicas feitas por mim e outras pessoas
dentro da Editora Ogmios. As outras músicas foram composta, tocadas e gravadas
por mim, sem a ajuda de ninguém.
Em termos de
poesia, a Editora Ogmios ainda continuava, porém, sem o mesmo brilho que tivera
anteriormente. Durante o ano de 1988, eu comecei a me aproximar mais dos
colegas do Curso de Direito, em especial, de pessoas ligadas à correntes
políticas da esquerda. Eu jamais me filiei a qualquer partido político, mas eu
sempre votei e fiz campanha para os candidatos do Partido dos Trabalhadores e
para outros partidos de esquerda. Durante aquele ano, eu comecei a escrever
alguns poemas e foi daí que surgiu o livro “América Latrina e o Gigolô
Americano”. Este poema foi inspirado numa música do banda britânica The Incredible
String Band. Era uma sátira sobre a América Latina e a presença americana no
continente. Este poema e outros mais circularam no ano de 1988, no Curso de
Direito, da Universidade Federal do Pará. Em 2002, juntei todas esses poemas e
mais alguns, também escritos em 1988, no livro “América Latrina e o Gigolô
Americano”. Mas, na época, este livro não existia. O poema “O amor Construído
no Pó”, que é desta época e está no livro “América Latrina e o Gigolô
Americano”, foi publicado no dia 23 de dezembro de 1988 (sexta-feira), no
jornal paraense Diário do Pará (D-4), com o título “O Amor Construído na
Poesia”, alteração esta feita pelo meu pai, sem a minha autorização.
Foi em 1988
que eu conheci a música de Meredith Monk, através do álbum Dolmen Music. Fiquei fascinado por ela e pelo álbum. São poucos os
álbuns que eu considero perfeitos: Rubber Soul (Beatles), The Piper At The
Gates of Dawn (Pink Floyd), One Nation Underground (Pearls Before Swine), John
Wesley Harding (Dylan), Red (King Crimson), Kick Out The Jams (MC 5) e Dolmen
Músic (Meredith Monk). Se eu tivesse conhecido o trabalho de Meredith Monk em
1984 ou em 1985, com certeza ela teria sido uma grande influência para a
Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada. Mas, eu conheci a
música dela um pouco tarde demais.
Em dezembro de 1988 Ana Preta faleceu. Como não foi possível enterra-la no quintal da casa do meu tio, que mora na mesma rua da minha casa, eu tive que abandonar o corpo dela num terreno desocupado que ficava localizado na Avenida 1º de Dezembro, próximo da minha casa. Isso aconteceu pela parte da tarde. Na noite daquele dia eu voltei ao terreno aonde eu havia deixado o corpo dela. Pedi para São Lázaro ressuscita-la, mas não fui atendido.
Preto, o gato, ainda viveu até 1989. Ele simplesmente sumiu. Um dia, ele saiu de casa e não voltou mais. Provavelmente, ele deve ter sido atropelado por um carro, ou ter simplesmente mudado de casa. Deodata disse ter visto o gato andando próximo de casa, muito tempo depois.
Em 1989 eu comecei a dispersar os trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu simplesmente comecei a dá-los de presente para amigos, namoradas e pessoas desconhecidas. A primeira edição do livro “O Tecelão de Paisagens” (eu havia feito dois exemplares, um em 1986 e outro em 1987) foi dado para três cidadãos franceses (Laura, Nathalie e Jean-Christophe), por volta de julho de 1989. Todos residiam em Paris, capital da França. Guardo até hoje um livro do escritor Robert Brasillach (Comme le Temps Passe), que eles me deram de presente. Neste livro constam dedicatórias à minha pessoa escritas por estes franceses. Eu lembro que a Nathalie disse o seguinte, no aeroporto de Belém, quando eles estavam indo embora: “esse livro do Brasillach tem aos montes na França, mas este teu livro é o único no mundo”. Eu disse a ela que eu tinha outro exemplar. Eles levaram o livro “O Tecelão de Paisagens” para Paris e essa foi a primeira vez que o nome da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) entrou na Europa. Embora Laura tenha me fornecido o seu telefone (em Paris), eu jamais entrei em contato com ela e seus amigos novamente. Os livros “Poemas” (1984), “Um conto sobre a vida de São Francisco de Assis” (1985), “Uns Dias na Infância” (1985), “As Cores” (1985), “As Flores” (1985) e “O Tecelão de Paisagens” (edição de 1987), tudo em original, foram dados para Maria Ineida, minha segunda namorada. Isso ocorreu por volta de novembro de 1989. No ano de 1993, Maria Ineida devolveu alguns livros: “Poemas” (1984 – alguns poemas que constavam neste livro desapareceram), “Uns Dias na Infância” (1985), “As Cores” (1985), “As Flores” (1985) e “O Tecelão de Paisagens” (edição de 1987 – quatro poemas deste livro também desapareceram). Maria Ineida faleceu em janeiro de 2000, vítima da leucemia, conforme fui informado por seus familiares. Seus familiares não souberam informar o paradeiro do livro sobre “São Francisco de Assis” (1985) e dos poemas desaparecidos dos livros “Poemas” (1984) e “O Tecelão de Paisagens” (edição de 1987). O livro de pinturas intitulado “Surrealística I ” (1986) foi dado para Jofre Jacó, provavelmente nos anos de 1989 ou 1990, sendo que o Jofre, segundo informações prestadas por ele, perdeu o livro durante uma mudança de residência. O livro de pinturas intitulado “Surrealística II ” (1987) foi dado para Andrea Pontes Souza, provavelmente no ano de 1990, sendo que a mesma me informou que não sabe o paradeiro do citado livro, provavelmente perdido durante uma mudança de residência.
