Blog do Hektor

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segunda-feira, 22 de março de 2021

 (I) ILUMINURAS - AS ILUMINAÇÕES QUE RIMBAUD NÃO ILUMINOU NO JARDIM DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE - SEGUNDO LIVRO-MÚSICA DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/GRAVADORA ARTE DEGENERADA.


O LIVRO DE PINTURAS “SURREALÍSTICA I”, O LIVRO-MÚSICA “ILUMINURAS” E A EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM) - (OUTUBRO DE 1986).

Iluminuras, segundo Livro-Música da Editora Ogmios, de 1986. Na foto, a versão de 1986 (datilografada e manuscrita e com fita cassete) e a versão de 2000/2005, digitalizada e com Cd.
 

Livro-Música "Iluminuras - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue"/1986 (Cd 1 - 1o. Volume - na íntegra):

Link: Iluminuras/1986 (Cd 1 - 1o. Volume)


Músicas do Livro-Música "Iluminuras"/1986:

Link: Abertura - O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte I - 1986)

Link: Primeiro Ciclo - O Banquete do Cisne/1986


O Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch.

No segundo semestre do ano de 1986, eu decidi mudar o nome do meu projeto artístico. Eu li num livro de ciências ocultas alguma coisa a respeito do velho deus Ogmios, o velho calvo, uma divindade celta. O livro informava que da boca de Ogmios saiam fios de ouro que enlaçavam as orelhas das pessoas, as quais eram obrigadas a ouvi-lo. Pela magnitude da estória, achei o nome perfeito para o meu projeto artístico. Assim nascia, em definitivo, a EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM), tendo como sua parte musical a GRAVADORA ARTE DEGENERADA. Como pode ser observado, a denominação do projeto sempre foi “SEACULUM OBSCURUM”. Alguém pode perguntar: ‘por quê tantos nomes?” Bom, aquilo tudo funcionava como se realmente fosse uma editora e uma gravadora. Uma empresa poético/musical alternativa.

 

                                                O Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch.

Após o livro “Sete Pérolas para Hollandri”, eu resolvi fazer um livro de pinturas. Juntamente com minha pesquisa literária e musical, eu também iniciei uma pesquisa sobre a história da pintura. Eu estava interessado em tudo o que se referisse às artes. Deste modo, entrei em contato com os trabalhos de Bosch, Michelangelo, Delacroix, Bruegel, Chagall, Van Gogh, Renoir, Goya, Monet, Salvador Dali, Courbet, Whistler, El Greco, Giotto, Louis Wain Andy Warhol e tantos outros grandes nomes. Eu também me interessava e estudava a pintura medieval, as esculturas gregas, os grandes monumentos da antigüidade. Assim, eu resolvi fazer o livro de pinturas “Surrealística I”. Eram, ao todo, umas oito pinturas, pintadas em folhas de cartolina branca.

 

                                                       O Juízo Final, de Hieronymus Bosch.

