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segunda-feira, 22 de março de 2021

 (II) ILUMINURAS - AS ILUMINAÇÕES QUE RIMBAUD NÃO ILUMINOU NO JARDIM DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE - SEGUNDO LIVRO-MÚSICA DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/GRAVADORA ARTE DEGENERADA.


ESTA É A CONTINUAÇÃO DO LIVRO-MÚSICA "ILUMINURAS", DE 1986


Livro-Música "Iluminuras - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue"/1986 (Cd 2 - 2o. Volume - na íntegra):

Link: Iluminuras/1986 - (Cd 2 - 2o. Volume)


Músicas do Livro-Música "Iluminuras"/1986:

Link: As Fontes/1986 

Link: Os Sinos - O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte III) 1986


TERCEIRO CICLO – A CARRUAGEM DOS MORTOS

 

O Triunfo da Morte (1528-1530), Pieter Bruegel.

  

SANTIFICADOS

          INFERNOS

 

O Juízo Final, de Hieronymus Bosch.


 um lugar ao sol & nós sitiamos a terra

 longe do horizonte de nossos olhos,

em ermas rodovias, nas sombras do dia.

 

uma mulher & seus longos cabelos de fogo & seus olhos de louça azul

sobre as cortinas da manhã

chamou meu nome na floresta perdida...

seu branco corpo luzindo como um raio de uma primeva era,

assaltando as esquinas da primavera,

convidando meu corpo a repousar nos profundos mistérios.

 

em alguns círculos quebrados & quadrados adejados

& retângulos retalhados

nós entramos, na esperança de ver os segredos da herança colorida,

deixada por nossos sonhos, em uma caverna adormecida.

 

em uma clareira encontramos muitas crianças banidas de casa

& elas dançavam sobre o grande tapete verde do ocidente,

enquanto uma suave música mágica tecia notas estranhas

e adornava nossas mentes,

relembrando-nos as dores do parto infantil,

do alto de colinas nunca habitadas.

 

muitos corpos embriagados & muitos olhos vidrados

& a morte a nos fitar no espírito,

querendo cegar um amor esquecido,

enquanto uma guitarra medieval nos conduzia em suprema harmonia

& nós voltamos à cidade, um por um, caindo pelas ruas

em negras sarjetas, filhos em ruínas,

frutos das indústrias da piedade humana,

abandonados ao vento em uma manhã de abril de 1967.

 

seguimos entre as regiões de maio o nosso caminho,

dançando a valsa surrealista sobre o lixo moderno das avenidas,

 

 

& eu & ela fomos à janela de vidro

consultar um antigo livro,

derramando a água dos jarros em meu quarto

sobre o chão de quartzo,

& deitamos juntos em uma cama de porcelana,

& cisnes bailavam em lagos de cristal,

& a queda tomou conta de nosso descaso.

seremos culpados?

ou estaremos sepultados no gelo?

Assim permaneceu & ela não percebeu quando a vi chorando

sobre um coração de ferro,

suas lágrimas caindo de seu rosto deformado,

formando um rio antigo...

Lá, o sofrimento e o desespero aguardavam meu regresso,

servidos por barqueiros venezianos

em gôndolas de veludo negro.

 

seu coração, agora silencioso,

desperta para a eternidade & seus gélidos seios

já não me convidam & seus olhos já não brilham

& sua voz já não quer dizer meu nome.

 

pela floresta levei seu corpo

& o enterrei num lugar desconhecido

& não houve uma voz de mãe índia que nos pudesse salvar,

& todas as manhãs eu rego seu jardim tumular,

prisioneiro de um pesadelo onde somente o ódio alivia o amor.

 

& o amor é um náufrago num lago de mel

quando uma menina de cabelos longos corre pelo campo

gritando: Vem! ela está aqui, ela te espera!

                 Vem! Aqui está ela...

& o amor é um reino morto numa fonte de mel,

mas você nunca está inteiramente vivo

para saber o que realmente é, & como no espelho,

sua imagem retrocede ao pó,

& o amor envelhece & alguns choram & alguns nascem

& alguns morrem

& aquela música petrificou você nos vinte anos.