Portanto,
muitos trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte
Degenerada simplesmente desapareceram. Foi muita sorte Maria Ineda ter
devolvido a maioria dos livros que estavam com ela. Se isso não tivesse
acontecido, eu não teria nenhuma prova da existência da Editora Ogmios
(Seaculum Obscurum). Pelo menos em relação aos livros mais antigos.
hhh
AMÉRICA
LATRINA
&
O
GIGOLÔ
AMERICANO
MARCO ALEXANDRE
DA
COSTA ROSÁRIO
%
%POESIA%
%
EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM)
*BLITZBUCH*
1988
SUMÁRIO
LEIA-ME! EU SOU SUA BÍBLIA!!!!
AMÉRICA LATRINA & O GIGOLÔ
AMERICANO
O AMOR CONTRUÍDO NO PÓ
O AMOR CONSTRUÍDO NA POESIA
LUGARES
AMÉRICA LATRINA
FASCISNÓLIA
ÁGUA E MORTE
AS CINZAS DO AMANTE NA BOLSA DA
JOVEM DA NOITE
UMA FRAGMENTAÇÃO NA BIOGRAFIA
POEMA À MULHER IMPERFEITA
NO PÁTIO DA ESCOLA
A CARTA
NO SOL ARDENTE
PALAVRAS DA VELHA MULHER
ABAIXO DA LUA AMARELA
ELEGIA
(para um heróis do Ocidente)
A VOZ DO PARTIDO
PALAVRAS
LEIA-ME! EU SOU SUA BÍBLIA!!!!
leia-me! eu sou sua Bíblia!!!
sinto que você está só,
ansioso,
muito nervoso!!! uh, uh!
preciso de sua alma para alimentar seu
Karma.
oh! Viver seu drama!
ver você se transformar numa brahma!!!
leia-me! eu sou sua Bíblia !!!
vamos, leve-me para a rua,
através de uma noitada anarquista.
sei qual é seu problema:
seu cérebro fica no pênis!!!
sim! leve-me para um motel!!!
satisfarei seu desejo!!!!
um milhão de mulheres nuas!!!
altavelocidadesemdireção
tensãocoraçãocopulaçãoconsolação
vou colocar um revólver em suas mãos!!!
leia-me, eu sou sua Bíblia!!!
BAM! BAM!
BAM! BAM! BAM!
leia-me! leia-me!
BAM! BAM!
BAMBAMBAMBAM!
leia-me! leia-me!
AMÉRICA LATRINA & O GIGOLÔ AMERICANO
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
das ondas do mar, de um galeão
espanhol,
observamos a rainha américa latrina e
seu gigolô americano:
ele fumando charuto cubano.
vamos lá que a rainha tem belas filhas
e ela nos dará bons dotes
e até seu ouro escondido embaixo de sua
saia,
e até mesmo sua prata,
e o gigolô é nosso amigo.
américa
latrina & o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
mendigos à beira da avenida
vomitando fome do pênis em ereção com
bandeiras tremulando,
coloridas, sobre bandejas de frutas
tropicais,
e o verde deu lugar ao cimento,
e os índios fugiram para a floresta,
e outros índios foram mortos pela
cavalaria,
quando fumavam o cachimbo da paz nos
trilhos do trem,
e muito navios trouxeram escravos para
saldar
a jovem rainha américa latrina &
seu gigolô americano.
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
enormes são tuas florestas e rios.
um dia, o deus branco, que por tantos
séculos aguardavas,
regressou em caravelas,
não para trazer auxílio aos Incas,
mas para crucificar Ataualpa no mastro
das caravelas.
trouxeram álcool e doenças também.
mas, tu ficaste calada, adorável
rainha.
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
quando as crianças do paraguay
morreram,
tu não as enterraste em teu solo, mas
em tua memória.
quando o canto da África foi ouvido em
tuas terras,
só tu não quisestes ouvir, preferindo
entrar em tua igreja católica apostólica romana luterana batista,
norte-americana...
tu, rainha.
américa latrina
& seu gigolô americano
américa latrina
& seu gigolô americano
américa latrina
& seu gigolô americano
as crianças despertaram, e foram parar
na frente da televisão,
e não querem mais aprender teus hinos e
orações.
teus operários estão famintos, perdidos
em teus bordéis,
tuas mulheres são prostitutas nas
embaixadas dos impérios
financeiros...
só tu ainda insistes em cantar tua
glória imaginária.
tu, rainha.