Por volta do início de outubro de 1986, eu voltei a aparecer na casa da Carla Morrison. Meu objetivo era gravar mais um Livro-Música. Desta vez, eu produzi um álbum duplo, ou seja, eu gravei músicas numa fita cassete de 90 minutos (a fita cassete do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” tem 60 minutos). “Iluminuras”, o novo Livro-Música, teve o mesmo processo de produção do Livro-Música anterior: músicas gravadas em duas fitas cassetes, três aparelhos de som, amplificador, violão, flauta, gaita e outros efeitos sonoros. A música que abre o álbum foi denominada “Abertura – O Princípio ( Uma Dança Cerimonial – Parte I)”. A base desta música foi gravada em 1983, com violão e amplificador, como eu já falei antes. O som parece o de um órgão, mas é o som de um violão, distorcido e com ecos. Eu escrevi vários poemas para este livro, mas nem todos foram utilizados. O Livro-Música foi dividido em quatro partes: “O banquete do Cisne”, “Danças Árabes no Jardim das bonecas Manchadas de Sangue”, “A Carruagem dos Mortos” e “A Confraria de Nossa Senhora”. Nota-se nestes títulos a influência dos pintores Bosch e Bruegel. Cada parte conteria vários poemas. Os poemas “Recordações” e “A Cristaleira” foram feitos com fortes imagens surrealistas da minha infância. A minha avó tinha uma cristaleira, e eu sempre imaginava pequenos seres espirituais brincando dentro dela, entre taças de cristal e copos de vidro, sob o reflexo do espelho. Quando eu era criança, eu tinha alguns livros que contavam estórias fantásticas e fábulas misteriosas e que tinham gravuras maravilhosas (lendas tchecas, italianas, inglesas, etc). Eu era fascinado por estes livros como também por mitos e estórias sobre seres fantásticos da Amazônia. Também havia um pequeno jardim na frente da casa, aonde eu sempre brincava e imagina seres fantásticos vivendo ali. Foi por esse motivo que eu tanto me aproximei da obra de escritores como o irlandês William Butler Yeats. Yeats tem estes poemas e peças teatrais fantásticos, com seres mitológicos como personagens principais. Ele foi um dos escritores que mais exerceu influência em minha obra poética. O título do poema “O Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue” foi tirado de um fato ocorrido em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Algumas pessoas haviam ido a um Pub para festejar os 15 anos de uma garota. Logo teve início um ataque alemão e uma bomba alemã atingiu o Pub. Várias pessoas morreram. Uma testemunha que passava pelo local da explosão disse que os mortos foram colocadas na rua, em fila, e que aquelas pessoas mortas se assemelhavam com belas bonecas manchadas de sangue. Há muitos outros grandes poemas/músicas no livro: “Hôrvalos Harpa”, “A Dama Nascente na Queda da Lua Amarela”, “Imersão Plástica”, “Maria”, “Relações Humanas Falidas”, “Dança das Núpcias”, “Santificados Infernos”, “Os Sinos – O Princípio”, “Os Sinos – As Harpas” (nesses dois últimos, no que se refere às respectivas músicas, há sinos tocando e ocorre a repetição da música “Abertura –  O Princípio.”).

 

                                                        Pintura de William Blake.

O título deste Livro-Música (“Iluminuras”) foi tirado de livros medievais (evangelhos) feitos por monges, como os Evangelhos de Lindisfarne. Portanto, não tem qualquer relação com o livro “Iluminações”, do poeta Arthur Rimbaud. Na época em que eu escrevi o Livro-Música “Iluminuras”, eu conhecia alguns poucos poemas de Rimbaud e desconhecia o fato de que um dos seus livros tinha como título a palavra “Illuminations” (Iluminações), que alguns tradutores traduziram para o português com o título de “Iluminuras”. Em 2002, quando eu digitei o Livro-Música “Iluminuras” no computador, eu resolvi acrescentar um subtítulo: “As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue”. Assim, eu espero ter retirado qualquer possibilidade de relação do meu livro com o livro de Arthur Rimbaud.

                                                               Pintura de William Blake.


 hhh

  

ILUMINURAS

As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue

 

MARCO ALEXANDRE

DA

COSTA ROSÁRIO

 

%

ÿPOESIA, MÚSICA & PINTURA¯

%

 

 

Um Livro-Música da

 

 

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

 

*BLITZBUCH*

1986



SUMÁRIO

 

 

ABERTURA - O PRINCÍPIO (Uma Dança Cerimonial – Parte I)

 

 

PRIMEIRO CICLO – O BANQUETE DO CISNE

 

 

RECORDAÇÕES (Uma Pintura Para Uma Dança)

 

A CRISTALEIRA

 

HÔRVALOS HARPA

 

A DAMA NASCENTE NA QUEDA DA LUA AMARELA

 

IMERSÃO PLÁSTICA

 

O PRINCÍPIO (Uma Dança Cerimonial – Parte II)

 

 

SEGUNDO CICLO – DANÇAS ÁRABES NO JARDIM DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE

 

 

O JARDIM DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE

 

MARIA

 

RELAÇÕES HUMANAS FALIDAS

 

VERÃO NA CASA SEM NÚMERO

 

DANÇA DAS NÚPCIAS

(Danças dos Homens dos Oásis por Ocasião de Núpcias)

 

