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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 (1) ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM) E A GRAVADORA ARTE DEGENERADA (1966/2020).

Por Marco Alexandre Rosário (escrito entre maio e junho de 2005).

 

Eis o que todos nós somos: amadores. Não vivemos o tempo suficiente para sermos outra coisa. Que triste é ser engraçado”.

(Charles Chaplin)

 

AS ORIGENS (1966-1980).

 

Eu vou iniciar este texto falando das origens desta história. Eu nasci na Cidade de Belém, Estado do Pará, no leste da Amazônia Brasileira, em 07 de fevereiro de 1966, e morei em Belém, desde 1969, na mesma casa e na mesma rua até fevereiro de 2003, quando então eu passei a residir no Município de Santarém, no interior no Estado do Pará. Meus pais se separaram em 1969 e eu fui morar na casa dos meus avós, pais do meu pai, na casa que meu avô construiu na Travessa do Chaco, na década de 1950, e que tem o número 2623. 

Casa na Travessa do Chaco, 2623, em Belém, Estado do Pará

Eu creio que as origens da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) e da Gravadora Arte Degenerada, o projeto artístico que eu criei e que teve início em 1984, encontram-se em 1970 quando eu ganhei um livro de estória infantil (acompanhado de um pequeno disco) sobre os quatro músicos de Bremen, um dos contos de fadas catalogados pelos irmãos Grimm, na Alemanha, durante o século XIX. Eu fiquei fascinado pela estória do burro, do cão, do gato e do galo. Eu tive o pequeno disco com a estória dos quatro músicos até 1989.

 


Os Quatro Músicos de Bremen, Livreto/Compacto Vinil

Antes desse fato acontecer, eu andava perturbando, aos 2 ou 3 anos de idade, um famoso grupo de rock de Belém, que costumava ensaiar no cruzamento da Travessa do Chaco com a Avenida 1º de Dezembro (na época, nenhuma destas ruas eram asfaltadas): “Os Gênios”, este era o nome do grupo. Certa vez, por volta de 1981 ou 1982, eu não lembro muito bem o ano, eu estava no Bar Celeste, que ficava na Travessa Curuzu, que é paralela à Travessa do Chaco, e eu estava no balcão do bar quando um homem bem mais velho do que eu olhou para mim e perguntou se eu era neto do Sr. Dário Rosário. Eu disse que sim, e ele se voltou para o dono do bar, que estava do outro lado do balcão, e disse: “Rollo, esse aqui é o Marquinho”. O homem que falou comigo se chamava Zé Maria e era o baterista do grupo e o outro homem, Rollo, era um dos guitarristas do grupo. Eles disseram para mim que por volta de 1968 ou 1969, eu ficava assistindo aos ensaios do grupo; na verdade, eu ficava mexendo nos instrumentos musicais e perturbava os ensaios da banda.

 

Marco Rosário em 1968, em frente da Casa na Travessa do Chaco, 2623, em Belém-PA

A primeira vez em que eu comecei a ouvir música, pelo menos de forma consciente, foi com o álbum Cosmo’s Factory, do grupo norte-americano Creedence Clearwater Revival, em 1973. Este álbum foi lançado em 1970. Um dos meus tios comprou este disco. Junto com o Creedence, eu também comecei a gostar do grupo norte-americano The Monkees. 

Creedence Clearwater Revival - Álbum Cosmo's Factory, de 1970

Também nesta época eu comecei a ouvir o grupo brasileiro Secos & Molhados, o primeiro álbum, que eu simplesmente adorava. Eu ouvia muitas músicas pelo rádio também, mas eu não sabia de quem eram aquelas composições. Eu lembro de ter ouvido músicas como “Rock Around The Clock”, com Bill Haley, e outras músicas de Elvis, The Byrds e outros grupos norte-americanos. Eu lembro também de músicas de compositores brasileiros, como Adoniran Barbosa, Cartola, Roberto Carlos, Jorge Bem, Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e muitos outros. Eu ouvia também, ou pelo rádio, ou pela televisão, ou por comentários de pessoas próximas, referências aos nomes Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Beatles, Rolling Stones, Woodstock, etc.

 

Secos & Molhados, o primeiro álbum de 1973

No 12 de outubro de 1974 exibiram um filme na televisão de um grupo de músicos ingleses que eu não conhecia muito bem, embora já tivesse ouvido falar. O nome do filme era Yellow Submarine (Submarino Amarelo) e era um filme do grupo inglês The Beatles. Eu não entendi a estória do filme e também não gostei do grupo.