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
coro de crianças indígenas: compra um
útero novo, fecundo.
oh! senhora rainha! rainha américa latrina!
entre flechas e arcos
negocia teus pecados por indulgências
que te levem às alturas
resgata nossas terras queimadas
resgata nossas poções mágicas
resgata nosso passado que não chegastes a
conhecer
américa latrinaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
um mendigo: meu pai era chefe de tribo,
minha mãe era a melhor parteira de machu
pichu,
minha irmã é empregada na casa de meu senhor.
américa latrina,
puta enjaulada em si mesma,
não sei se sabes andar em
moléculas desfalecidas
ou no mar onde todos estão
adormecidos.
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
américa latrina
& o gigolô americano
quando eu estavas nu,
não viestes em meu socorro,
e agora apareces em uma concha, como uma Afrodite
indígena,
gritando meu nome na multidão de padres
Foda-se, tu rainhazinha...
américa latrina
respira um ar novo...
só amas o que é grande, forte e poderoso...
experimenta amar o que é fraco.
Porquê não podes sondar os corações dos presos em
tuas penitenciárias?
mulher – rainha américa latrina...
se queres ser realmente grande,
tira tua roupa em praça pública, como o mendigo em
tua rua,
e vomita os mortos que engoliste.
mas, depois volta ao silêncio marítimo
e, sentada em tua cama vazia, relembra meu nome,
porque eu perdi meu conforto para ouvir tua
confissão em tua alcova.
Tu, américa latina.
Tu, américa latina.
Tu, américa
latina.
Tu, américa
latina.
Tu, américa
latina.
Tu, américa
latina.
Tu, américa latina.
Tu, américa latina.
O AMOR CONTRUÍDO NO PÓ
o amor construído no pó
o medo da morte
que te arrasta para
o medo da vida
que te arrasta para
o medo da fome
que te arrasta para
beijar os pés dos senhores
o amor construído no pó
AMOR CONSTRUÍDO NA POESIA
O vendedor indo
de cidade em cidade
e seu amor sem raiz
em nenhuma cidade
Seu medo da morte
que o traz aqui
sua persistência em
conservar
a vida e seu medo
Da fome que o
arrasta
de lugar a lugar
fazendo-o
beijar os pés do
senhor do lugar
seu amor construído
na poeira
* Versão do poema “O Amor Construído no Pó”,
publicado no jornal paraense Diário do
Pará (Caderno D-4), no dia 23 de dezembro de 1988 (Sexta-feira),
LUGARES
se
alguma vez andares
por estradas perfeitas,
que os outros consideram
por demais imperfeitas,
e olhares para o
complexo universo
da tua alma
nos espelhos submersos,
no antiquado paraíso,
terás o teu pequeno mundo
no caos das essências,
e as formas nelas esculpidas,
passageiras, imprecisas,
e a tua pele em erosão
no rio envolvida pelo rio...
o oceano em
silêncio
e a
corrente de gelo
queimando o teu sangue.
O
deserto é para nós,
a
cada movimento nos ciclos,
ou o
ódio ou o amor
nos labirintos,
percorridos por amantes
que
santificam seus infernos
nos muros finitos das ambições
no mar em espiral
de um
cemitério desconhecido,
teus sonhos adormecidos enquanto estás
do outro lado do rio, acenando,
imperceptível,
aos
outros
que já não podem te ver.
AMÉRICA LATRINA
...muchos
&
muchos mares, &
Colombo &
sua rainha nas ilhas índias
&
caravelas
tierra & latrina
America
e suas igrejas e seus machos
e suas escadarias e seu ouro
e seus dançarinos e seus negros
e seus assassinos e seus amores
seus exércitos & seus
dirigentes
seus
índios estrangeiros
&
Colombo
e
sua rainha
para
muitos
mares
ainda...
FASCISNÓLIA
Uma
voz: Tudo
o que pode ser
perdido
É o que você pode perder
pela crença
queimando em você
TUDO TUDO TUDO
É o que
VOCÊ PODE PERDER
ou depois
OU ANTES DO DILÚVIO
Coro:
TUDO O QUE PODE SER PERDIDO,
TUDO O QUE PODE SER PERDIDO,
TUDO O QUE PODE SER PERDIDO.
Uma
Voz: Você corre para o tudo
E é o que você perde
É o que você perde
É o que você perde
UMA HORA ANTES
DO
MUNDO NOVO
UMA HORA DEPOIS
DO MUNDO VELHO
ÁGUA E MORTE
os delicados sons que nos chegam da cidade,
o desespero claro e
limpo dos subterrâneos ocultos.
lá, onde abrigam-se
os mitos do aço e do apodrecimento,
a mulher chora
quando o filho a rejeita.
ele partiu para um
cerimonial,
abandonou os
palácios da música e do amor
fugindo da cidade.
o dia veio e o dia
se foi
amor e ódio e os
caminhos foram sempre os mesmos,
engolindo vida e
morte a cada movimento perdido,
e a existência
declinando sem rumo em uma sepultura esquecida e vazia.
ele partiu
e na cidade a chuva
caia.