INTERLÚDIO - AURORA DOS CÃES – SONS DAS GAITAS

TERCEIRO CICLO – A CARRUAGEM DOS MORTOS

 

 

SANTIFICADOS INFERNOS

 

ENCONTRO EM UMA ANTIGA ESTAÇÃO

 

VELHA ÁGUIA SOBRE O VALE DE LÁGRIMAS

 

PROVÉRBIOS NO PENSAMENTO EMPALHADO DO ESPANTALHO

 

DOIS HOMENS NO CAMINHO

 

O FLAUTISTA DE HAMLIN

 

O ENFORCADO

 

O BREVE RETORNO

(Um Epílogo para um Novo Prólogo)

 

 

 

QUARTO CICLO – A CONFRARIA DE NOSSA SENHORA

 

 

OS SINOS – O PRINCÍPIO ( Uma Dança Cerimonial – Parte III)

 

INTERLÚDIO

 

FONTES

 

OS SINOS – AS HARPAS

 

DANÇA LATINA

 

 

 

 

ABERTURA - O PRINCÍPIO

(Uma Dança Cerimonial - Parte I)

 

*     *     *

  

a vida começará agora:

os personagens já vestiram suas fantasias & sonhos

...todos aguardam.

 

estranhos esses comediantes,

tecendo, por trás de horrendas faces,

comentários a respeito da morte.

 

mãe invisível,

lar que já não cria formas...

 

quando o pano subir,

o teatro vivo será exposto ao ridículo...

espectadores fantasmas observam.

 

uma platéia de insanos...

a vida será mais que a razão e a loucura?

ou estaríamos apenas vagando sem rumo?

 

o que há por trás de teus olhos,

dama apanhada pelo tempo? Gritou alguém.

o que há por trás das máscaras que usas?

estarias escondendo receios, ou apenas simulando significados?

 

 

 

pétalas de bronze nos lábios da noite...

...já brilham imagens de pedra na antiga lua.

 

 

luz

 

luz

 

luz

 

o cérebro do mundo está agonizante

 

 

& a criatura já quer brotar

ou rastejar, submersa num sonho,

 

semeando palavras

no silêncio das mulheres.

 

iluminações na praia,

   embrião e sepultura

 

nascem para a vida,

há gritos atrás dos portões.

 

   ouve-se a música,

o vinho é derramado.

 

e os espíritos começam a dançar...

começam a dançar...

começam a dançar...

 

 

s     s    í   i    o

o    e   p   r    t    s

 

 

c          a          d

o                      a

m                     n

e                      ç

ç                      a

a                      r

                                                 m                     ...

                                                                     

                                                                     

a dançar...

 

a dançar...

 

a dançar....

 

 

   

PRIMEIRO CICLO – O BANQUETE DO CISNE


   

R E C O R D A Ç Õ E S

 

( U M A   P I N T U R A   P A R A   U M A   D A N Ç A )

 

*              *              *

 

cavalos de fogo (em carruagens solares),

quedas, desejos... nas nuvens o inverno, o éter silencioso,

céus de níquel (em contos de amor e ódio),

cantos ternos do velho homem cego.

 

na floresta, caçadores e feras em luta,

seduzidos pela sabedoria da coruja (e os reis do luar),

lágrimas de esposas,

mulheres nascidas (da terra e da poeira do amor).

 

mãos tocando os mistérios

em livros encantados,

os olhos da criança em fronteiras,

em fábulas, em gravuras antigas.

 

homens em transformações (cães selvagens),

peregrinos submersos na estrada de leite em terraimagens...

ladrões, ciganos, assassinos (a voz contínua na concha),

judeus e loucos envenenavam na aldeia o poço.

 

os doze cavaleiros em luta com a serpente,

a senhora, prisioneira dos espíritos (no oriente),

magos conciliando a imaginação e a razão,

doze moedas de ouro (no manto do monge negro).

 

vozharpa iluminando a noite,

cantando as quedas e subidas,

hinos distantes,

lapidados na memória da Senhora dos espíritos.

 

 

um pacto feito no coração da contadora de estórias...

 

  mãe lua brilhando, energia embrionária

 

na estação dos gatos.