 

aqui você está, respirando o ar alcóolico,

andando por ruas desertas, temendo a próxima idade do inverno,

lágrimas entre as pedras,

                 entre as feras,

                 entre dez edifícios brancos,

& até que você volte ao céu

& a batalha chegue ao fim,

isto é uma imitação do amor, despedaçada em constelações...

é um riso de criança morta

que faz você continuar aqui,

que faz você ficar neste lugar,

que permite a você viver entre o dia e a noite,

porque o silêncio de um homem incomoda mais que sua voz.

onde encontrar a saída?

onde encontrar a aurora do novo dia?

elas estão dentro do velho sol,

enquanto o pássaro canta no início da manhã,

elas estão dentro do velho sol,

nesta terra apodrecida, recheada de fósseis e dimensões diversas,

                                    onde santificamos nossos infernos,

                                    onde alguém vive,

                                    onde alguém morre,

                                    entre criaturas de um século que

                                    desce pelo buraco de uma pia.

 

 

                                            O Triunfo da Morte (1944), Felix Nussbaum.

  

ENCONTRO

                EM

                     UMA

                               ANTIGA

                                          ESTAÇÃO

 

 

 

entre nós existe uma corrente de sangue invisível...

tu podes ver:

em minha carne corre o teu sangue,

em tua carne corre o meu sangue.

 

quando olhares o céu,

lembrarás meus olhos em teus olhos;

quando olhares os troncos das árvores,

verás neles os meus cabelos;

quando teus pés tocarem a areia da praia outra vez,

saberás que é meu corpo que tocas e pisas;

 

e eu serei todas as estrelas

que estão na escuridão,

iluminando uma visão fora das horas,

como um beijo de adeus.

 

escute:

o silêncio está cantando

em teus lábios e em teus olhos...

 

o que se ama dura para sempre,

 

por caminhos semelhantes e diferentes.

 




VELHA

 

ÁGUIA

 

SOBRE

 

O

 

VALE

 

DE

 

LÁGRIMAS

 

a irmã águia plantou uma flor em seu útero de vidro,

o rio não deu seu sangue,

espinhos entrelaçados no universo do menino.

velha águia sobre o vale de lágrimas.

 

a irmã águia germinou o inverno em uma flor

sobre a terra de Zácrata,

uma ilha ergueu-se do vento.

velha águia sobre o vale de lágrimas.

 

a irmã águia fluiu luz na nascente do rio

e o rio correu no deserto

e o deserto reteve as sepulturas dos homens sem destino.

velha águia voando ao redor do sol.

 

a irmã águia um dia transformou-se em vento

e fez seu giro entre as nuvens

e nem a seta do caçador não pôde mais encontrar suas asas.

velha águia eternamente voando ao redor do sol.

 

 

                                            O Triunfo da Morte (1528-1530), Pieter Bruegel.

 

PROVÉRBIOS

 

NO

 

PENSAMENTO

 

EMPALHADO

 

DO

 

ESPANTALHO


Todo pensamento petrifica a verdade,

todo pensamento é uma estagnação do espírito...

Depois que te empalharem vivo, eles te enterram e te mandam para o inferno.

O dono do cavalo suga seu trabalho até a exaustão.

Depois ele o deixa na rua para o banquete dos abutres...

A isso eu dou o nome de aposentadoria eqüina.

Não permitas que ninguém te diga aonde ir,

o caminho e a verdade estão em ti;

a verdade é um diamante negro

que guardas no interior do teu crânio

e se não o podes descobrir... não és ninguém.

Quem precisa de guia são os cegos, tenham eles olhos ou não.

Eu te aconselho: faz o cego tropeçar

para que ele volte a ver outra vez.

 

 

Se tu morres na ignorância da multidão,

teu corpo e teu espírito descerão com ela para a sepultura...

Lá é o inferno.

Se tens a certeza de que és imortal e te elevas até

o universo, até o teu corpo não temerá a morte...

Serás todo imortal, por dentro e por fora...

Ninguém pode vir a ser imortal

porque, ou a imortalidade é, ou jamais será...

