(I) ILUMINURAS - AS ILUMINAÇÕES QUE RIMBAUD NÃO ILUMINOU NO JARDIM DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE - SEGUNDO LIVRO-MÚSICA DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/GRAVADORA ARTE DEGENERADA.
O LIVRO DE
PINTURAS “SURREALÍSTICA I”, O LIVRO-MÚSICA “ILUMINURAS” E A EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM) - (OUTUBRO DE 1986).
Músicas do Livro-Música "Iluminuras"/1986:
Após o livro
“Sete Pérolas para Hollandri”, eu resolvi fazer um livro de pinturas.
Juntamente com minha pesquisa literária e musical, eu também iniciei uma
pesquisa sobre a história da pintura. Eu estava interessado em tudo o que se
referisse às artes. Deste modo, entrei em contato com os trabalhos de Bosch,
Michelangelo, Delacroix, Bruegel, Chagall, Van Gogh, Renoir, Goya, Monet,
Salvador Dali, Courbet, Whistler, El Greco, Giotto, Louis Wain Andy Warhol e
tantos outros grandes nomes. Eu também me interessava e estudava a pintura
medieval, as esculturas gregas, os grandes monumentos da antigüidade. Assim, eu
resolvi fazer o livro de pinturas “Surrealística I”. Eram, ao todo, umas oito
pinturas, pintadas em folhas de cartolina branca.
Por volta do
início de outubro de 1986, eu voltei a aparecer na casa da Carla Morrison. Meu
objetivo era gravar mais um Livro-Música. Desta vez, eu produzi um álbum duplo,
ou seja, eu gravei músicas numa fita cassete de 90 minutos (a fita cassete do
Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” tem 60 minutos). “Iluminuras”, o novo
Livro-Música, teve o mesmo processo de produção do Livro-Música anterior:
músicas gravadas em duas fitas cassetes, três aparelhos de som, amplificador,
violão, flauta, gaita e outros efeitos sonoros. A música que abre o álbum foi
denominada “Abertura – O Princípio ( Uma Dança Cerimonial – Parte I)”. A base
desta música foi gravada em 1983, com violão e amplificador, como eu já falei
antes. O som parece o de um órgão, mas é o som de um violão, distorcido e com ecos.
Eu escrevi vários poemas para este livro, mas nem todos foram utilizados. O
Livro-Música foi dividido em quatro partes: “O banquete do Cisne”, “Danças
Árabes no Jardim das bonecas Manchadas de Sangue”, “A Carruagem dos Mortos” e
“A Confraria de Nossa Senhora”. Nota-se nestes títulos a influência dos
pintores Bosch e Bruegel. Cada parte conteria vários poemas. Os poemas
“Recordações” e “A Cristaleira” foram feitos com fortes imagens surrealistas da
minha infância. A minha avó tinha uma cristaleira, e eu sempre imaginava
pequenos seres espirituais brincando dentro dela, entre taças de cristal e
copos de vidro, sob o reflexo do espelho. Quando eu era criança, eu tinha
alguns livros que contavam estórias fantásticas e fábulas misteriosas e que
tinham gravuras maravilhosas (lendas tchecas, italianas, inglesas, etc). Eu era
fascinado por estes livros como também por mitos e estórias sobre seres
fantásticos da Amazônia. Também havia um pequeno jardim na frente da casa,
aonde eu sempre brincava e imagina seres fantásticos vivendo ali. Foi por esse
motivo que eu tanto me aproximei da obra de escritores como o irlandês William
Butler Yeats. Yeats tem estes poemas e peças teatrais fantásticos, com seres
mitológicos como personagens principais. Ele foi um dos escritores que mais
exerceu influência em minha obra poética. O título do poema “O Jardim das
Bonecas Manchadas de Sangue” foi tirado de um fato ocorrido em Londres, durante
a Segunda Guerra Mundial. Algumas pessoas haviam ido a um Pub para festejar os
15 anos de uma garota. Logo teve início um ataque alemão e uma bomba alemã
atingiu o Pub. Várias pessoas morreram. Uma testemunha que passava pelo local
da explosão disse que os mortos foram colocadas na rua, em fila, e que aquelas
pessoas mortas se assemelhavam com belas bonecas manchadas de sangue. Há muitos
outros grandes poemas/músicas no livro: “Hôrvalos Harpa”, “A Dama Nascente na
Queda da Lua Amarela”, “Imersão Plástica”, “Maria”, “Relações Humanas Falidas”,
“Dança das Núpcias”, “Santificados Infernos”, “Os Sinos – O Princípio”, “Os
Sinos – As Harpas” (nesses dois últimos, no que se refere às respectivas
músicas, há sinos tocando e ocorre a repetição da música “Abertura – O Princípio.”).