 

Recordarei antigas noites...

um rio corria no interior de uma

                                                             bandeja negra,

exóticos pássaros em sua margem,

um camponês oriental andava na seara em escuridão,

iluminavam taças na sala das cortinas de vinho...

no palco de um teatro, um melro cantou um nome proibido junto ao piano,

um casal de vespas levou-me ao bosque para ver o lago dos peixes

e outro lago de água multicores

e lá perguntei ao Kaizer se ele havia participado da guerra...

ele deitou-se num imenso cemitério de ferro...

e na casa havia um piano...

e na casa havia um piano...

 

 

Recordarei um antigo entardecer...

um estranho juntou minhas pequenas mãos

                                                                                   no gólgota

e levou-me à praça e espíritos dançavam em todos os lugares da terra...

na loja dos canos de vidro e dos filtros de porcelana

o amante e seu homem-peixe eram um só...

em uma carruagem uma velha senhora vitoriana,

uma faca enterrada em sua testa,

desceu do céu e parou diante dos meus olhos dizendo

“tu és meu filho

tu és meu filho...       não coloques a cruz no túmulo do pássaro”

 

 

Recordarei um antigo amanhecer...

um jantar na casa de um advogado

                                                                de negros olhos

durante a festa de um fogo-fátuo...

eu vi como era grande a avenida quando voltamos para casa,

a mesma avenida que eu teria que passar dez anos depois

e dez anos antes eu em meu quarto,

uma mulher recitava poemas do universo

enquanto pintava a parede com o sangue das estrelas...

mas, a dançarina vivia nas vidraças de múltiplas cores

mas, a dançarina vivia nas vidraças de múltiplas cores

 

                                    colheres de sangue

colheres de sangue

colheres de sangue

colheres de sangue

colheres de sangue

 

  

 

 A  C R I S T A L E I R A

 

“Um cálice de vinho, por favor,

e vai despertar a criança

prisioneira em tua alma.

Celebraremos, hoje,

as bodas do banquete do cisne

no interior da cristaleira

                         r

                         i

                         s

                         t

                         a

                         l

                         e

                         i

                         r

                         a”, disse o gnomo em sonhos.

Sinos... sinos de cristal, e

“Um jogo, muitas árias, madrigal e

  um poema não escrito

                                 e

                             uma

pintura                                        paralisagística

 

                                 e

         NUVENS               NUVENS                                       NUVENS

 

        NUVENS               NUVENS                                    NUVENS

 

e        CASTELOS       entre

 

         MONTES    e

 

                                      PONTES    e

 

                                                               ALDEIAS   e

 

                                                                        OCEANOS    e

                                        RIOS

        FONTES         FONTES         FONTES

                                           e

                                       LAGOS

Uma criança não lapidada pelo tempo

eu encontrei no deserto...

era belo o seu rosto

e ardente o seu canto...

seus dedos corriam pelos vitrais de uma igreja

acariciadas por uma tempestade,

tecelão de lamentações celestes,

e aguardava novas núpcias.

 

     “UM CANTO MÁGICO EU TE DAREI,

       SIM, EU TE DAREI,

       UM CANTO DE OUTRA VELHA CIDADE

       QUANDO ESTIVERES VIVO PARA A MORTE

 

 

Por quê não aceitas a magia?

Não sabes que a loucura

é a raiz da razão produzida pela razão,

nutrindo os lábios

com alegorias divinas”, disse o gnomo em sonhos.

 

Nos contornos do espelho

Repercutiam imagens,

                               relâmpagos acrílicos...

Véu de ostras refaziam

                          sombras                 e                     despertavam

os cavalos-harpas em criptas

                                                    douradas

e dançavam,

                        no ciclo dos ventos noturnos,

                        duendes, gnomos e feiticeiros

ao longo da vasta paisagem de cristal

                                        ou sobre os ramos da figueira

               ou sobre os náufragos do amor e do ódio.

