O LIVRO “SETE
PÉROLAS PARA HOLLANDRI” (MAIO-JUNHO DE 1986).
Entre os meses
de maio e junho de 1986, eu fiz dois livros que não se encontram na relação de
trabalhos produzidos pela Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu dei estes
livros para Heitor Meneses e para uma amiga, Amanaci Gianacini. Eu não sei o
que eles fizeram com estes livros. O interessante é que a capa destes livros
tinha o formato retangular dos livros comuns, e não o formato de capas de
disco. Hoje, os livros da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) tem o mesmo
formato daqueles livros que desapareceram. Para falar a verdade, eu não lembro
se foi mesmo entre os meses de maio e junho de 1986 que eu escrevi esses
livros.
Após o Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” e os dois livros acima mencionados (dos quais eu não lembro nem sequer o nome), eu escrevi outro livro de poesia: “Sete Pérolas para Hollandri”. Pela primeira vez, a presença da obra de William Butler Yeats, Ezra Pound, T. S. Eliot e William Carlos Williams foi sentida em profundidade nos meus poemas. Ao ingressar no Curso de Direito, em 1985, eu dei início a uma atividade paralela na Universidade: eu fiz, por conta própria, um abrangente Curso de Letras e Artes. Somente em 1989 é que eu fui visto andando com livros do Curso de Direito. Antes, as pessoas só me viam andando com livros de poesia, pintura, música e cinema. Eu gostava também de filosofia. Tendo a companhia de Bob Dylan, Syd Barrett e Jim Morrison, eu realizei uma extraordinária pesquisa sobre a poesia e a literatura em geral, dos gregos aos americanos, passando pelos poetas malditos da frança. Naquela época, eu já conhecia a poesia beat. Eu já mantinha contatos com a obra de Allen Ginsberg, e ouvia e lia sobre a obra e a história de Jack Kerouac, Gary Snyder, Michael McClure e William Burroughs. Eu também já conhecia a poesia de Dylan Thomas e Sylvia Plath. Outra influência marcante em minha poesia foi o cinema. Desde 1983, eu e Heitor Meneses sempre íamos ao cinema assistir filmes que eram denominados “filmes de arte”. Assim, eu entrei em contato com o cinema francês, italiano, sueco, alemão e brasileiro, principalmente as obras de Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder. “Berlin Alexander Platz”, a série para a televisão alemã feita por Fassbinder e inspirada no romance de Alfred Doplim, teve uma grande influência em minha poesia e em minha música. Durante o ano de 1986, eu tive a idéia de fazer um filme que contaria as histórias das vidas de algumas pessoas que andavam como sombras numa praia deserta. Destarte, o livro “Sete Pérolas para Hollandri” foi um grande momento da minha poesia. Um dos poemas do livro, intitulado “Sombras”, foi publicado no dia 1º de junho de 1986 (domingo), no jornal paraense “A Província do Pará” (2º Caderno, página 4). Porém, eu já estava determinado a produzir um segundo Livro-Música, mais elaborado do que o livro anterior. Todos os livros anteriores foram escritos à mão, com as letras sendo desenhadas em estilo gótico. O livro “Sete Pérolas para Hollandri” foi escrito na máquina de escrever e assim foram escritos os que vieram depois (a exceção foi a segunda edição do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, feita provavelmente no primeiro semestre de 1987).
Naquele
momento do ano de 1986, como eu já havia produzido vários trabalhos (do livro
“Poemas” ao livro “Sete Pérolas para Hollandri”), resolvi enviar uma carta para
Tom Rapp, do Pearls Before Swine. Na
contracapa do álbum One Nation Underground havia um endereço: ESP-DISK, 156, 5th
Avenue, New York 10010, USA. A carta (infelizmente, ela foi rasgada alguns anos
depois) chegou a Nova Iorque e voltou para Belém, com a informação do correio
norte-americano de que tal endereço não fora encontrado ou não existia mais. A
pessoa que traduziu a minha carta do português para o inglês foi Amanaci
Gianacini. Na carta eu perguntava para Rapp se ele ainda estava vivo. Eu dizia
a ele que eu havia criado um projeto artístico denominado Editora Morangos e
Uvas (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte de Degenerada, inspirado, entre outras
coisas, pelo Pearls Before Swine e pela ESP-DISK. Aquela foi a primeira vez que
o nome Seaculum Obscurum foi ouvido fora de Belém: na carta eu coloquei o nome
da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum).