O título
deste Livro-Música (“Iluminuras”) foi tirado de livros medievais (evangelhos)
feitos por monges, como os Evangelhos de Lindisfarne. Portanto, não tem
qualquer relação com o livro “Iluminações”, do poeta Arthur Rimbaud. Na época
em que eu escrevi o Livro-Música “Iluminuras”, eu conhecia alguns poucos poemas
de Rimbaud e desconhecia o fato de que um dos seus livros tinha como título a
palavra “Illuminations” (Iluminações), que alguns tradutores traduziram para o
português com o título de “Iluminuras”. Em 2002, quando eu digitei o
Livro-Música “Iluminuras” no computador, eu resolvi acrescentar um subtítulo:
“As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de
Sangue”. Assim, eu espero ter retirado qualquer possibilidade de relação do meu
livro com o livro de Arthur Rimbaud.
Pintura de William Blake.
ILUMINURAS
As Iluminações
que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue
MARCO
ALEXANDRE
DA
COSTA ROSÁRIO
%
ÿPOESIA,
MÚSICA & PINTURA¯
%
Um Livro-Música da
EDITORA OGMIOS
(SEACULUM OBSCURUM)
*BLITZBUCH*
1986
SUMÁRIO
ABERTURA - O PRINCÍPIO (Uma Dança Cerimonial – Parte I)
PRIMEIRO CICLO – O BANQUETE DO CISNE
RECORDAÇÕES (Uma Pintura Para Uma Dança)
A CRISTALEIRA
HÔRVALOS HARPA
A DAMA NASCENTE NA QUEDA DA LUA AMARELA
IMERSÃO PLÁSTICA
O PRINCÍPIO (Uma Dança Cerimonial – Parte II)
SEGUNDO CICLO – DANÇAS ÁRABES NO JARDIM DAS BONECAS
MANCHADAS DE SANGUE
O JARDIM DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE
MARIA
RELAÇÕES HUMANAS FALIDAS
VERÃO NA CASA SEM NÚMERO
DANÇA DAS NÚPCIAS
(Danças dos Homens dos Oásis por Ocasião de Núpcias)
INTERLÚDIO - AURORA DOS CÃES – SONS DAS GAITAS
TERCEIRO CICLO – A CARRUAGEM DOS MORTOS
SANTIFICADOS INFERNOS
ENCONTRO
VELHA ÁGUIA SOBRE O VALE DE LÁGRIMAS
PROVÉRBIOS NO PENSAMENTO EMPALHADO DO ESPANTALHO
DOIS HOMENS NO CAMINHO
O FLAUTISTA DE HAMLIN
O ENFORCADO
O BREVE RETORNO
(Um Epílogo para um
Novo Prólogo)
QUARTO CICLO – A CONFRARIA DE NOSSA SENHORA
OS SINOS – O PRINCÍPIO ( Uma Dança Cerimonial –
Parte III)
INTERLÚDIO
FONTES
OS SINOS – AS HARPAS
DANÇA LATINA
ABERTURA - O PRINCÍPIO
(Uma Dança
Cerimonial - Parte I)
* * *
a vida começará agora:
os personagens já vestiram suas fantasias & sonhos
...todos aguardam.
estranhos esses comediantes,
tecendo, por trás de horrendas faces,
comentários a respeito da morte.
mãe invisível,
lar que já não cria formas...
quando o pano subir,
o teatro vivo será exposto ao ridículo...
espectadores fantasmas observam.
uma platéia de insanos...
a vida será mais que a razão e a loucura?
ou estaríamos apenas vagando sem rumo?
o que há por trás de teus olhos,
dama apanhada pelo tempo? Gritou alguém.
o que há por trás das máscaras que usas?
estarias escondendo receios, ou apenas simulando significados?
pétalas de bronze nos lábios da noite...