 

The Beatles - Álbum Submarino Amarelo/Filme, de 1969
Uns meses depois, eu atravessei a rua e fui até a casa de um amigo, chamado Denis, irmão de outro amigo, Paulo. Na época, eu, Denis, o Paulo e o Beto, outro amigo que também morava na vizinhança, sempre andávamos juntos. Atravessar a rua, naquela época, era como atravessar o Atlântico. Quando eu cheguei na casa do Denis, ele colocou um álbum dos Beatles para tocar. Eu disse a ele que eu havia visto o filme Submarino Amarelo e não tinha gostado da música do grupo. Então, Denis colocou o disco para tocar. Eu lembro exatamente da emoção que eu senti quando eu ouvi os primeiros acordes da guitarra: fiquei estarrecido, maravilhado, achei simplesmente inacreditável!!! Aquela música era mágica, fantástica. A música era Drive My Car e o álbum se chamava Rubber Soul, lançado em dezembro de 1965, poucos meses antes de eu nascer. Portanto, eu estava ouvindo aquele álbum 10 anos depois do seu lançamento. Eu memorizei todas as músicas daquele álbum. Dali em diante, todas as vezes em que eu ia até a casa do Denis e do Paulo, eu sempre pedia para ouvir aquele álbum. Era um disco mono, lançado no Brasil, em 1966.

 

The Beatles - Álbum Rubber Soul (dezembro de 1965), Edição Brasileira, de janeiro de 1966

O mais interessante era a capa daquele álbum. Eu não sabia quem eram aquelas pessoas que apareciam nas fotografias do disco, mas eu achei que aquele homem que está olhando diretamente para você na capa do álbum era o John Lennon, e realmente era ele. Eu fiquei apaixonado pela aquela figura, pelo grupo e pelas músicas. A mais bela música dos Beatles, para mim, é “It’s All Too Much”, de George Harrison, e que está inserida no álbum Submarino Amarelo.

 


The Beatles - Álbum Rubber Soul, de 1965

Todos esses grupos que eu gostava e que mencionei acima eram formados por quatro pessoas. Vinha sempre a lembrança da estória dos Quatro Músicos de Bremen na minha mente. Essa estória parece ter um certo misticismo, um certo mistério encantador.

 

Eu fui realmente iluminado pela música dos Beatles e por muito tempo eu só ouvi aquelas músicas. A partir daí, eu só queria ganhar como presente de natal ou de aniversário os álbuns do grupo. Naquela época (1975-1976), eu também comecei a ter contato com as músicas e a história de Elvis Presley, mas os Beatles eram realmente a minha paranóia. Também naquela época, eu comecei a gostar de música erudita (Beethoven, Bach, Schubert, Vivaldi, Tchaikovsky e outros compositores clássicos). Por volta de 1978, eu conheci a música de dois outros grandes grupos ingleses: Led Zeppelin (álbum: The Song Remains the Same), e Pink Floyd (álbum: The Animals), mas muito esporadicamente. Também conheci por essa época o trabalho de outro músico/poeta que iria exercer uma grande influência em minha vida: Bob Dylan (álbum: Hard Rain). Talvez não exista outro poeta que tenha influenciado tanto a minha poesia como Dylan.

 

Bob Dylan - Álbum Hard Rain, de 1976

Em 1980, embora eu já tivesse adquirido quase toda a coleção de álbuns dos Beatles, eu não conhecia muito bem a história deles. Era difícil encontrar revistas que falassem sobre eles na época. Isso mudou no dia em que John Lennon foi assassinado. Eu lembro que uma semana antes do assassinato, um amigo chamado Talis chegou comigo e disse que John Lennon tinha sido assassinado. Era uma brincadeira. Uma semana depois, John Lennon foi realmente assassinado. Mais uma vez foi o Talis que me deu a notícia, desta vez verdadeira.

 

John Lennon em 1980, pouco antes do assassinato

Ao longo dos anos de 1979 e 1980 eu fui conhecendo outros grupos, como o AC/DC, Kiss, Deep Purple, e outros mais. Era a continuação de uma pesquisa que até hoje não parou. Eu conheci muitos desses grupos através de um amigo: Haroldo Pamplona. Haroldo era um cara rebelde. Na década de 1980 ele foi para a Europa, participou da queda do Muro de Berlin, e acabou sendo preso e deportado para o Brasil.

Marco Alexandre da Costa Rosário

 

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