hhh
***SETE
PÉROLAS PARA HOLLANDRI***
Marco Alexandre
da
Costa Rosário
%
%POESIA%
%
Editora Morangos & Uvas
(Seaculum Obscurum)
*BLITZBUCH*
1986
SUMÁRIO
POEMA PARA OS CRISTAIS
(frammento di un
delirio)
POEMA PARA OS
CRISTAIS
(SEGUNDA PARTE)
(vivagno di un
sogno etrusco)
SOMBRAS
O RETRATO DE UMA MUSA ENVELHECIDA PELOS ANNOS
FACSIS ÊNDOLO PHISCODÁLICRO
CHANT DE HOLLANDRI
A QUEDA
A QUEDA
(Uma Continuação)
POEMA PARA OS CRISTAIS
(frammento di un
delirio)
Eis aqui os filhos da prostituta bélica
rompendo as manhãs em grande festas
sobre as primeiras eras.
Tu,
nesta manhã sem glória,
procuras a
alegre musa das videiras
em chamas nunca reveladas.
Canções de antigas visões
vivendo a eternidade nas
quatro partes de um adágio
& todas as verdades vindas
da tua boca tornam-se mentiras
& todos os velhos deuses
mortos no passado
tentam hipnotizar
teus sentidos
vulneráveis.
Sabes o que um dia foi
verdade para um homem.
Vejo-te na frente de um espelho
acariciando os seios,
com as mãos marcadas pelo sangue
de um varão
acariciando os mais belos sonhos
de um sonho.
Deitas em tua cama
como frágil cristal quebrado
querendo os segredos descobrir
nunca tantas delícias vividas
nunca tantas dores sentidas
nunca tantos prazeres percebidos
SESSUALE STUNDE DI HOLLANDRI
POEMA PARA OS CRISTAIS
(SEGUNDA PARTE)
(vivagno di un
sogno etrusco)
decapitazione
Estive morto por estes dias
andei e andei e andei e andei
e estou cansado de
sepultar tantas vidas.
Deves te apiedar de mim,
eu, o matador de vidas
longe, longe, longe...
tão longe como o céu,
eu me recordo de antigos dias
à beira da estrada
quando olho para o selvagem oceano.
Talvez ela aguarde minha chegada...
longe, longe, longe...
tão longe como o céu.
Recordo suas feições
no espelho da memória...quão bela era... ela...osacri...
seus negros cabelos...serpentes negras em constante
mutação...
Andei
por jardins outrora europeus,
vi a dama européia e suas concubinas argelinas
em seu quarto mantendo
antiga autoridade,
assediada pelos membros
da comunidade capifascistalista.
allimento dos cathólicos
por razões óbvias
elevado aos degraus máximos da insanidade dos vermes
humanos.
Estúpidos latinos
Grandes suas illusões...eternos carrascos...
Violadores da própria morte in vi ta.
Talvez ella recorde minha face...
longe, longe, longe...
tão longe como o céu.
era triste sua palavra
era pálida sua tetrapétala
longe, longe, longe... eu a vi antes da decapitação
da Etrúria.
SOMBRAS
quantum putatus est
era esta a única saída
ullus incrementum
nas sombras da hora
era para mim inconcebível
tal ondulação
exordium virgo
perdido entre estas vagas
precipito minha existência
para o fundo de um abismo surreal
quantum putatus est
não era esta a última glória
mas o princípio dos infernos
eu bem tentei por esses dias
passar desfigurado entre os montes
laudauimus laudauimus laudauimus.
*Este poema foi publicado no jornal paraense A Província do Pará (2º Caderno, página
4), no dia 1º de junho de 1986 (Domingo), em Belém, Estado do Pará.
Ezra Pound.
O RETRATO DE UMA
MUSA ENVELHECIDA PELOS ANNOS
Entre
as folhas do passado
eu
vi seu rosto juvenil
esta cadência
pelos
antiga deformada annos
esta agonizante as
do
imagem entre folhas jornal
ella suporta nova nascida
última
não
a centelha na década
agora
occulta antigo entre lágrimas centauro.
Ella o enthusiasmo as do
Alli, ella espera o
luxuriante desejo de se transformar em pedra.
Livro de poesias de William Carlos Williams publicado no Brasil.
FACSIS ÊNDOLO PHISCODÁLICRO
“Coisas há aí
que Não quero ferir tuas alegrias com meu canto
passam nem atormentar o vôo dos pássaros.
sem Não me forces a dar aquilo que
ser jamais poderia ser dado...por um homem.
criadas, que
queres que eu faça neste precioso momento?