Resumindo, este é o céu.

Portanto: o céu e o inferno estão dentro de ti;

cabe a ti desvenda-los e escolher.

Ninguém retorna ao céu se não passou pelo inferno.

A inconstância é o primeiro sinal da certeza interior.

É durante a tempestade que o homem senta-se em seu deserto

para contemplar suas ruínas,

mas, o fim sempre gera o início

e lá ele descobre que todos os caminhos não levam a lugar nenhum.

O homem jovem envelheceu no cemitério da razão.

A suavidade da força dorme nos dentes do leão

e corre na estrada da rebeldia lúcida.

A poesia é a religião da obscenidade

convertida em santidade.

Aquele que te pede dinheiro emprestado

tem o poder de conhecer a tua alma.

 

 

O espantalho foi crucificado no meio do campo

para espantar os pássaros sedutores da emoção.

Mas um dia os pássaros irão devorar a mente do espantalho

e dominar a plantação.

 

 

DOIS

 

HOMENS

 

NO

 

CAMINHO


dois homens no caminho foram a casa das visões de madalena

& vestiram o verão em seus destinos, na beira do caminho.

“desperta! o sol adormeceu no oceano

& a estrada é sempre longa”, disse o primeiro.

“podes ir se tens tanta pressa.

eu já vivi em todos os portos da terra

& habitei em mansões & prisões

com pequenas mulheres de olhos feitos de gelo.

mas, encontrei o caminho de São Tiago

& irei até a santa das visões de madalena

& dormirei em sua cama de farrapos antigos

& visitarei seus indigentes, espalhados pelo chão,

& sonharei com um rio de rubis

& estarei aqui até que o silêncio

emudeça o êxtase dos oradores,

esperando a passagem de minha sombra pelo vale

do inverno”, pensou o último,

& o primeiro partiu em uma carruagem de desejos

& vagou entre as densas florestas do grande mundo

& vagou entre as obscuras ruas de um sonho

& de lá jamais retornou.

 

 

pobre Maria de Portugal, princesa das igrejas.

um dia deu à luz uma caravela

& gritou no átrio de uma catedral lusitana

que haviam encontrado ouro do outro lado do oceano

onde o sol adormece no mundo

& quatro séculos depois ela tece estigmas

nos homens do garimpo que freqüentam sua cama,

até que o sol adormeça em seus olhos feitos de gelo.

 

 

o império está ruindo,

multiplicam-se os heróis e

também multiplicam-se os mendigos,

e todos erguem alteres & celebram missas na terra que devastaram

& cegam milhões...

multiplicam-se os desejos, multiplicam-se as bocas...

 

 

a face do Senhor surgia atrás dos muros de Jerusalém

& o último no caminho chorou ao ver anjos rodeando a cidade

& os profetas escrevendo nas paredes do templo.

“meu irmão não voltou

& terei que ir só para a casa das visões de madalena

& percorrerei os dias como se fossem noites;

sem dar um passo de onde estou.

muitos são os heróis,

muitos são os mendigos,

& multiplicam-se os desejos & multiplicam-se as bocas

& a poeira ainda não parou de subir,

mas eu encontrarei repouso no ventre de madalena.

 

 

& lá ficou

até que chamaram seu nome no deserto de João

& o vento varreu a poeira dos caminhos.

 


 

O

FLAUTISTA

DE

HAMLIN

 

te levou para a estrada,

mochila nas costas,

flores nos cabelos,

 

mas ele não sabia aonde ir, e

num dia de inverno,

abandonou a caravana.

 

estavas no meio da estrada

e sem dinheiro, só com o silêncio,

e uma carona te levou à porta de casa,

 

o medo e a solidão

transformados em dinheiro e bom emprego,

para confundir os trapos e os vestidos de baile.

 

obs: quando estiveres só, em tua escuridão,

o nome da tempestade que virou teu barco será lembrado,

assim como o nome escrito no pó da terra,

e verás bem que se tivesses seguido a ti mesmo

terias concluído o caminho

e não terias voltado para casa.

 

 

O

ENFORCADO

 

Retornarei ao deserto interior...

