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segunda-feira, 22 de março de 2021


O LIVRO “SETE PÉROLAS PARA HOLLANDRI” (MAIO-JUNHO DE 1986).

 

Sete Pérolas para Hollandri: a versão original de 1986, datilografada, 
e a versão de 2000/2005, digitalizada.

Entre os meses de maio e junho de 1986, eu fiz dois livros que não se encontram na relação de trabalhos produzidos pela Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu dei estes livros para Heitor Meneses e para uma amiga, Amanaci Gianacini. Eu não sei o que eles fizeram com estes livros. O interessante é que a capa destes livros tinha o formato retangular dos livros comuns, e não o formato de capas de disco. Hoje, os livros da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) tem o mesmo formato daqueles livros que desapareceram. Para falar a verdade, eu não lembro se foi mesmo entre os meses de maio e junho de 1986 que eu escrevi esses livros.

 

O poeta americano, naturalizado inglês, T. S. Eliot, uma grande influência na Editora Ogmios.

Após o Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” e os dois livros acima mencionados (dos quais eu não lembro nem sequer o nome), eu escrevi outro livro de poesia: “Sete Pérolas para Hollandri”. Pela primeira vez, a presença da obra de William Butler Yeats, Ezra Pound, T. S. Eliot e William Carlos Williams foi sentida em profundidade nos meus poemas. Ao ingressar no Curso de Direito, em 1985, eu dei início a uma atividade paralela na Universidade: eu fiz, por conta própria, um abrangente Curso de Letras e Artes. Somente em 1989 é que eu fui visto andando com livros do Curso de Direito. Antes, as pessoas só me viam andando com livros de poesia, pintura, música e cinema. Eu gostava também de filosofia. Tendo a companhia de Bob Dylan, Syd Barrett e Jim Morrison, eu realizei uma extraordinária pesquisa sobre a poesia e a literatura em geral, dos gregos aos americanos, passando pelos poetas malditos da frança. Naquela época, eu já conhecia a poesia beat. Eu já mantinha contatos com a obra de Allen Ginsberg, e ouvia e lia sobre a obra e a história de Jack Kerouac, Gary Snyder, Michael McClure e William Burroughs. Eu também já conhecia a poesia de Dylan Thomas e Sylvia Plath. Outra influência marcante em minha poesia foi o cinema. Desde 1983, eu e Heitor Meneses sempre íamos ao cinema assistir filmes que eram denominados “filmes de arte”. Assim, eu entrei em contato com o cinema francês, italiano, sueco, alemão e brasileiro, principalmente as obras de Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder. “Berlin Alexander Platz”, a série para a televisão alemã feita por Fassbinder e inspirada no romance de Alfred Doplim, teve uma grande influência em minha poesia e em minha música. Durante o ano de 1986, eu tive a idéia de fazer um filme que contaria as histórias das vidas de algumas pessoas que andavam como sombras numa praia deserta. Destarte, o livro “Sete Pérolas para Hollandri” foi um grande momento da minha poesia. Um dos poemas do livro, intitulado “Sombras”, foi publicado no dia 1º de junho de 1986 (domingo), no jornal paraense “A Província do Pará” (2º Caderno, página 4). Porém, eu já estava determinado a produzir um segundo Livro-Música, mais elaborado do que o livro anterior. Todos os livros anteriores foram escritos à mão, com as letras sendo desenhadas em estilo gótico. O livro “Sete Pérolas para Hollandri” foi escrito na máquina de escrever e assim foram escritos os que vieram depois (a exceção foi a segunda edição do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, feita provavelmente no primeiro semestre de 1987).

 

O poeta americano Ezra Pound, outra grande influência na Editora Ogmios.

Naquele momento do ano de 1986, como eu já havia produzido vários trabalhos (do livro “Poemas” ao livro “Sete Pérolas para Hollandri”), resolvi enviar uma carta para Tom Rapp, do Pearls Before Swine. Na contracapa do álbum One Nation Underground havia um endereço: ESP-DISK, 156, 5th Avenue, New York 10010, USA. A carta (infelizmente, ela foi rasgada alguns anos depois) chegou a Nova Iorque e voltou para Belém, com a informação do correio norte-americano de que tal endereço não fora encontrado ou não existia mais. A pessoa que traduziu a minha carta do português para o inglês foi Amanaci Gianacini. Na carta eu perguntava para Rapp se ele ainda estava vivo. Eu dizia a ele que eu havia criado um projeto artístico denominado Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte de Degenerada, inspirado, entre outras coisas, pelo Pearls Before Swine e pela ESP-DISK. Aquela foi a primeira vez que o nome Seaculum Obscurum foi ouvido fora de Belém: na carta eu coloquei o nome da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum).