...já brilham imagens de pedra na antiga lua.
luz
luz
luz
o cérebro do mundo está agonizante
& a criatura já quer brotar
ou rastejar,
submersa num sonho,
semeando palavras
no silêncio das mulheres.
iluminações na praia,
embrião e sepultura
nascem para a vida,
há gritos atrás dos portões.
ouve-se a música,
o vinho é derramado.
e os espíritos começam a dançar...
começam a
dançar...
começam a dançar...
s s
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m n
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ç a
a r
m ...
a dançar...
a dançar...
a dançar....
PRIMEIRO CICLO – O
BANQUETE DO CISNE
R E C O R D A Ç Õ E S
( U M A P I N T U R A P A R A
U M A D A N Ç A )
* * *
cavalos
de fogo (em carruagens solares),
quedas, desejos...
nas nuvens o inverno, o éter silencioso,
céus de níquel (em
contos de amor e ódio),
cantos ternos do
velho homem cego.
na floresta, caçadores
e feras em luta,
seduzidos pela
sabedoria da coruja (e os reis do luar),
lágrimas de
esposas,
mulheres nascidas
(da terra e da poeira do amor).
mãos tocando os
mistérios
em livros
encantados,
os olhos da criança
em fronteiras,
em fábulas, em gravuras
antigas.
homens em
transformações (cães selvagens),
peregrinos
submersos na estrada de leite em terraimagens...
ladrões, ciganos,
assassinos (a voz contínua na concha),
judeus e loucos
envenenavam na aldeia o poço.
os doze cavaleiros
em luta com a serpente,
a senhora,
prisioneira dos espíritos (no oriente),
magos conciliando a
imaginação e a razão,
doze moedas de ouro
(no manto do monge negro).
vozharpa iluminando
a noite,
cantando as quedas
e subidas,
hinos distantes,
lapidados na
memória da Senhora dos espíritos.
um
pacto feito no coração da contadora de estórias...
mãe lua brilhando, energia embrionária
na estação dos
gatos.
Recordarei antigas noites...
um rio corria no interior de uma
bandeja negra,
exóticos pássaros em sua margem,
um camponês oriental andava na seara em
escuridão,
iluminavam taças na sala das cortinas de
vinho...
no palco de um teatro, um melro cantou um
nome proibido junto ao piano,
um casal de vespas levou-me ao bosque para
ver o lago dos peixes
e outro lago de água multicores
e lá perguntei ao Kaizer se ele havia
participado da guerra...
ele deitou-se num imenso cemitério de
ferro...
e na casa havia um piano...
e na casa havia um piano...
Recordarei um antigo entardecer...
um estranho juntou minhas pequenas mãos
no
gólgota
e levou-me à praça e espíritos dançavam em
todos os lugares da terra...
na loja dos canos de vidro e dos filtros de
porcelana
o amante e seu homem-peixe eram um só...
em uma carruagem uma velha senhora vitoriana,
uma faca enterrada em sua testa,
desceu do céu e parou diante dos meus olhos
dizendo
“tu és meu filho
tu és meu filho... não coloques a cruz no túmulo do
pássaro”
Recordarei um antigo amanhecer...
um jantar na casa de um advogado
de negros olhos
durante a festa de um fogo-fátuo...
eu vi como era grande a avenida quando
voltamos para casa,
a mesma avenida que eu teria que passar dez
anos depois
e dez anos antes eu em meu quarto,
uma mulher recitava poemas do universo
enquanto pintava a parede com o sangue das
estrelas...
mas, a dançarina vivia nas vidraças de
múltiplas cores
mas, a dançarina vivia nas vidraças de
múltiplas cores
colheres de
sangue
colheres de sangue
colheres de sangue
colheres de sangue
colheres de sangue
A C R I S T A L E I R A
“Um
cálice de vinho, por favor,
e vai despertar a criança
prisioneira em tua alma.
Celebraremos, hoje,
as bodas do banquete do cisne
no interior da cristaleira
r
i
s
t
a
l
e
i
r
a”, disse o gnomo em sonhos.