Retornarei ao deserto dos ancestrais

e o inferno pertence ao meu circo de pulgas amestradas...

legado de sombras do oriente.

 

Retornarei ao interior dos espantalhos

que gostavam de pintar nos muros da cidade

suas primitivas orações,

enquanto o vinho corria pelo esgoto do altar,

 

e o inferno pertence ao meu circo de pulgas amestradas...

e para lá levarei teus sonhos, grande rei,

e lá sepultarei tuas entranhas para o show católico,

e ouvindo a canção de Pan

em templos de heróis maltrapilhos,

terei nas mãos tuas últimas relíquias.

 

olha ao redor das avenidas...

os heróis vagam com os olhos no chão,

disfarçados de socialistas em seus trajes de mendigo,

e a senhora serpente os cerca em paraísos de luz.

 

somos filhos da sombra ancestral,

somos filhos da névoa alcóolica,

sem destino ocasional,

somos filhos do medíocre vômito das estrelas,

somos filhos da rebelião silenciosa,

planejados pela banalidade hereditária.

 

nossa vitória não está na destruição exterior,

nossa vitória consiste na destruição interior,

nossos reinos não estão no poder dos impérios,

nossos reinos estão em nossos cemitérios

e o cetro que levamos é o cetro de um rei morto.

 

nós repelimos a sacerdotisa do prazer

ateando fogo em seu templo-revista

onde ela celebrava semens egomaníacos

e ela chora hoje ao pé da cama de um centauro,

apodrecida no fundo de um quarto.

 

Retornarei ao deserto interior...

Retornarei ao deserto dos ancestrais

e o inferno pertence ao meu circo de pulgas amestradas,

simulando formas estranhas nas faces das cavernas familiares.

 

alguns cães desceram para os becos

a procura de alguma gata

que dormia nos muros do conjunto habitacional

e lá sentaram sobre os crânios dos imortais

sem idéias, sem carne, sem ossos,

mortos por serem de outro tempo.

 

Perséfone, que nasceu na estação do amor,

brotou entre doze espinhos, na estação das árvores desfolhadas...

arrastou-se, em doce rebeldia,

para partir em uma cruz,

temendo o canto da chuva, mas antes nos ensinando a amar a tempestade.

Hades, que se assemelhava ao canto da chuva,

agitou sua arma do outro lado do rio,

não amando ninguém e deixando a terra estéril.

 

nossos filhos fugirão das escolas,

retornarão à antiga casa destruindo as lembranças,

parados na beira do rio, despertarão do devaneio,

quebrando o palácio do rei com um machado em chamas

e trarão Perséfone outra vez ao reino do amor.

 

virgem do leste, não te demores...

vem, através do oceano, trazendo nos lábios

o quente beijo do novo amor.

 

Retornarei ao deserto interior...

Retornarei ao deserto dos ancestrais

e o inferno pertence ao meu circo de pulgas amestradas...

minha herança permanece ali,

em risos nascidos da boca do enforcado.


 

ele agora executará uma dança latina.

 

  

BREVE RETORNO (Um Epílogo para um Novo Prólogo)

 

faziam vinte anos que ele havia saído de casa...

ele desejava ir muito longe, mas só conseguiu chegar até as fronteiras.

nesse tempo ele brincou de morto com um cadáver,

conheceu o mundo e seus homens e suas mulheres,

ele foi jardineiro, lavador de pratos, e

trabalhou num circo,

um dia, ele resolveu voltar para sua cidade,

e num beijo de despedida

abandonou seu amor no espetáculo chileno.

se nunca tivesse saído de sua cidade

talvez fosse dono de um açougue,

mas aprendera muito mais correndo pelo mundo.

Mas, ao pensar sobre este fato ele deu uma risada

nos limites da realidade.

 

a casa ainda era a mesma,

a mãe ainda estava lá,

mas o pai havia morrido.

a porta estava semi aberta...

ele entrou sem falar com sua mãe e seus irmãos

em seu antigo quarto,

e ali nada havia mudado desde que partiu.

então, ele disse boa noite para a noite e dormiu.