O poeta americano William Carlos Williams, uma grande influência na Editora Ogmios.



 hhh

 

 ***SETE

 PÉROLAS PARA HOLLANDRI***


Marco Alexandre

 da

Costa Rosário


%

%POESIA%

%


Editora Morangos & Uvas

(Seaculum Obscurum)

 

*BLITZBUCH*

1986



SUMÁRIO

 

POEMA PARA OS CRISTAIS

(frammento di un delirio)

 

POEMA PARA OS CRISTAIS

(SEGUNDA PARTE)

(vivagno di un sogno etrusco)

 

SOMBRAS


 O RETRATO DE UMA MUSA ENVELHECIDA PELOS ANNOS

 

FACSIS ÊNDOLO PHISCODÁLICRO

 

CHANT DE HOLLANDRI

 

A QUEDA

 

A QUEDA

(Uma Continuação)

 

 

 

 

 POEMA PARA OS CRISTAIS

 

(frammento di un delirio)

 

 

Eis aqui os filhos da prostituta bélica

rompendo as manhãs em grande festas

sobre as primeiras eras.

 

                               Tu,

 

nesta manhã sem glória,

procuras a

alegre musa das videiras

em chamas nunca reveladas.

Canções de antigas visões

vivendo a eternidade nas

quatro partes de um adágio

& todas as verdades vindas

da tua boca tornam-se mentiras

& todos os velhos deuses

mortos no passado

tentam hipnotizar

teus sentidos

vulneráveis.

Sabes o que um dia foi

verdade para um homem.

Vejo-te na frente de um espelho

acariciando os seios,

com as mãos marcadas pelo sangue

de um varão

acariciando os mais belos sonhos

de um sonho.

Deitas em tua cama

como frágil cristal quebrado

querendo os segredos descobrir

nunca tantas delícias vividas

nunca tantas dores sentidas

nunca tantos prazeres percebidos

SESSUALE STUNDE DI HOLLANDRI

 

  

 

POEMA PARA OS CRISTAIS

(SEGUNDA PARTE)

 

(vivagno di un sogno etrusco)

  

decapitazione

   

Estive morto por estes dias

andei e andei e andei e andei

 e estou cansado de sepultar tantas vidas.

Deves te apiedar de mim,

eu, o matador de vidas

longe, longe, longe...

tão longe como o céu,

eu me recordo de antigos dias

à beira da estrada

quando olho para o selvagem oceano.

Talvez ela aguarde minha chegada...

longe, longe, longe...

tão longe como o céu.

Recordo suas feições

no espelho da memória...quão bela era... ela...osacri...

seus negros cabelos...serpentes negras em constante mutação...

Andei

por jardins outrora europeus,

vi a dama européia e suas concubinas argelinas

em seu quarto mantendo

antiga autoridade,

assediada pelos membros

da comunidade capifascistalista.

allimento dos cathólicos

por razões óbvias

elevado aos degraus máximos da insanidade dos vermes humanos.

Estúpidos latinos

Grandes suas illusões...eternos carrascos...

Violadores da própria morte in vi ta.

Talvez ella recorde minha face...

longe, longe, longe...

tão longe como o céu.

era triste sua palavra

era pálida sua tetrapétala

longe, longe, longe... eu a vi antes da decapitação

da Etrúria.

 

T. S. Eliot.

  

SOMBRAS

 

Poema da Editora Ogmios publicado em jornal paraense em 1986 (Belém-PA).

 

quantum putatus est

era esta a única saída

ullus incrementum

nas sombras da hora

 

era para mim inconcebível

tal ondulação

exordium virgo

perdido entre estas vagas

precipito minha existência

para o fundo de um abismo surreal

 

quantum putatus est

não era esta a última glória

mas o princípio dos infernos

eu bem tentei por esses dias

passar desfigurado entre os montes

laudauimus laudauimus laudauimus.

  

*Este poema foi publicado no jornal paraense A Província do Pará (2º Caderno, página 4), no dia 1º de junho de 1986 (Domingo), em Belém, Estado do Pará.


Ezra Pound.


O RETRATO DE UMA MUSA ENVELHECIDA PELOS ANNOS

  

Entre as folhas do passado

eu vi seu rosto juvenil

 

esta                                         cadência                                 pelos

antiga                               deformada                                    annos

 

esta                                 agonizante                          as                                do

  imagem                                      entre                         folhas                      jornal

 

ella              suporta             nova                    nascida                      última

não                  a                centelha                         na                                    década

 

agora           occulta         antigo                        entre             lágrimas                     centauro.

           Ella                  o               enthusiasmo              as                            do

 

Alli, ella espera o luxuriante desejo de se transformar em pedra.

 

  

Livro de poesias de William Carlos Williams publicado no Brasil.


                    FACSIS ÊNDOLO PHISCODÁLICRO

 

“Coisas há aí que                               Não quero ferir tuas alegrias com meu canto

passam                                        nem atormentar o vôo dos pássaros.

sem                                                 Não me forces a dar aquilo que

ser                                                    jamais poderia ser dado...por um homem.

criadas,                                         que queres que eu faça neste precioso momento?

E coisas criadas                                  Olha as ondas do oceano celestial,

há                                                             repassa os sentimentos pelos recantos da experiência,

sem                                                 percebe as lendas naufragando na masmorra da

ser                                                                                                                                         existência,

passadas...                                    engole as palavras embarcadas na nau dos sentidos;

mas o melhor de tudo                                                                                                               limite.