Eu os via

                 em minha alquimia

ocultos

                            em troncos de velhos

                                                                                   carvalhos

 

 

Antigas árvores

 

 

Antigas árvores

 

 

Antigas árvores

No interior da         c

                            r

                                i

                                       s

                                               t

                                                       a

                                                               l

                                                                       e

                                                                               i

                                                                                       r

                                                                                              a

 

e as guardavam Damas

                           e Ninfas

Marfim e cerejas, marfim e cerejas

Disse-me a fada:

“Toma esta pequena caixa de música.

Nela está o coração que perdeste quando criança”.

 

Um céu de violetas

                    Entre as jóias do rei

E orações em violinos

Ao fundo dos espelhos

Na floresta há bruxos

Lá o gnomo-rei pediu

às harpias que dormiam

que acordassem as crianças-cemitério;

 

“Viajaremos para a cidade incendiada

esta noite...

Já nadei,

                em sonhos,

                                      nas águas desse rio”

e

“Muito cuidado com os homens mudos...

eles falam através dos olhos”.

 

 

Seguimos para a rua das bonecas de sangue...

Em uma casa, na porta, estavam o Sr. e Sra.

esperando alguém que viria dez anos depois

e que havia morrido dez anos antes.

 

Sobre a rua

havia um livro:

                      “A fada da cidade incendiada

                                      e os filhos do outono.”

   

Esperamos a alvorada

Sitiamos o paraíso

Resgatando o passado em recordações

que renasceram de palavras proibidas

  

“As bodas terminam

a meia noite

Mas, se quiseres ficar...

teu é o nosso reino”, disse o gnomo em sonhos.

 

 

“As bodas terminam

a meia noite...

teu é o nosso reino...”

 

“As bodas terminam

a meia noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...

Teu é o nosso reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”

 

 

“a meia noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...

teu é o nosso reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”

 

 

“meia noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...

teu é o nosso reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”

   

“Noiteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...

teu é o reinooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”

 

“o reinoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”

 

“o reinoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo...”

  

“Rumo à Ilha de Zácrata, barqueiro!

e deixemos esta casca mortal

que não nos ajuda em nada”, disse o gnomo em seus sonhos.

 

  

HÔRVALOS HARPA

 

Dama negro

Dedos gelo

Carícias, cordas e sonhos

 

Alguém no jardim

Alguém no jardim

um canto de lea

aos

hôrvalos harpa

 

o coração pulsa no Oriente...

antiga Senhora,

pele de gelo, pele de relva, líquida pele,

os cantores já fogem em criações

 

perseguem oásis no deserto

& o futuro lhes dá somente algumas miragens...

sombras caindo, sombras caindo e rindo,

apoiadas umas nas outras

           para ver a queda de todas

 

Dama negro

Dedos & gelo

& carícias & cordas & sombras

 

Alguém no jardim

Alguém no jardim

         um

         canto

         em pedras de jaspe

aos

hôrvalos harpa

 

e sinos tocam

no ar seco



A DAMA NASCENTE

NA QUEDA DA LUA AMARELA

 

  

Ela nasceu dentro de uma concha noturna,

uma pele a cada manhã

um beijo para cada homem

 

enquanto cai a lua amarela

num funeral de moscas luminosas

depois

  

de um movimento

  

Ela desapareceu

Entre os ônibus

Convertidos em moinhos de vento

 

 

 

IMERSÃO

       PLÁSTICA

 

 

a fundição dos ossos

na                      cova

 

 

              é

 

 

       plasticidade

 

 

S           A          I

 

U          L          N

 

B           T          Q

 

J           E          U

 

U          R           I

 

G    &    A   &   E

 

A           D          T

 

D          A          A, talvez...

 

A

 

 

nem exércitos,

                                 nem flores & laços,

             nem vivos & mortos...

 

o que se tem aí

 

 

          é

 

 

plástico derretido

                                 e nada mais

 

 

 

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança Latina Dança

 

  

O PRINCÍPIO

(Uma Dança Cerimonial – Parte II)

 

Talvez a platéia esteja enojada

por se ver confrontada com tão indigna farsa,

exposta nos versos e canções acima expostos.

 

Mas, os dançarinos...

 

Eles despertaram

no meio do rio

e encenarão as próximas peças

sem qualquer

sentido

sentido

sentido

sentido

sentido

sentido

sentido

sentido

sentido

sentido

 

A música não tem qualquer sentido.