E coisas criadas
Olha as ondas do oceano celestial,
há repassa os sentimentos pelos recantos
da experiência,
sem percebe
as lendas naufragando na masmorra da
ser existência,
passadas... engole
as palavras embarcadas na nau dos sentidos;
mas o melhor de tudo limite.
é crer em CRISTO...” do
(Camões) portais
os
atravessei
Eu
Nós
atravessamos, nós atravessamos.
&
Nós
pagamos altos preços, nós pagamos altos preços.
paguei
um
caro
preço
por
esta
ousadia.
Era
preciso romper com a própria existência,
aliviar
esta sentença
para
encontrar a eterna existência,
ver os sonhos de Cristo entre as
montanhas,
clarear os delírios, mantê-los acorrentados,
lapidar a essência.
A normalidade é para mim um vício
detestável;
Rompeu-se a corda...
Quem ainda pode voar?
Levo minhas certezas para a margem da
incerteza
máxima.
Rompeu-se a corda...
Quem ainda pode voar?
CHANT
DE HOLLANDRI
Eu não queria te fazer chorar...
era apenas um sonho seiscentista do passado
quando não havia
ainda
estas
f
á
b
r olha profundamente para este
i jarro chinês:
c tão clara como cristal
a era outrora a sua forma.
s Elle é agora
peça
de museu como os homens da terra
Eternamente mudo em seu barulho
Silenciosamente estéril em sua
agitação
Adormecido
em seu próprio delírio
Execrado pelas senhoras das altas rodas
Exaltado pelos mortos.
quebre este jarro...quebre este jarro.
Agora é apenas dejeto de uma
f
á
b
r
i
c
a
A
QUEDA
CAMINHO
DE TORTURA
CAMINHO
DE TORTURA
Assim
o levamos, as mãos acorrentadas,
Sobre
o silente céu vermelho.
TOCA
O TAMBOR
TOCA
O TAMBOR
O monte já é visível pela multidão:
perpetuação de resignação e perfeição.
Em ociosos passos as aparições
encontram
seus espaços;
platéia de piedosos dementes, ansiosos por
visões
de rebeldia,
a contemplar um deserto humano entre as
cortinas
do firmamento.
TOCA
O TAMBOR
TOCA
O TAMBOR
Há repetição no canto,
este mesmo canto
vindo de um inquieto antro,
testemunho
da glória e dos erros de eternos santos,
movendo a compaixão e a ira num simultâneo
movimento
Os três condenados avançam...
aquele rosto vindo de um tempo remoto,
puramente
humano
neste derradeiro momento.
Mãos e pés traspassados
pelo cravo,
embebedando o madeiro com suor e
sangue.
Eis a procissão presenciando
a lenta multiplicação de cada
pecado,
de cada virtude a mutilação.
Nos
olhos do espectro
na
cruz pregado, imagens são erguidas de todos os dias
de
eras futuras.
A QUEDA (Uma Continuação)
Peste
e fome, morte e guerra...
São ellas irmãs num mesmo segundo.
Deverão
ellas, nos próximos dias,
ser a força da salvação;
quatro mulheres
pela lepra mundana marcadas,
descendo ao átrio,
semeando a vingança sobre a podridão
humana.
TOCA O TAMBOR
TOCA O TAMBOR
A
luz martiriza a respiração,
o corpo é elevado pela morte
a
grandes alturas.
Ergue-se uma catedral eterna
em volta da magna cruz.
Estremece
a terra,
vibrando
os espelhos da desolação,
nas faces dos bufões.
Vagarosamente os mortos
voltam à cidade,
querendo ocultar esta
petrificada recordação.
TOCA O TAMBOR
TOCA O TAMBOR
Vão os fiéis companheiros
levar o corpo à sepultura celestial, à
celestial sepultura,
e nós, redimidos da queda,
vamos, de queda em queda,
aos restos dos escombros,
silenciosamente
aguardar a restauração.
EDITORA MORANGOS & UVAS
(SEACULUM OBSCURUM)
EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM)
GRAVADORA ARTE DEGENERADA
SÉRIE BLITZBUCH
(1984 – 1993)
(2002-2011)
SETE PÉROLAS PARA HOLLANDRI
1ª EDIÇÃO: JUNHO/ 1986
1 exemplar.
(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)
2ª EDIÇÃO: 2005
1 exemplar.
(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)
“Tudo o que é
esquecido
permanece em
sonhos obscuros do passado...
ameaçando
sempre retornar.”
(Velvet
Goldmine)
Editora Ogmios (Seaculum
Obscurum):
Website:
www.seaculumobscurum.com
e-mail:
editoraogmios@yahoo.com.br
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