 

amanhã, quando ele acordar,

retornará ao vôo que iniciou num sonho

e, saindo do cemitério,

lavará seus pés nas águas do rio jordão.

 

iluminuras são suas lembranças

do tempo em que ele rastejou pela terra

 

 

e dele saiu um novo homem,

nem jovem, nem velho,

apenas eterno.

 

ele olhou para a terra

e viu que ela

era toda as mulheres que ele amou.

 

ele amava as mulheres

não como homem,

mas como criança.

 

então, retornou ao deserto,

próximo ao oceano.

o sol levantou-se,

colorindo a terra

 

e a noite

fez seu giro,

cobrindo o véu celestial

com moluscos iluminados;

quando era criança, ele dizia,

olhando para o céu: eu vim de lá

e um dia retornarei.

 

junto do oceano

ele envelheceu

como uma criança de mil anos.

 

mas, ele já ouviu o que disseram na última ceia do princípio,

onde uma dança cerimonial é realizada

 

num teatro empoeirado e fedorento.

 

e ele viu todo o transe do gnomo na cristaleira,

 

num rio negro,

onde vagueiam pavões e espectros

 

e onde são escutados os hôrvalos harpas.

 

Carruagem de fogo...

Cavalos de fogo...

e um dia ele retornou para as estrelas.

 

 

 

 

QUARTO CICLO – A CONFRARIA DE NOSSA SENHORA

 

 

Pintura de William Blake

 

 

OS SINOS – O PRINCÍPIO (Uma Dança Cerimonial – Parte III)

 

Como são gélidos estes olhares repulsivos

que nascem na platéia e se prostram

perante os atores.

 

Eu sou aquele

que sabe todo o enredo

e não se cansa de jogar

sortilégios e maldições sobre a platéia.

 

Tu rejeitas o ator embriagado que sobe no palco...

mas será ele que executará a última dança cerimonial,

entorpecido pelos gritos da multidão.

 

 

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Luz

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

Escuridão

 

 

E mulheres nuas a passear pelo palco.

 

Eis que chegamos a confraria de nossa senhora.

 

E mulheres nuas a passear pelo palco.

 

E no campo milhares de mortos dão as mãos.

 

 

E no palco, o velho embrutecido

cuspiu toda imundice dos nossos sonhos,

numa terra sem nome e sem arte.

 

É este olhar da platéia

que faz gelar os atores...

 

Que tirem as roupas de cetim das atrizes,

belas moças criadas com leite e mel.

Que sejam elas forçadas a dormirem com os negros

nos mais hediondos sonhos...

Belos negros!!!!

 

Que o palco fique todo enegrecido

e que o sêmen seja todo derramado em alvos seios

de belas atrizes pervertidas

pelos sonhos de uma velha e nua mulher enlouquecida,

velha senhora das ruas.

 

Eis meu teatro...

E eis os estranhos rituais

Ao redor das pedras.

  

*Poema composto em 2002.




INTERLÚDIO

 

Flor inconstante

em alegre festejo

na cidade incendiada.

 

Agora adormecida na calçada

com o sangue escorrendo da boca...

uma pequena boneca manchada de sangue,

 

enquanto as águias passam pelos céus

semeando a morte e a madrugada.

 

*Poema composto em 2002.




FONTES

 

                        Pintura de William Blake

Pequenos passos são ouvidos

na madrugada...

São as velhas feiticeiras adormecidas

que vieram buscar

a pequena boneca manchada de sangue.

 

Elas vieram buscá-la

e vão plantá-la

numa fonte de múltiplos sóis

para jamais ser esquecida

na cidade incendiada.

 

*Poema composto em 2002.




OS SINOS – AS HARPAS


Eis que aqui adentrou a senhora dos rituais...

sinos são ouvidos e harpas também

pelas ruas onde corre o assassino.

 

Alucinação

Alucinação

Alucinação

&

misericórdia

misericórdia

misericórdia

 

nas lembranças da confraria de nossa senhora...

nas lembranças da confraria de nossa senhora...

nas lembranças da confraria de nossa senhora...