é crer em CRISTO...”                                                                                                    do

(Camões)                                                                                                         portais

                                                                                   os

                                                           atravessei

                                               Eu

                                                           Nós atravessamos, nós atravessamos.

                                               &

                                                           Nós pagamos altos preços, nós pagamos altos preços.

                                                       paguei

                                                                       um

                                                                                   caro

                                                                                               preço

                                                                                                          por

                                                                                                                      esta

                                                                                                                                  ousadia.

                                               Era preciso romper com a própria existência,

                                               aliviar esta sentença

                                               para encontrar a eterna existência,

                                                       ver os sonhos de Cristo entre as montanhas,

                                                       clarear os delírios, mantê-los acorrentados,

                                                       lapidar a essência.

                                                      A normalidade é para mim um vício detestável;

                                                       Rompeu-se a corda...

                                                       Quem ainda pode voar?

                                                       Levo minhas certezas para a margem da incerteza

                                                                                                                                  máxima.

                                                       Rompeu-se a corda...

                                                       Quem ainda pode voar?

 

  

CHANT DE HOLLANDRI

Eu não queria te fazer chorar...

era apenas um sonho seiscentista do passado

   quando não havia ainda

       estas

   f

   á

   b

   r          olha profundamente para este

   i                  jarro chinês:

   c          tão clara como cristal

   a          era outrora a sua forma.

   s          Elle é agora

              peça de museu como os homens da terra

                       Eternamente mudo em seu barulho

                         Silenciosamente estéril em sua agitação

              Adormecido em seu próprio delírio

                     Execrado pelas senhoras das altas rodas

                 Exaltado pelos mortos.

        quebre este jarro...quebre este jarro.

                 Agora é apenas dejeto de uma

                                                                         f

                                                                         á

                                                                         b

                                                                         r

                                                                         i

                                                                         c

                                                                         a

 


A QUEDA

  

                        CAMINHO DE TORTURA

                        CAMINHO DE TORTURA

            Assim o levamos, as mãos acorrentadas,

                        Sobre o silente céu vermelho.

                        TOCA O TAMBOR

                        TOCA O TAMBOR

              O monte já é visível pela multidão:

                  perpetuação de resignação e perfeição.

                    Em ociosos passos as aparições

            encontram seus espaços;

              platéia de piedosos dementes, ansiosos por visões

                      de rebeldia,

a contemplar um deserto humano entre as cortinas

                                                                           do firmamento.

                        TOCA O TAMBOR

                        TOCA O TAMBOR

              Há repetição no canto,

                     este mesmo canto

              vindo de um inquieto antro,

            testemunho da glória e dos erros de eternos santos,

             movendo a compaixão e a ira num simultâneo movimento

                      Os três condenados avançam...

               aquele rosto vindo de um tempo remoto,

                        puramente humano

               neste derradeiro momento.

                   Mãos e pés traspassados

                   pelo cravo,

                     embebedando o madeiro com suor e sangue.

                       Eis a procissão presenciando

                           a lenta multiplicação de cada pecado,

                   de cada virtude a mutilação.

Nos olhos do espectro

   na cruz pregado, imagens são erguidas de todos os dias

                        de eras futuras.

 

  

A QUEDA (Uma Continuação)

 

                     Peste e fome, morte e guerra...

                         São ellas irmãs num mesmo segundo.

                     Deverão ellas, nos próximos dias,

                        ser a força da salvação;

                       quatro mulheres

                         pela lepra mundana marcadas,

                         descendo ao átrio,

                                       semeando a vingança sobre a podridão humana.

                              TOCA O TAMBOR

                              TOCA O TAMBOR

                     A luz martiriza a respiração,

                   o corpo é elevado pela morte

                     a grandes alturas.

                Ergue-se uma catedral eterna

                       em volta da magna cruz.

                     Estremece a terra,

          vibrando os espelhos da desolação,

              nas faces dos bufões.

Vagarosamente os mortos

    voltam à cidade,

    querendo ocultar esta

           petrificada recordação.

                              TOCA O TAMBOR

                              TOCA O TAMBOR

     Vão os fiéis companheiros

levar o corpo à sepultura celestial, à celestial sepultura,

           e nós, redimidos da queda,

                vamos, de queda em queda,

                         aos restos dos escombros,

                     silenciosamente aguardar a restauração.

 


EDITORA MORANGOS & UVAS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

           GRAVADORA ARTE DEGENERADA

 

SÉRIE BLITZBUCH

 

(1984 – 1993)

 

(2002-2011)

  

SETE PÉROLAS PARA HOLLANDRI

 

1ª EDIÇÃO: JUNHO/ 1986

1 exemplar.

(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)

 

2ª EDIÇÃO: 2005

1 exemplar.

(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)

  

“Tudo o que é esquecido

permanece em sonhos obscuros do passado...

ameaçando sempre retornar.”

(Velvet Goldmine)

  

Editora Ogmios (Seaculum Obscurum):

 

Website: www.seaculumobscurum.com

 

e-mail: editoraogmios@yahoo.com.br

 

 

 



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