Sinos... sinos de cristal, e
“Um jogo, muitas árias, madrigal e
um poema não escrito
e
uma
pintura paralisagística
e
NUVENS NUVENS NUVENS
NUVENS NUVENS NUVENS
e CASTELOS entre
MONTES e
PONTES e
ALDEIAS e
OCEANOS e
RIOS
FONTES FONTES FONTES
e
LAGOS
Uma
criança não lapidada pelo tempo
eu
encontrei no deserto...
era
belo o seu rosto
e
ardente o seu canto...
seus
dedos corriam pelos vitrais de uma igreja
acariciadas
por uma tempestade,
tecelão
de lamentações celestes,
e
aguardava novas núpcias.
“UM CANTO MÁGICO EU TE DAREI,
SIM, EU TE DAREI,
UM CANTO DE OUTRA VELHA CIDADE
QUANDO ESTIVERES VIVO PARA A MORTE
Por
quê não aceitas a magia?
Não
sabes que a loucura
é
a raiz da razão produzida pela razão,
nutrindo
os lábios
com
alegorias divinas”, disse o gnomo em sonhos.
Nos contornos do espelho
Repercutiam
imagens,
relâmpagos acrílicos...
Véu
de ostras refaziam
sombras e despertavam
os
cavalos-harpas em criptas
douradas
e
dançavam,
no ciclo dos ventos
noturnos,
duendes, gnomos e
feiticeiros
ao
longo da vasta paisagem de cristal
ou sobre os ramos da figueira
ou sobre os náufragos do amor e do ódio.
Eu
os via
em minha alquimia
ocultos
em troncos de velhos
carvalhos
Antigas
árvores
Antigas
árvores
Antigas
árvores
No
interior da c
r
i
s
t
a
l
e
i
r
a
e
as guardavam Damas
e Ninfas
Marfim
e cerejas, marfim e cerejas
Disse-me
a fada:
“Toma
esta pequena caixa de música.
Nela
está o coração que perdeste quando criança”.
Um
céu de violetas
Entre as jóias do rei
E
orações em violinos
Ao
fundo dos espelhos
Na
floresta há bruxos
Lá
o gnomo-rei pediu
às
harpias que dormiam
que
acordassem as crianças-cemitério;
“Viajaremos
para a cidade incendiada
esta
noite...
Já
nadei,
em sonhos,
nas águas desse rio”
e
“Muito
cuidado com os homens mudos...
eles
falam através dos olhos”.
Seguimos
para a rua das bonecas de sangue...
Em
uma casa, na porta, estavam o Sr. e Sra.
esperando
alguém que viria dez anos depois
e
que havia morrido dez anos antes.
Sobre
a rua
havia
um livro:
“A fada da cidade incendiada
e os filhos do outono.”
Esperamos
a alvorada
Sitiamos
o paraíso
Resgatando
o passado em recordações
que
renasceram de palavras proibidas
“As
bodas terminam
a
meia noite
Mas,
se quiseres ficar...
teu
é o nosso reino”, disse o gnomo em sonhos.
“As
bodas terminam
a
meia noite...
teu
é o nosso reino...”
“As
bodas terminam
a
meia noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...
Teu
é o nosso reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”
“a
meia noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...
teu
é o nosso reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”
“meia
noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...
teu
é o nosso reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”
“Noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...
teu
é o reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”
“o
reinoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”
“o
reinoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”
“Rumo
à Ilha de Zácrata, barqueiro!
e
deixemos esta casca mortal
que
não nos ajuda em nada”, disse o gnomo em seus sonhos.
HÔRVALOS
HARPA
Dama negro
Dedos gelo
Carícias, cordas e
sonhos
Alguém no jardim
Alguém no jardim
um canto de lea
aos
hôrvalos harpa
o coração pulsa no
Oriente...
antiga Senhora,
pele de gelo, pele
de relva, líquida pele,
os cantores já
fogem em criações
perseguem oásis no
deserto
& o futuro lhes
dá somente algumas miragens...
sombras caindo,
sombras caindo e rindo,
apoiadas umas nas
outras
para ver a queda de todas
Dama negro
Dedos & gelo
& carícias
& cordas & sombras
Alguém no jardim
Alguém no jardim
um
canto
em pedras de jaspe
aos
hôrvalos harpa
e sinos tocam
no ar seco
A DAMA NASCENTE
NA QUEDA DA LUA AMARELA
Ela
nasceu dentro de uma concha noturna,
uma
pele a cada manhã
um
beijo para cada homem
enquanto
cai a lua amarela
num
funeral de moscas luminosas
depois
de
um movimento
Ela
desapareceu
Entre
os ônibus
Convertidos
em moinhos de vento
IMERSÃO
PLÁSTICA
a fundição dos ossos
na cova
é
plasticidade
S A
I
U L
N
B T
Q
J E
U
U R
I
G &
A & E
A D
T
D A
A, talvez...