 

Lembra-te do ritual

entre a árvore-mortalha

e o carrossel de homens e estranhos seres

 

e os sinos anunciam

a minha loucura ante a realidade humana.

 

Eis que aqui adentrou a senhora dos rituais...

sinos são ouvidos

pelas ruas.

 

Os sinos anunciam.

Os sinos anunciam.

Os sinos anunciam.

*Poema composto em 2002.




DANÇA LATINA

 

Dança latina

Dança latina

Dança latina

 

E lá estava Fidel

Como um carneiro

 

E todas as dançarinas

Alegres cantavam e dançavam

 

Aquela dança latina

 

A felicidade perdida

Em torno da ilha

 

Dança latina

Dança latina

Dança latina

 

 

E Che estava lá

Como um bode

 

Aquela dança latina

 

E todos viram o sangue pulsar

Nas mãos daqueles que mentiram

 

E julgar os homens como gados

Mergulhados na horrenda

 

Dança latina

Dança latina

Dança latina


*Poema composto em 2002.



MÚSICAS

 

MÚSICAS DO LIVRO-MÚSICA “ILUMINURAS - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue - (compostas, tocadas e gravadas em outubro de 1986).


Cd 1.


1. ABERTURA - O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte I) (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: Violões eletrificados (a base foi gravada em 1983).

 

2. Primeiro Ciclo - O Banquete do Cisne (Marco Alexandre Rosário).

Incluindo os seguintes poemas/músicas:

Recordações (Uma Pintura Para Uma Dança)/ A Cristaleira/ Hôrvalos Harpa/ A Dama Nascente na Queda da Lua Amarela/Imersão Plástica/ O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte II).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: órgão, piano, flautas, violão, violão eletrificado, bateria eletrônica e outros efeitos.

 

3. Segundo Ciclo – Danças Árabes no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue (Marco Alexandre Rosário).

Incluindo os seguintes poemas/músicas:

O Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue/Maria/ Relações Humanas Falidas/ Verão na Casa Sem Número/ Dança das Núpcias (Dança dos Homens dos Oásis por ocasião de Núpcias).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: violões eletrificados, órgão e efeitos sonoros (música folclórica árabe).

 

4. Interlúdio – Aurora dos Cães – Sons das Gaitas (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: gaitas.

 

Cd 2.


1. Terceiro Ciclo – A Carruagem dos Mortos (Marco Alexandre Rosário).

Incluindo os seguintes poemas/músicas:

Santificados Infernos/ Encontro em uma Antiga Estação/ Velha Águia Sobre o Vale de Lágrimas/ Provérbios no Pensamento Empalhado do Espantalho/ Dois Homens no Caminho/ O Flautista de Hamlin/ O Enforcado/ O Breve Retorno (Um Epílogo para um Novo Prólogo).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: piano, cravo, órgão, violão eletrificado, xilofone, flauta, bateria eletrônica e efeitos sonoros.

 

Quarto Ciclo – A Confraria de Nossa Senhora.

2. Os Sinos – O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte III) (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: violão eletrificado e efeitos sonoros (Monastery Bells).

 

3. Interlúdio (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: piano.


4. Fontes (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: xilofone-teclado.

 

5. Os Sinos – As Harpas (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: harpa nordestina e efeitos sonoros (Monastery Bells).

 

6. Dança Latina (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: órgão, bateria eletrônica e efeitos sonoros.

 

EDITORA MORANGOS & UVAS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

                      GRAVADORA ARTE DEGENERADA

 

SÉRIE BLITZBUCH

 

(1984 – 1993)

 

(2002-2011)

 

 

ILUMINURAS - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue

 

1ª EDIÇÃO: Outubro/1986

1 exemplar.

(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)

 

2ª EDIÇÃO: 2005

1 exemplar.

(Marco Alexandre. Belém, Pará, Brasil)

 

 

“Tudo o que é esquecido

permanece em sonhos obscuros do passado...

ameaçando sempre retornar.”

(Velvet Goldmine)

 

 

Editora Ogmios (Seaculum Obscurum):

 

Website: www.seaculumobscurum.com

 

e-mail: editoraogmios@yahoo.com.br

 

 


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