Tira tua máscara de
medo e olha para a vida!
então, não te
disseram que seria assim,
ou achavas que
encontrarias um paraíso aqui?
infernos santificados
e não o paraíso
e embora acreditasses
em um ou outro
sabes agora que
perdestes o tempo
ouviram o lamento e
as lágrimas vindas do tempo?
Descobriram algo
mais que disputas entre espíritos?
acreditaram quando
o homem andou sobre o mar e curou as chagas?
Quando eu era uma criança,
ouvi alguém dizer que a vida e não a morte
era desejável.
Um dia vi a mim mesmo:
um rosto jovem na alma de um velho
e agora procuro abrigo.
Virão guerras e virão ilusões
e todas às vezes que tentei gritar
alguém abortava meu caminho.
Ir em direção ao
oceano.
Ir em direção dos
montes e da gente humilde,
enquanto na cidade
os mortos dançam e
habitam,
putas vendem
artificiais paraísos de placenta e sangue,
lésbicas e veados
convidam,
ladrões e ricos
homens celebram a poeira do tempo,
bêbados e ateus, padres
e pastores cegam a multidão,
e o que deixaste
para nós?
e o que deixaste
para nós?
Parem! a guerra
começou.
...é hora de ouvir
o silêncio...
os anjos estão às
portas da cidade,
a espera do sinal e
libertarão o átomo.
Deixa os que amas,
pois é hora de
partir,
e é só contigo que
quero viver.
os desejos são
muitos e não haverá ninguém para sacia-los...
confortáveis são a
seduções
e a roda da loucura
está sem controle
e ninguém sabe a
quem ela atingirá
& o cadáver do
ditador encontra refúgio na imagem da t.v.
e as pessoas andam
e confundem sonhos & realidades.
sonhos &
realidades...
realidades &
realidades...
amores &
amores...
vida &
existência...
Água & Morte!
Água & Morte!
Água & Morte!
Água e morte!
Água e morte!
Água e morte!
Água e morte!
Água
& Morte!
Água & Morte!
Água e morte!
Água e morte!
Água e morte!
Água e morte!
Eu sou o que sou
e nada sei para
falar alguma coisa.
e andei na extensão dos meus
caminhos,
e vi os mortos e as muitas
lágrimas choradas por eles,
e andei na extensão dos meus
caminhos,
e vi o sangue derramado nas
ruas da cidade,
e andei na extensão dos meus
caminhos,
e vi a destruição e a
desilusão,
e andei na extensão dos meus
caminhos,
e passei por Damasco e
Jerusalém,
sempre andando na extensão
dos meus caminhos.
Por muito tempo
habitei no subsolo da cidade
e amei ali muitos
que passaram por mim
e recordo cada
rosto que conheci
e agora retornei ao
oceano... e à vida.
irmãos &
irmãs!!!
o silêncio é completo
em nós
e nossas orações
são ouvidas para além do mar e para além das estrelas
construiremos novos
céus e novas terras
a cada passo que
podemos dar...
todos sabem o que
fazer.
...talvez saibam o
que fazer.
AS CINZAS DO AMANTE
NA BOLSA DA JOVEM DA NOITE
o
amor perece numa casa
pintada
com rostos na memória
e
tu sais para a rua
procurando
um deserto para unir com o teu,
e
numa orgia de álcool
revelas
teus segredos aos amigos,
pendurado
pelo cordão umbilical da terra,
agonizando
como um feto no útero do universo,
expondo
teu crânio e tua alma
a
um estranho.
nem
bem viras as costas,
e
já vem o medo dissecar teu passado.
paga-se
bem por uma jovem da noite
iluminada
pela rua.
ela
enrosca-se no poste
enquanto
cobra por teu alívio
algumas
notas envelhecidas.
é
o preço da tua liberdade...
tua
a violas e estais livre do pecado.
observas
sua intimidade
através
da fresta de um espírito negro...
será
o amor tão pouco para dissolver-se
num
charco de amantes?
custará
o amor tão pouco
que
se pode pagá-lo com dinheiro?
Agora
que sabes a verdade.
observas
a jovem da noite
e
todas os seus movimentos
partindo
no primeiro trem para outro quarto.
melhor
seria que beijasses
a
terra de minha sepultura,
ajude-me!
não quero morrer ainda vivo.
ajude-me!
não quero a ignorância do conhecimento.
ajude-me!
antes de partires com minhas cinzas em tua bolsa.