A
nem exércitos,
nem flores & laços,
nem vivos &
mortos...
o que se tem aí
é
plástico derretido
e nada mais
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança
Latina Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança
Latina Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
Dança Latina Dança Latina
Dança Latina Dança Latina Dança
O PRINCÍPIO
(Uma Dança
Cerimonial – Parte II)
Talvez a platéia esteja
enojada
por se ver confrontada com
tão indigna farsa,
exposta nos versos e canções
acima expostos.
Mas, os dançarinos...
Eles despertaram
no meio do rio
e encenarão as próximas
peças
sem qualquer
sentido
sentido
sentido
sentido
sentido
sentido
sentido
sentido
sentido
sentido
A música não tem qualquer
sentido.
Ela foi feita como a vida e
a morte de cada um dos senhores, aqui presentes.
Se os senhores não concordam
com as minhas palavras, aguardem o desfecho deste livro.
Reparem nos doces acordes
que são tecidos pelo músico.
Gritos infernais Gritos
infernais Gritos infernais
E, rapidamente,
O vento sopra novamente...
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço novamente.
E eu adormeço
novamente.
*Poema composto em 2002.
SEGUNDO CICLO –
DANÇAS ÁRABES NOS JARDINS DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE
O JARDIM DAS BONECAS
MANCHADAS DE SANGUE
terás que viajar ao
cemitério à procura dos ossos de tua mãe,
terás que caminhar
até a prisão levando o almoço ao teu amante penitente,
terás que construir
uma elegante sepultura nas janelas do oceano,
terás que levar uma
lápide de ouro para o reino que deixaste...
és obrigada amar os
tambores emudecidos da África...
não tens que ter
medo só porque as coisas vão mal;
se queres florescer
em outro lugar, pequena mulher abandonada no bar,
tens que ir por
outra via, pavimentada por jóias e ostras,
construída por
amantes afogados no verão,
porque o céu
esconde um oceano atrás das nuvens
e esta é uma oração
no jardim das bonecas manchadas de sangue.
vimos os teus anjos
vagarem em caixas amplificadas,
vimos os teus anões
e índios esquecidos nos museus e circos,
vimos tuas cópulas
plastificadas, consumidas no lago do amor glacial,
vimos tua irmã
falando do amor entre as bocas dos náufragos
em tua noite e nos
seres que ela possui,
vimos o verme em
tua carne política e teu corpo fundido no asfalto e no barro,
não podemos ver teu
medo porque os negócios vão mal;
se queres florescer
em outra estação, pequena mulher abandonada no bar,
tens que seguir por
outra via, pavimentada por jóias e ostras,
construída por
amantes afogados no verão,
porque o céu
esconde um oceano atrás das nuvens
e esta é uma oração
no jardim das bonecas manchadas de sangue.
Isaías fugiu da
nação pisando nas flores que jogou no seu caminho...
ainda cantas o
salmo que ele deixou no túmulo do desconhecido mendigo
e como ele, tua
casa apodreceu e para lá não queres voltar,
e corres para as
ruas, geladas como a alma de Isaías,
através dos
infernos sem limites, procurando uma face semelhante a tua,
enquanto o cisne
rubro canta na escuridão,
não tens que chorar
só porque teu mundo vai mal;
se queres florescer
em outra estação, pequena mulher abandonada no bar,
tens que seguir por
outra via, pavimentada por jóias e ostras,
construída por
amantes no verão,
porque o céu
esconde um oceano atrás das nuvens
e esta é uma oração
no jardim das bonecas manchadas de sangue.
uma transformação
se opera em teu útero...
embora não saibas
no que vai dar,
não sabes subir ou
descer as escadarias da igreja...