 

Ela foi feita como a vida e a morte de cada um dos senhores, aqui presentes.

 

Se os senhores não concordam com as minhas palavras, aguardem o desfecho deste livro.

 

Reparem nos doces acordes que são tecidos pelo músico.

 

 

 

Gritos infernais Gritos infernais Gritos infernais

 

E, rapidamente,

 

O vento sopra novamente...

 

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.

 

E eu adormeço novamente.


*Poema composto em 2002.

 

  

 

SEGUNDO CICLO – DANÇAS ÁRABES NOS JARDINS DAS BONECAS MANCHADAS DE SANGUE

 

 

 

O JARDIM DAS BONECAS

                          MANCHADAS DE SANGUE

   

terás que viajar ao cemitério à procura dos ossos de tua mãe,

terás que caminhar até a prisão levando o almoço ao teu amante penitente,

terás que construir uma elegante sepultura nas janelas do oceano,

terás que levar uma lápide de ouro para o reino que deixaste...

és obrigada amar os tambores emudecidos da África...

não tens que ter medo só porque as coisas vão mal;

se queres florescer em outro lugar, pequena mulher abandonada no bar,

tens que ir por outra via, pavimentada por jóias e ostras,

construída por amantes afogados no verão,

porque o céu esconde um oceano atrás das nuvens

e esta é uma oração no jardim das bonecas manchadas de sangue.

 

vimos os teus anjos vagarem em caixas amplificadas,

vimos os teus anões e índios esquecidos nos museus e circos,

vimos tuas cópulas plastificadas, consumidas no lago do amor glacial,

vimos tua irmã falando do amor entre as bocas dos náufragos

em tua noite e nos seres que ela possui,

vimos o verme em tua carne política e teu corpo fundido no asfalto e no barro,

não podemos ver teu medo porque os negócios vão mal;

se queres florescer em outra estação, pequena mulher abandonada no bar,

tens que seguir por outra via, pavimentada por jóias e ostras,

construída por amantes afogados no verão,

porque o céu esconde um oceano atrás das nuvens

e esta é uma oração no jardim das bonecas manchadas de sangue.

 

  

Isaías fugiu da nação pisando nas flores que jogou no seu caminho...

ainda cantas o salmo que ele deixou no túmulo do desconhecido mendigo

e como ele, tua casa apodreceu e para lá não queres voltar,

e corres para as ruas, geladas como a alma de Isaías,

através dos infernos sem limites, procurando uma face semelhante a tua,

enquanto o cisne rubro canta na escuridão,

não tens que chorar só porque teu mundo vai mal;

se queres florescer em outra estação, pequena mulher abandonada no bar,

tens que seguir por outra via, pavimentada por jóias e ostras,

construída por amantes no verão,

porque o céu esconde um oceano atrás das nuvens

e esta é uma oração no jardim das bonecas manchadas de sangue.

 

uma transformação se opera em teu útero...

embora não saibas no que vai dar,

não sabes subir ou descer as escadarias da igreja...

uma floresta de imagens varre teu deserto cerebral,

e estranhas criaturas viram pedras de sal nos teus corredores mentais

e amanhã voltarás ao teu emprego

e milhões de criaturas estarão em ti

mas, não tens que ter medo porque não tens dinheiro para apagar o nome

de teu filho;

se queres florescer em outra estação, pequena mulher abandonada no bar,

tens que seguir por outra via, pavimentada por jóias e ostras,

construída por amantes afogados no verão,

porque o céu esconde um oceano atrás das nuvens

e esta é uma oração no jardim das bonecas manchadas de sangue.