UMA
FRAGMENTAÇÃO NA BIOGRAFIA
nós aqui – nós ali – nós em nenhum lugar – aqui & ali –
em nenhum lugar
nós – em todo lugar – onde houver o vácuo & a luz se
propaga – no aqui & ali
na ossatura da lua – ou no silêncio do lobo
nós – no fim - & nós – no princípio - & no ontem
& no amanhã – o hoje já não existe – no fim & no princípio – no
interior dos círculos – dos buracos
do fim – para o princípio - & outra vez – o fim – nas
orações em volta do sol
lamentação:
em um lugar para lugar nenhum lugar, gerando sempre um
caminho
para lugar nenhum – para nenhum caminho
quando, por indiferença, escondes o rosto no meio da
multidão
no meio do número, multidão individual – não coletiva – não
una –
dispersa – em confusão – nas palavras no muro
as lágrimas no muro – os olhos perdidos no jardim
para jamais serem encontrados outra vez –
nem céu renovado – nem fogo renovado – nem oceano antigo
o coração iluminado num animal
e a porta aberta:
para
o campo, atrás da estação
& o grito imperceptível na boca, efêmero, sem vida,
ecoando na confusão dos carros,
e assim semeias teu osso antigo no cemitério de carros,
caindo nas pedras ordenadas – ou no lixo iluminado – ou ainda
na distância
e o animal fere-se todo – no meio da maquinaria fria –
defecando, rindo, chorando, ou uivando –
esfomeado num canteiro de livros –
indo de um caminho para um possível lugar – na geleira –
na direção do vácuo infinito
no ponto úterouniversal
de um buraco de t.v.
nós te amarelos, apenas
num sonho.
nós te seguiremos,
depois de ouvirmos a pedra.
nós te sentiremos, no
teu corpo, num cemitério elétrico.
POEMA À MULHER IMPERFEITA
A mulher imperfeita foi aquela
que o marido degolou com uma navalha
em uma madrugada de chuva, dizia a
imprensa
A mulher imperfeita foi ferida
pelo marido quando ele a viu
com outro homem num carro
mas eu não a considerava imperfeita
ou mesmo perfeita, pois eu estava em
sua cama naquela noite,
ela era tão somente uma pequena flor,
perdida em um jardim de cosméticos,
em disputa com os raios do sol,
e seus cabelos de fogo escorriam
pelos ombros como mel
não, eu não diria que ela era
imperfeita
ou, pelo menos, mais imperfeita que o
marido
que naquela madrugada voltava de um
motel
onde passara a noite na companhia
da mulher de um amigo seu
NO PÁTIO DA ESCOLA
Longe é sempre uma
antiga manhã apagada da memória, meu querido.
Longe... é um dia
que se perdeu na multidão dos dias, meu querido.
Longe... é um dia
que não tem horas, nem minutos, meu querido.
Longe... e jamais voltará na memória...
longe, muito
longe...
no começo, na
origem...
longe... muito,
muito longe, meu querido.
naquele dia,
estavas sentado no pátio
do colégio
ouvindo o rumor das
pequenas ondas humanas
correndo pelo
jardim,
iguais aos
peixinhos no aquário do avental da professora.
...e o que será de
nós no futuro?
eles não dizem,
eles não sabem.
maria não te ama
mais.
maria dança na
beira do rio.
diz adeus às belas
manhãs,
recheadas de doces
e lágrimas...
diz adeus às belas
manhãs
elas não voltam
mais,
e a mulher tem
muitos maridos e nem um filho...
a força embrionária
que fez de ti um espantalho.
De pé, em cima de
uma ilha, lá estávamos nós,
e nus, choramos
no brilho do sol
inicial.
guarda aquela manhã
em tua estória...
são 11 horas
são 11 horas
e novas crianças começam a sair outra
vez das escolas
e talvez encontres um rosto semelhante
ao teu
ao ver a poeira assentada em teus
olhos-cristais,
ao ver a poeira assentada em teus
olhos-cristais.
vai, meu querido, vai pela floresta de
carros,
foge do fantasma que trouxe o espelho
com a tua imagem.
vai, desaparece entre os limites do
oceano-concreto
onde os bons rapazes perderam suas
pequenas almas.
Carlos é hoje um
mendigo,
Ângela matou o
marido,
Antônio seguiu a
advocacia,
Andreia tem 2
filhos e uma neurose,
José enlouqueceu,
Edilson cumpre pena
em Americano...
pobres rapazes,
gerados no subúrbio
copular da modernidade provinciana,
em baixadas, em
grandes casas,
regando a sepultura
com boas notas,
cantando o hino
nacional e bebendo coca-cola.
eles nunca sabem o
futuro
quando aquelas
crianças estão rindo,
atrás de livro,
carteiras,
com as mãos sujas
de areia.
mas
o pátio da escola permanece inabalável...
o pátio da escola é de cimento e
lajotas...
o pátio da escola é um mar
que devora as águas, vindas da nascente
de um rio
e nunca se enche.
não encoste suas grandes mãos imundas em nossos pequenos
corpos!!!!
A CARTA
“minha carta suicida adormece
numa folha de papel em branco a cada ano”
“no quarto ao lado soa o canto de uma prostituta cega;
na madrugada irei ao seu pequeno túmulo
visitá-la e adornarei de visões seu silêncio úmido,
rindo com os dentes que sobraram na minha boca
em sua carruagem nupcial para dementes”
“anjos giram o mundo em meu quarto...
a faca quieta em cima da mesa,
olho pela janela o mundo que se dissolve na rua
chove muito durante a noite”
“no outro quarto
um velho homem toca um violino.
dever ser estrangeiro
sua melodia penetra em minha carta,
uma pequena serpente sonora rindo nas paredes invisíveis”
“engraçado! devo ter esquecido alguma coisa
que gostaria de lhe dizer...
não lembro...”