uma floresta de
imagens varre teu deserto cerebral,
e estranhas
criaturas viram pedras de sal nos teus corredores mentais
e amanhã voltarás
ao teu emprego
e milhões de
criaturas estarão em ti
mas, não tens que
ter medo porque não tens dinheiro para apagar o nome
de
teu filho;
se queres florescer
em outra estação, pequena mulher abandonada no bar,
tens que seguir por
outra via, pavimentada por jóias e ostras,
construída por
amantes afogados no verão,
porque o céu
esconde um oceano atrás das nuvens
e esta é uma oração
no jardim das bonecas manchadas de sangue.
ainda perguntas se
a água é mais forte que o fogo
ou por qual dos
dois deves ser batizada;
a água converte o
vinho, o fogo converte o oceano
e o órfão é
indesejado na casa de seus irmãos
e o bêbado é
expulso do vale do amor
e a mulher da noite
queimada nos altares das igrejas
e o miserável
jogado fora com os despojos da eleição
e o rapaz procura
uma nova manhã fora de casa
e tu danças na
beira do rio
e todos são teus
irmãos na vigília que fazes no bar
enquanto o tempo
ergue uma grande onda contra todos
e todos são teus
irmãos na água e no fogo
transformando e
convertendo as estradas do mundo...
mas, não tens que
chorar só porque não tens dinheiro para pagar teu enterro;
se queres florescer
em outra estação, pequena mulher abandonada no oceano,
tens que seguir por
outra via, pavimentada por jóias e ostras,
construída por
amantes afogados no verão,
porque o céu
esconde um bar entre as nuvens
e esta é uma antiga
oração no jardim das bonecas manchadas de sangue.
MARIA
Maria,
por quê choras nas margens do rio?
porque
tenho fome
porque
odeio os homens
Maria,
por quê choras nas margens do rio?
porque
não tenho casa
porque
matei meus filhos em meu ventre
Maria,
que farás agora?
minhas
lágrimas inundarão este rio
quando
a morte dançar sobre meu corpo
Dança
Maria
Dança
para mim
Amanhã,
tudo terá um único fim.
Na
vida, tudo tem um único início e um único fim.
RELAÇÕES
HUMANAS
FALIDAS
o amor é uma relação humana falida
a carne é uma relação humana falida
o cartão de natal do patrão ao empregado é uma
relação humana falida
as lições do professor ao aluno é uma relação humana
falida
a oração do padre aos fiéis e infiéis é uma relação
humana falida
o amor de uma mulher por outra mulher é uma relação
humana falida
o amor de um homem por outro homem é uma relação
humana falida
o amor de um homem por uma mulher é uma relação
humana falida
o amor da mãe pela filha e da filha pela mãe é uma
relação humana falida
o amor do pai pelo filho e do filho pelo pai é uma
relação humana falida
o amor dos amores e tudo que existe entre homens e
mulheres e filhos
é uma relação humana falida
todos sentados em suas mesas, no bar,
uma cerveja amarga para cada um, segundo Eliot,
e para cada mundo isolado, cada resto deixado,
um riso bancário, segundo Isaías Galbraith
liga a t.v., vai ao cinema, compra o livro, ouve o
disco,
discute arte e mediocridade, entra no carro,
flagela-te no motel, pulveriza-te nas colunas
sociais
dos jornais...
o que queres?
O que pensas?
O que sentes?
O amanhã não será tranqüilidade
e todos estarão dançando sua dança de felicidade
artificial
em campanhas políticas nos supermercados
o presidente será internado no manicômio
o governador morrerá de Aids
o prefeito contrairá sífilis
o silêncio será minha morte
o silêncio será minha morte
o silêncio será minha morte
não para um fim
mas,
para um renascimento no vazio
VERÃO
NA
CASA
SEM
NÚMERO
verão na casa sem número
para lá correm os que fogem do mundo
verão na casa sem número
se vamos para o inferno, peguemos uma carona
verão na casa sem número
onde deixaste teu rosto, e afinal, qual o teu nome
verão na casa sem número
damas do ócio, cavaleiros sem elmo
verão na casa sem número
o álcool corta as avenidas cerebrais
verão na casa sem número
antes que os porcos invadam o mundo quero partir
verão na casa sem número
hienas devoram tua carne e nada sentes,
nem dor, nem piedade, nem vergonha
nada sentes, nada sentes, nada sentes
nem dor, nem piedade, nem vergonha
verão na casa sem número
a polícia chegou, atirou,
dez corpos adormecidos, o sangue corre pelo chão
nada sentes,
nem dor, nem piedade, nem vergonha, nem morte, nem
vida,
e adormecido
no chão
pegaste o trem na última estação do pesadelo
noturno.