 

  

ainda perguntas se a água é mais forte que o fogo

ou por qual dos dois deves ser batizada;

a água converte o vinho, o fogo converte o oceano

e o órfão é indesejado na casa de seus irmãos

e o bêbado é expulso do vale do amor

e a mulher da noite queimada nos altares das igrejas

e o miserável jogado fora com os despojos da eleição

e o rapaz procura uma nova manhã fora de casa

e tu danças na beira do rio

e todos são teus irmãos na vigília que fazes no bar

enquanto o tempo ergue uma grande onda contra todos

e todos são teus irmãos na água e no fogo

transformando e convertendo as estradas do mundo...

mas, não tens que chorar só porque não tens dinheiro para pagar teu enterro;

se queres florescer em outra estação, pequena mulher abandonada no oceano,

tens que seguir por outra via, pavimentada por jóias e ostras,

construída por amantes afogados no verão,

porque o céu esconde um bar entre as nuvens

e esta é uma antiga oração no jardim das bonecas manchadas de sangue.

 

  

MARIA

  

Maria, por quê choras nas margens do rio?


porque tenho fome

porque odeio os homens

  

Maria, por quê choras nas margens do rio?

   

porque não tenho casa

porque matei meus filhos em meu ventre

  

Maria, que farás agora?

  

minhas lágrimas inundarão este rio

quando a morte dançar sobre meu corpo

   

Dança Maria

Dança para mim

   

Amanhã, tudo terá um único fim.

Na vida, tudo tem um único início e um único fim.

 

 

 

RELAÇÕES

      HUMANAS

             FALIDAS

 

 o amor é uma relação humana falida

a carne é uma relação humana falida

o cartão de natal do patrão ao empregado é uma relação humana falida

as lições do professor ao aluno é uma relação humana falida

 

a oração do padre aos fiéis e infiéis é uma relação humana falida

o amor de uma mulher por outra mulher é uma relação humana falida

o amor de um homem por outro homem é uma relação humana falida

o amor de um homem por uma mulher é uma relação humana falida

 

o amor da mãe pela filha e da filha pela mãe é uma relação humana falida

o amor do pai pelo filho e do filho pelo pai é uma relação humana falida

o amor dos amores e tudo que existe entre homens e mulheres e filhos

é uma relação humana falida

  

todos sentados em suas mesas, no bar,

uma cerveja amarga para cada um, segundo Eliot,

e para cada mundo isolado, cada resto deixado,

um riso bancário, segundo Isaías Galbraith

  

liga a t.v., vai ao cinema, compra o livro, ouve o disco,

discute arte e mediocridade, entra no carro,

flagela-te no motel, pulveriza-te nas colunas sociais

dos jornais...

 

 o que queres?

 

O que pensas?

 

O que sentes?

 

O amanhã não será tranqüilidade

  

e todos estarão dançando sua dança de felicidade artificial

em campanhas políticas nos supermercados

 

o presidente será internado no manicômio

o governador morrerá de Aids

o prefeito contrairá sífilis

  

o silêncio será minha morte

o silêncio será minha morte

o silêncio será minha morte

  

não para um fim

  

mas,

  

para um renascimento no vazio

 

   VERÃO

         NA

CASA

       SEM

                                                          NÚMERO

   

verão na casa sem número

para lá correm os que fogem do mundo

 

verão na casa sem número

se vamos para o inferno, peguemos uma carona

 

verão na casa sem número

onde deixaste teu rosto, e afinal, qual o teu nome

 

verão na casa sem número

damas do ócio, cavaleiros sem elmo

 

verão na casa sem número

o álcool corta as avenidas cerebrais

 

verão na casa sem número

antes que os porcos invadam o mundo quero partir

 

verão na casa sem número

hienas devoram tua carne e nada sentes,

nem dor, nem piedade, nem vergonha

 

nada sentes, nada sentes, nada sentes

nem dor, nem piedade, nem vergonha

 

verão na casa sem número

a polícia chegou, atirou,

 

dez corpos adormecidos, o sangue corre pelo chão

 

nada sentes,

 

nem dor, nem piedade, nem vergonha, nem morte, nem vida,

 

e                           adormecido no chão

 

pegaste o trem na última estação do pesadelo noturno.

 

 

 

 

DANÇA

DAS

NÚPCIAS

 

(Danças dos Homens dos Oásis por Ocasião de Núpcias)

 

 

A ressonância que paira sobre as dunas:

eu a espero...

A mulher envolta no véu de seda,

em meio ao calor do dia.

 

Ser despedaçado

em meio às injúrias.