“minha carta suicida adormece
numa folha de papel em branco
nua como adão e eva
quando fugiam do paraíso”
“ ‘wer beim juden kauft ist ein volksverräter’, gritou o
velho no fim da melodia”
NO SOL ARDENTE
Agora você pode dançar,
Ainda pode dançar na
minha escuridão.
Dance, Dance,
Para os que voltam da
cidade.
Corte, Corte,
Minha cabeça,
Expondo-a na entrada da
cidade.
O único lugar que
você conhece no sol ardente: os quatro cantos da sua cama.
3 vezes,
3 vezes,
3 vezes
eu chamei seu
nome
nos jardins que separam meus
espíritos...
quebre seus ossos
antes que o sol comece a chorar.
eu sou um morcego,
eu sou um humano,
eu sou um
entardecer,
misture o seu
sangue ao meu.
deixe meu sangue
invadir seu
corpo...
meu
sangue
doce,
meu
sangue
árido.
Senhora, Senhora,
minha árida Senhora,
que trata a todos
com amor,
quando lhe pagam bem
e todos colheram
pequenas mulheres,
para
adornarem seus haréns.
nem amor, nem
ódio...
homens, homens,
[AQUI
Encontramos o prazer
nos jardins noturnos
de
minhas amadas senhoras]
Dance, Dance,
Tudo pode dançar na minha escuridão.
Dançarinos e
dançarinos...
Dance, Dance,
bela
dançarina da solidão,
e eu enxugarei suas lágrimas.
PALAVRAS DA VELHA
MULHER
Despeço-me de mim mesma,
Meu tempo, minha chuva e meu devaneio.
Despeço-me de mim mesma,
Meu beijo, meu amante.
E
meu amor, e meu jardim, e meu telefone.
Meus sonhos fogem e minha porcelanas se quebram,
Em meu coração disforme.
Declínio
do verão.
Eu sou a senhora,
A
senhora destas ruas... sem ninguém,
Repletas de homens e mulheres,
de crianças e gatos,
e nem um amor
na memória ao amanhecer.
e desse jeito, despeço-me de mim mesma
e de minha casa, de meus sentidos.
Os vidros da janela se partem
Um a um,
Rangem as portas
E meus homens não retornam
Como faziam antes.
Eu sou a senhora dessas ruas,
Eu sou uma
desconhecida
No interior de meu
amor e de meu ódio,
E as lágrimas podem guardar suas filhas e oculta-las de
uma desconhecida,
E desse jeito
Despeço-me de mim mesma,
Despeço-me de mim mesma,
Em minha chuva de flores...
ABAIXO DA LUA AMARELA
Rosto embalsamado
Pelo álcool
Uma já se foi
Para viver um dia
Vida assim não haverá
Nunca mais
ELEGIA
(para um herói do
Ocidente)
Aqui viveu,
Aqui
chorou,
Aqui sonhou e riu,
E ainda teve tempo para
Fuder com mulheres de vida rápida,
Ricas ou pobres, ou ainda
Enfeitiçadas...
Sem ser político, andou sem ter
direção,
cuspindo
em tudo o que viu e ouviu
Isso, até ontem a noite,
quando a polícia libertou sua alma
libertária,
Abrindo quatro magníficos jardins
em
seu crânio iluminado,
Após ter estuprado
uma
garota
que lhe quis negar o amor.
A
VOZ
DO
PARTIDO
o partido falou
&
as ovelhas cantaram.
o partido traçou os rumos
&
nós o seguimos.
ouviram-se gritos e música
germinando
na cidade,
sem movimento,
diante
da voz do partido.
e se o partido falhar,
as
ovelhas ainda cantarão...
a multidão sempre estará alerta,
sempre sufocada nos gritos,
descendo & subindo.
mas onde se perdeu a tua voz no meio
dela,
a
tua voz sem importância,
a tua voz que morre nos
escritórios,
nos comitês,
nos quartéis.
A voz do partido
&
as milhares de vozes,
a igreja hermafrodita, o economista
ilusionista
ou o industrial no manicômio.
é a voz do mundo,
a voz do ocidente,
a
voz do juiz,
a voz do marido
e o submisso silêncio,
a
súbita morada no paraíso entre duas bombas,
primeiro sonho para a mulher enganada,
profundo sono para o judeu em sua câmara de gás.
e o partido é tudo
no emblema posto na pele do velho louco,
andando nas ruas do subúrbio sem identidade.
PALAVRAS
e o ódio pairando
por todos os lados
e nenhuma união...
apenas reunidos para
o saque no banco...
ocultos,
devoraram
um milhão de acontecimentos
e não apreenderam nem um movimento.
então, eu vi algumas damas no jardim de Herodes
nuas, rodeando a cabeça de João Batista.