DANÇA
DAS
NÚPCIAS
(Danças dos Homens dos Oásis por Ocasião de Núpcias)
A ressonância que paira sobre as dunas:
eu a espero...
A mulher envolta no véu de seda,
em meio ao calor do dia.
Ser despedaçado
em meio às injúrias.
E ela dança e dança na noite de núpcias,
em passos de criança,
toda a sua existência,
tudo o que chorou neste mundo...
E ela dança e dança na noite de núpcias,
em passos de criança,
toda a sua exuberância,
todo o riso deste mundo...
A bomba que foi disparada
e que rompeu os ares,
atravessou-lhe a costa.
E ela dança e dança na noite de núpcias,
em passos de criança,
toda a sua estupidez,
tudo o que não viu neste mundo...
E na rua as bonecas manchadas de sangue
adormecem ante os olhares
daqueles que passam
maldizendo a sorte que tiveram.
Bela moça,
Pele branca,
Pele manchada de sangue...
Vamos para as núpcias
da loucura,
noiva esquartejada.
*Poema composto em 2002.
INTERLÚDIO
- AURORA
DOS
CÃES
armado,
o homem pensa que a rua é do senador.
não obedecido,
o rei faz um código.
mal amado,
o solitário pensa que todas as mulheres
são prostitutas.
irado,
o
amigo escraviza seu inimigo.
vale de lésbicas,
asilo de insanos velhinhos,
paraíso em preto e branco de travestis coloridos...
tua
arma, tua lei, tua ira, tua solidão
o
que fizeram com teu mundo
astuto,
o publicitário engana a todos.
o semeador virá no inverno
e fará a colheita na tempestade. assim me
foi dito.
semeará girassóis no inverno
nos seios da prostituta.
e o cão apenas ouve o tocador de gaita sorrir.
MÚSICAS
MÚSICAS DO LIVRO-MÚSICA “ILUMINURAS - As Iluminações
que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue -
(compostas, tocadas e gravadas em outubro de 1986).
Cd 1.
1. ABERTURA -
O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte I) (Marco Alexandre
Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: Violões eletrificados (a base foi gravada em 1983).
2. Primeiro Ciclo - O Banquete do Cisne (Marco
Alexandre Rosário).
Incluindo os seguintes
poemas/músicas:
Recordações (Uma Pintura
Para Uma Dança)/ A Cristaleira/ Hôrvalos Harpa/ A Dama Nascente na Queda da Lua
Amarela/Imersão Plástica/ O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte II).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: órgão, piano, flautas,
violão, violão eletrificado, bateria eletrônica e outros efeitos.
3. Segundo Ciclo – Danças Árabes no Jardim
das Bonecas Manchadas de Sangue (Marco Alexandre Rosário).
Incluindo os seguintes
poemas/músicas:
O Jardim das Bonecas
Manchadas de Sangue/Maria/ Relações Humanas Falidas/ Verão na Casa Sem Número/
Dança das Núpcias (Dança dos Homens dos Oásis por ocasião de Núpcias).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: violões eletrificados, órgão e
efeitos sonoros (música folclórica árabe).
4. Interlúdio – Aurora dos Cães – Sons das Gaitas
(Marco Alexandre Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: gaitas.
Cd 2.
1. Terceiro Ciclo – A Carruagem dos Mortos (Marco
Alexandre Rosário).
Incluindo os seguintes
poemas/músicas:
Santificados Infernos/
Encontro
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: piano, cravo, órgão, violão
eletrificado, xilofone, flauta, bateria eletrônica e efeitos sonoros.
Quarto Ciclo – A Confraria de Nossa Senhora.
2. Os Sinos –
O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte III) (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: violão eletrificado e efeitos sonoros (Monastery Bells).
3. Interlúdio (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: piano.
4. Fontes (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: xilofone-teclado.
5. Os Sinos – As Harpas (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: harpa nordestina e efeitos sonoros (Monastery Bells).
6. Dança Latina (Marco Alexandre Rosário).
Gravado em
Belém, Pará.
Instrumentos: órgão, bateria eletrônica e efeitos sonoros.
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