 

E ela dança e dança na noite de núpcias,

 

em passos de criança,

toda a sua existência,

tudo o que chorou neste mundo...

 

E ela dança e dança na noite de núpcias,

 

em passos de criança,

toda a sua exuberância,

todo o riso deste mundo...

 

A bomba que foi disparada

e que rompeu os ares,

atravessou-lhe a costa.

 

E ela dança e dança na noite de núpcias,

 

em passos de criança,

toda a sua estupidez,

tudo o que não viu neste mundo...

 

E na rua as bonecas manchadas de sangue

adormecem ante os olhares

 

daqueles que passam

maldizendo a sorte que tiveram.

 

Bela moça,

Pele branca,

Pele manchada de sangue...

 

Vamos para as núpcias

da loucura,

noiva esquartejada.


*Poema composto em 2002.



INTERLÚDIO - AURORA

              DOS

                      CÃES

 armado,

            o homem pensa que a rua é do senador.

 

não obedecido,

                       o rei faz um código.

 

mal amado,

                 o solitário pensa que todas as mulheres são prostitutas.

 

irado,

         o amigo escraviza seu inimigo.

 

 

vale de lésbicas,

                         asilo de insanos velhinhos,

 

paraíso em preto e branco de travestis coloridos...

 

                   tua arma, tua lei, tua ira, tua solidão

                   o que fizeram com teu mundo

 

 

astuto,

          o publicitário engana a todos.

 

o semeador virá no inverno

            e fará a colheita na tempestade. assim me foi dito.

 

semeará girassóis no inverno

 

           nos seios da prostituta.

 

e o cão apenas ouve o tocador de gaita sorrir.



MÚSICAS

   

MÚSICAS DO LIVRO-MÚSICA “ILUMINURAS - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue - (compostas, tocadas e gravadas em outubro de 1986).

  

Cd 1.

  

1. ABERTURA - O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte I) (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: Violões eletrificados (a base foi gravada em 1983).

  

2. Primeiro Ciclo - O Banquete do Cisne (Marco Alexandre Rosário).

Incluindo os seguintes poemas/músicas:

Recordações (Uma Pintura Para Uma Dança)/ A Cristaleira/ Hôrvalos Harpa/ A Dama Nascente na Queda da Lua Amarela/Imersão Plástica/ O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte II).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: órgão, piano, flautas, violão, violão eletrificado, bateria eletrônica e outros efeitos.

  

3. Segundo Ciclo – Danças Árabes no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue (Marco Alexandre Rosário).

Incluindo os seguintes poemas/músicas:

O Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue/Maria/ Relações Humanas Falidas/ Verão na Casa Sem Número/ Dança das Núpcias (Dança dos Homens dos Oásis por ocasião de Núpcias).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: violões eletrificados, órgão e efeitos sonoros (música folclórica árabe).

  

4. Interlúdio – Aurora dos Cães – Sons das Gaitas (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: gaitas.

 

 Cd 2.

 

1. Terceiro Ciclo – A Carruagem dos Mortos (Marco Alexandre Rosário).

Incluindo os seguintes poemas/músicas:

Santificados Infernos/ Encontro em uma Antiga Estação/ Velha Águia Sobre o Vale de Lágrimas/ Provérbios no Pensamento Empalhado do Espantalho/ Dois Homens no Caminho/ O Flautista de Hamlin/ O Enforcado/ O Breve Retorno (Um Epílogo para um Novo Prólogo).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: piano, cravo, órgão, violão eletrificado, xilofone, flauta, bateria eletrônica e efeitos sonoros.

  

Quarto Ciclo – A Confraria de Nossa Senhora.

2. Os Sinos – O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte III) (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: violão eletrificado e efeitos sonoros (Monastery Bells).

  

3. Interlúdio (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: piano.

  

4. Fontes (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: xilofone-teclado.

  

5. Os Sinos – As Harpas (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: harpa nordestina e efeitos sonoros (Monastery Bells).

  

6. Dança Latina (Marco Alexandre Rosário).

    Gravado em Belém, Pará.

    Instrumentos: órgão, bateria eletrônica e efeitos sonoros.

 

 

 

 


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