Vista
consagrada de imagens secas, mutiladas pela televisão,
realidade
mutilada,
tempo
mutilado, não recordado em esquinas,
mas
no banquete bem nutrido de miseráveis oculares
muito
foi visto e muito foi ouvido,
por
favor, eu quero o descanso no paraíso.
A Dama Tímida,
a mão que oculta a carne,
entrelaçada, que reveste o espírito
com risos sem sentido.
O lugarejo fechado do sul,
com a mente em redemoinho, sempre para o dia anterior
voltada.
Todos os fins correm para as referências do teu fim
e o teu fim em todos os fins não está;
o teu fim está em alguma ordem em desordem,
ou
num campo aberto pela imaginação
em que cada poente é uma espera para um retorno
possível,
& estando ali, ou do outro lado deste lugar,
não há existência que habite sem conceber o que é
possível,
onde as portas estão fechadas & as casas declinando
para onde os ratos encontram o exílio
num muro de palha erguido para o vento.
A morte é e sempre será prisioneira da constante morte da
vida;
porém, só a morte da vida construirá um novo caminho
para além do infinito, para além dos portões desta
cidade...
manhãs em fragmento, horas em ordem feitas para a
desordem,
aurora estilhaçada (pontos de ônibus)
por aqueles que limitam o jardim para nada criar
& assim fizeram aqueles que ontem estavam nos pontos
de ônibus
& agora germinam escassez nos cemitérios,
copulando com quantos pelas ruas caminhassem
até que uma onda de afrodisíacos os levassem às
sepulturas
ou a um novo altar de revistas pornográficas,
onde uma janela nos mostra o campo descolorido.
Procuro a flor, a voz não mais existe nas horas do
relógio.
A voz está mutilada pela confusão do silêncio
& as horas do relógio estagnadas,
o vento, a dama, e uma antiga dança ainda, em que a
música
não pode ser ouvida.
Ali, no campo descolorido, onde me disseram que vivia a
inteligência
fiz uma casa e oculto meus significados,
ali tudo converge para um fim uno,
& ali eu vi um profeta crucificado
na proa de um barco, sem rumo e sem referência,
pois a corrente que nos animava o inconsciente se rompeu,
& fomos para os vales
deixando a cidade para trás,
& fomos para as montanhas
deixando a cidade para trás,
Celebraram o funeral no meio de uma chuva elétrica.
Celebram a caverna ocular,
vomitando sonhos na retina sem brilho.
Nem descanso para aqueles que retiravam todas as horas
para não viver nenhuma hora.
Ela
levantou-se no meio de uma noite comum,
de
uma quarta-feira comum,
assustada
com um pesadelo comum,
e
ficou olhando para a rua comum,
e
para a cama comum e vazia;
e
se debruçou na janela, chorando.
Depois ela foi ao armário, e depois ao banheiro, e voltou
para o quarto,
e apanhou o vibrador em forma de pênis...
tomou um tranqüilizante comum,
acendeu um
cigarro comum,
e um coração
de amor artificial também comum.
whaleia
quando viu um homem
se afogando no rio,
que agora lhe
parecia um oceano, não estendeu sua mão, deixando-o morrer,
andando sobre as
águas;
a morte beija-lhe
os lábios empoeirados,
metade de seu corpo
na lama,
não sou um número
no meio desse infinito, eu crio poemas e música.
A
Norma
a
norma é esta:
amar
a ti mesmo com todo o egoísmo possível
e
depois despojar teu eu gasto de todo o eu possível
para
amar a quem não amas.
Deixe-me
delirar, Doutor,
até
que eu possa olhar
os
pontos incandescentes
na
linha do tempo, Doutor,
na
linha do tempo, Doutor,
através
de um muro cinzento,
até
que eu vá ao manicômio para
vê-los
correr pelo
campo
da imaginação,
e
sem andar no cemitério burguês
e
sonhar seus sonhos num jardim...
o
fim da ponte
A
dama está viva
rindo
na ponte,
desdentada,
do
homem sem relógio,
pinturas
movem-se na sua parede
visual...
as
lágrimas e os risos que secaram
no
muro do cemitério...
Tão Sonolentas,
isto é uma
grande
mentira...
não
existirão mais
lágrimas,
nem risos,
nem
cemitérios,
nem fábulas,
nem
encantos, nem fadas,
enquanto os
portões enferrujados
da manhã
nova
não se
abrirem para a escuridão.
Ratos na mente,
Fome na mente,
A imaginação foi banida,
E no campo, o concreto
Emerge, num sol estrelado
O
Espelho
O ideal é conheceres
a ti mesmo, olhando-te
profundamente
neste espelho.
Não me podes ajudar.
Não posso te ajudar.
O que sei apenas
irá comigo.
O que nunca pude saber
Também irá comigo.
É ideal conheceres
a ti mesmo...
então saberás a quem
velam no templo.
que
luta justa é essa,
se
jamais poderás
ganhar.
Eu
apenas ando
atrás
de
uma
nova
alma.
cada palavra
que
digo,
cada palavra
que
desminto.
não teve
importância...
Eu quis ter outra
Existência,
Outra alma...
essa multidão onde desapareces
incógnito,
no meio da eletricidade,
jamais saberás...
Nos ensinaram
tão perfeitamente o caminho
que nem Deus crê em mim.
O corpo deteriora,
o amor que você
quis salvar.
O amor que nós
todos
quisemos
salvar.
Um belo corpo,
que vai se deteriorando.
Eu quis tanto ser salvo,
Eu quis tanto ser salvo,
Que acabei me perdendo.
Aithas
Eu quis fugir de você...
uma luz além de mim
iluminou-me um dia,
uma energia que eu não
pedi,
uma energia que não
gostei,
agora volta-se contra mim.
Exorcismo
Eu paro, você
para,
nada ouvimos,
apenas sentimos,
apenas sentimos,
você para,
apenas ouvindo,
venha
sentir a fome que eu
sinto.
Diga adeus ao
paraíso enlatado.
Nação sem face, homem sem nome,
com toda as tuas torres de Babel
feitas com bolo de concreto...
com teus
super-heróis,
obrigado por me deixares dormir
em teu deserto,
com o teu palco de estrelas cadentes,
com teu filho de
olhos
azuis chorando no
metrô selvagem.
A Esposa & o Cadáver...
Ela, parada no meio das
velas,
foi a única que não
o esqueceu,
Parada, ela diante daquele
monte de carne apodrecida, velando
a memória
do amor ou do ódio,
em um ponto do tempo que passou.
Eu teria te amado se não tivesses
gostado da poesia
que te dei
e pelo meu ódio eu te amei
pela tua falta de prazer líquido.
Afinal, para que serve a poesia,
se como tudo, não poderia ter
significado...
A Fada Cinzenta,
os olhos do homem
sentado no banco da praça,
com sua maleta cheia de iluminuras,
diante da fada cinzenta,
voltou-se para todos
os lados possíveis, em todos os rostos
que passavam, e os carros...
quando os sábios do partido
tentavam convencer o idiota
dos benefícios sociais dos seus objetivos.
E ele foi até o deserto
e lá encontrou um profeta:
se queres saber a verdade,
o todo está em algum ponto do vazio.
As Máscaras...
em cada rosto
no ônibus
as máscaras vão da
entrada para a saída,
e, quando eles respiram
à meia-noite de Sábado, voltam para
suas casas
em algum conjunto habitacional,
perto do coração de algum
cemitério.
As palavras de amor, belas e doces,
são mortalhas,
mulher!!!
o amor por
todos os lados recoberto por fotografias
& o universo
inteiro girando nas folhas de jornais
& o
vento velando as folhas desgarradas numa rua iluminada.
por quanto
tempo estivestes adormecido, ancião?
andando
pelas terras do rei,
segurando
nas mãos de estranhos os espelhos com a tua imagem possível,
sem magoar
nenhuma mulher, sem juntar nada para o tempo perdido,
cabelos de
crianças no jardim,
& ódio
& amor & fome & nenhum lamento.
roubei uma
porção de terra dos continentes
para fazer
uma ilha para as cabras
& tenho
que ir até o outro lado do rio
para encher
a taça de ouro que vimos no jardim para verter a essência
na água e no
rio, nos portões da cidade.
transformando
a queda numa elevação,
nos
movimentos apenas pressentida,
para
reabrir o paraíso.
deveríamos acender
o fogo e rir dos acontecimentos,
fazendo deste
encontro um princípio para as linhas do tempo.
O vento bateu, e as
portas caíram,
já fazem décadas...
os ossos embranqueceram...
obscura fresta nos
olhos de um morto...
um cemitério de
imagens brancas descendo pelo abismo dos séculos
numa rua de mão
dupla.
A noite declina
na
manhã.
Damacisne
observa, com a fumaça do cigarro
nas narinas,
a casa em desalinho,
a via para o
esquecimento é a morte...
há cinco séculos a vida não é
vida, se é que já foi...
Pétalas de
poeira nos lábios,
alguns dizem
adeus
e outro não
tem o que dizer,
gente &
gente & gente
nas ruas,
gente caindo, gente se levantando
apoiados nas
sombras de cada um para ver a queda de todos.
EDITORA MORANGOS & UVAS
(SEACULUM OBSCURUM)
EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM)
GRAVADORA ARTE DEGENERADA
SÉRIE BLITZBUCH
(1984 – 1993)
(2002-2011)
AMÉRICA LATRINA E O GIGOLÔ AMERICANO
1ª EDIÇÃO: 1988
2ª EDIÇÃO: 2005
“Tudo o que é
esquecido
permanece em
sonhos obscuros do passado...
ameaçando
sempre retornar.”
(Velvet
Goldmine)
Editora Ogmios (Seaculum
Obscurum):
Website:
www.seaculumobscurum.com
e-mail:
editoraogmios@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário